27.06.2009 - 00h09 PÚBLICO
Depois de, a semana passada, um grupo de 28 economistas terem defendido que se parasse para pensar nalguns grandes projectos de obras públicas, agora é a vez de cerca de 60 académicos proporem políticas económicas à esquerda das seguidas nos últimos anos.
Um ex-secretário de Estado num governo do PS, José Reis, e o líder do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, contam-se entre os subscritores.
É o seguinte o texto integral do documento que recolheu seis dezenas de assinaturas de académicos de várias formações:
"O debate deve ser centrado em prioridades: só com emprego se pode reconstruir a economia. Estamos a atravessar uma das mais severas crises económicas globais de sempre. Na sua origem está uma combinação letal de desigualdades, de especulação financeira, de mercados mal regulados e de escassa capacidade política. A contracção da procura é agora geral e o que parece racional para cada agente económico privado – como seja adiar investimentos porque o futuro é incerto, ou dificultar o acesso ao crédito, porque a confiança escasseia – tende a gerar um resultado global desastroso. É por isso imprescindível definir claramente as prioridades. Em Portugal, como aliás por toda a Europa e por todo o mundo, o combate ao desemprego tem de ser o objectivo central da política económica. Uma taxa de desemprego de 10% é o sinal de uma economia falhada, que custa a Portugal cerca de 21 mil milhões de euros por ano – a capacidade de produção que é desperdiçada, mais a despesa em custos de protecção social. Em cada ano, perde-se assim mais do que o total das despesas previstas para todas as grandes obras públicas nos próximos quinze anos. O desemprego é o problema. Esquecer esta dimensão é obscurecer o essencial e subestimar gravemente os riscos de uma crise social dramática.A crise global exige responsabilidade a todos os que intervêm na esfera pública. Assim, respondemos a esta ameaça de deflação e de depressão propondo um vigoroso estímulo contracíclico, coordenado à escala europeia e global, que só pode partir dos poderes públicos. Recusamos qualquer política de facilidade ou qualquer repetição dos erros anteriores. É necessária uma nova política económica e financeira.Nesse sentido, para além da intervenção reguladora no sistema financeiro, a estratégia pública mais eficaz assenta numa política orçamental que assuma o papel positivo da despesa e sobretudo do investimento, única forma de garantir que a procura é dinamizada e que os impactos sociais desfavoráveis da crise são minimizados. Os recursos públicos devem ser prioritariamente canalizados para projectos com impactos favoráveis no emprego, no ambiente e no reforço da coesão territorial e social: reabilitação do parque habitacional, expansão da utilização de energias renováveis, modernização da rede eléctrica, projectos de investimento em infra-estruturas de transporte úteis, com destaque para a rede ferroviária, investimentos na protecção social que combatam a pobreza e que promovam a melhoria dos serviços públicos essenciais como saúde, justiça e educação. Desta forma, os recursos públicos servirão não só para contrariar a quebra conjuntural da procura privada, mas também abrirão um caminho para o futuro: melhores infra-estruturas e capacidades humanas, um território mais coeso e competitivo, capaz de suportar iniciativas inovadoras na área da produção de bens transaccionáveis. Dizemo-lo com clareza porque sabemos que as dúvidas, pertinentes ou não, acerca de alguns grandes projectos podem ser instrumentalizadas para defender que o investimento público nunca é mais do que um fardo incomportável que irá recair sobre as gerações vindouras. Trata-se naturalmente de uma opinião contestável e que reflecte uma escolha político-ideológica que ganharia em ser assumida como tal, em vez de se apresentar como uma sobranceira visão definitiva, destinada a impor à sociedade uma noção unilateral e pretensamente científica. Ao contrário dos que pretendem limitar as opções, e em nome do direito ao debate e à expressão do contraditório, parece-nos claro que as economias não podem sair espontaneamente da crise sem causar devastação económica e sofrimento social evitáveis e um lastro negativo de destruição das capacidades humanas, por via do desemprego e da fragmentação social. Consideramos que é precisamente em nome das gerações vindouras que temos de exigir um esforço internacional para sair da crise e desenvolver uma política de pleno emprego. Uma economia e uma sociedade estagnadas não serão, certamente, fonte de oportunidades futuras.A pretexto dos desequilíbrios externos da economia portuguesa, dizem-nos que devemos esperar que a retoma venha de fora através de um aumento da procura dirigida às exportações. Propõe-se assim uma atitude passiva que corre o risco de se generalizar entre os governos, prolongando o colapso em curso das relações económicas internacionais, e mantendo em todo o caso a posição periférica da economia portuguesa. Ora, é preciso não esquecer que as exportações de uns são sempre importações de outros. Por isso, temos de pensar sobre os nossos problemas no quadro europeu e global onde nos inserimos. A competitividade futura da economia portuguesa depende também da adopção, pelo menos à escala europeia, de mecanismos de correcção dos desequilíbrios comerciais sistemáticos de que temos sido vítimas. Julgamos que não é possível neste momento enfrentar os problemas da economia portuguesa sem dar prioridade à resposta às dinâmicas recessivas de destruição de emprego. Esta intervenção, que passa pelo investimento público económica e socialmente útil, tem de se inscrever num movimento mais vasto de mudança das estruturas económicas que geraram a actual crise. Para isso, é indispensável uma nova abordagem da restrição orçamental europeia que seja contracíclica e que promova a convergência regional.O governo português deve então exigir uma resposta muito mais coordenada por parte da União Europeia e dar mostras de disponibilidade para participar no esforço colectivo. Isto vale tanto para as políticas destinadas a debelar a crise como para o esforço de regulação dos fluxos económicos que é imprescindível para que ela não se repita. Precisamos de mais Europa e menos passividade no combate à crise.Por isso, como cidadãos de diversas sensibilidades, apelamos à opinião pública para que seja exigente na escolha de respostas a esta recessão, para evitar que o sofrimento social se prolongue.
Um grupo de ilustres desconhecidos à procura de notoriedade...
ResponderEliminarSerá um grupo de gente que julgo bem intencionada. Mas o que mais parece é uma resma de licenciaturas nisto e naquilo. E o povo? Onde está a lista que alberga os homens e mulheres com o certificado das novas oportunidades numa mão e a outra a pedir emprego e comida? Que terão eles, esses milhões anónimos a dizer sobre o que se deve ou não adoptar em matéria de políticas? Tem de se lhes perguntar antes de tomar as decisões que afectam as suas vidas muitas vezes irremediavelmente.
ResponderEliminarÉ que democracia também funciona assim.
Se o documento dos 28 economistas de maioria PSD foi importante, este é ainda mais importante porque reune hamar ilustres desconhecidos a homens e mulheres com pravas dadas é um absurdo.
ResponderEliminarHá quem goste dizer mal só porque a maioria é de esquerda.
É pena que não já partido aqui deste BLOG uma corrente de opinão para defesa do Norte.
Nacional
ResponderEliminarEmídio Rangel: "Media são oposição a Sócrates"
Fundador da TSF e da SIC. Professor universitário
00h00m
HELENA TEIXEIRA DA SILVA
Amado por muitos, odiado talvez por mais, que a liberdade tem preço - e é alto. Emídio Rangel, 62 anos, diz ser uma espécie de homem maldito. Como os poetas: desobedece para vingar a moral.
Estourou mais uma polémica nas mãos de José Sócrates, com a PT a querer comprar 30% do grupo Prisa. O Governo tentou nacionalizar a TVI?
Claro que não. Estão a pretender misturar uma hipótese antiga com uma discussão actual sobre um negócio que não existiu. Querem intoxicar a opinião pública.
Refere-se à manchete do Expresso desta semana, que diz que o Governo conhecia o negócio desde Janeiro?
Exactamente. Isso é manipulação de informação. Quando se pretende ser sensacionalista e jogar a favor de outros objectivos, não custa nada fazer essa manchete.
Este negócio faz sentido do ponto de vista estritamente económico?
É indiscutível que para a PT tem toda a importância. Mas uma participação minoritária não daria direito a substituir o director-geral nem a alterar a linha editorial.
Mas depois de tudo o que Sócrates disse sobre a TVI, não terá sido, como tem sido dito, ingenuidade política não prever o impacto na opinião pública?
Sócrates não tem claramente a comunicação social do seu lado. É vergastado todos os dias. E estou de acordo com as críticas que ele fez ao Jornal Nacional de Manuela Moura Guedes. Qualquer jornalista com dois centímetros de massa cinzenta vê como aquilo é um atropelo ao jornalismo.
Isso faz de José Eduardo Moniz o verdadeiro líder da Oposição?
Não vou comparar a acção política dos líderes dos partidos com a acção do director-geral de uma estação ou a do director do Expresso. Mas há, de facto, oposição dos media em geral a Sócrates.
Em que momento é que ele os perdeu?
Quando hostilizou parte da Comunicação Social. Não o devia ter feito. Mas no caso da TVI, percebo aquela explosão: quem não se sente não é filho de boa gente.
1ª. parte
Pela primeira vez, uma sondagem (da Marktest para o Semanário Económico) deu vantagem ao PSD (35,8% contra 34,5%), cuja líder, escreveu, "não gosta de comícios nem de debates nem de política". Mas os portugueses começam a gostar dela, ou não?
ResponderEliminarMas ela ainda não disse nada. Sabemos que tem ideias liberais, que quer privatizar o ensino e a saúde, o que que seria trágico. E que fala do TGV e do aeroporto, como se isso não fosse importantíssimo para desenvolver um país periférico. Mas ela - que já esteve no Governo, não fez uma única reforma e deixou um défice elevadíssimo - é agora exaltada na comunicação social como se tivesse qualidades extraordinárias. Enfim.
É naturalmente defensor de José Sócrates, tanto mais que são amigos. Por que razão decidiu deixar de lhe falar?
Não foi bem isso; não temos relações desde que ele é primeiro-ministro. Quem tem a posição que eu tenho, é muito livre. Tenho sempre a minha posição - quando defendo Sócrates e quando ataco o governo. Não tenho telhados de vidro, francamente!
É por causa dessa sua liberdade que foi banido da SIC e saneado na RTP?
Esta liberdade tem mesmo um preço - e é elevado. Sou uma espécie de homem maldito.
Há uma série de frases a que estará sempre associado. Uma delas...
[Risos] ...É a do presidente...
Tal e qual: "É tão fácil vender um presidente como um sabonete"...
A frase foi desvirtuada, mas estou conformado com a ideia de que vou viver com isso até à morte.
Substituo o verbo: trocaria, de facto, o actual presidente da República?
Não. Teve sempre a minha atenção e o meu total respeito.
Isso vale também para as mais recentes intervenções dele?
Confesso que não. Não faz sentido que ele seja um protagonista político do dia-a-dia.
Ter-se-á Cavaco Silva entusiasmado com a ideia de Manuela Ferreira Leite poder ser primeira-ministra?
Ela é um produto de Cavaco, foi ele que implorou para que ela assumisse o PSD. Não sei se é por isso que está tão interessado em intervir em matérias político-partidárias quando devia ser neutro.
QUANDO UM JORNALISTA NÃO TEM MEDO FALA COM ABERTURA DE ESPIRITO
Se o documento dos 28 economistas de maioria PSD foi importante, este é ainda mais importante porque reune homens e mulheres com pravas dadas. Chamar-lhes ilustes desconhecidos é um absurdo.
ResponderEliminarHá quem goste dizer mal só porque a maioria é de esquerda.
É pena que não tenho já partido aqui deste BLOG uma corrente de opinão para defesa do Norte.
Era bom que lessem os nomes e depois falassem.
A Comunicação social está toda a ficar manipulada. Só não vê quem não quer.
Não é por acaso que o Público só fala em José Reis e Francisco Louçã.
A CS e alguns comentadores de serviço ficaram loucos com os resultados de dia 7.
Nem falam quando lhe retiram 10% do vencimento como aconteceu no Público.
Até há 3 semanas MFL e PSD estavam perdidos, sem rumo e sem leme como diziam alguns dirigentes do PPD.De repente tudo mudou.
E o que é triste é ver gente de esquerda comprar esta demagogia e este populismo saloio
É verdade. Isto paga-se caro como está acontecer.
ResponderEliminarDos 27 Paises da UE 19 são direita e extrema direita. Neoliberais e conservadores.
Quem não vê isto...
Isto acontece porque alguns líderes europeus ditos socialistas, como Blair, Shroeder no governo com Merkel, e outros trairam o ideário socialista. Embedaram-se com o neoliberalismo e com o mercado que resolvia tudo. Agora que falharam pedem aos Estados que resolvam o problema com os nossos impostos.
ResponderEliminarE já começam de novo a falar abertamento ara Estado Mínimo e privatização da Educação e da Saúde. Voltamos ao mesmo?
E ninguém se insurge contra este descaramento?