Preto e branco
(JN)Os últimos dados evidenciam um bom desempenho das nossas exportações. Uma boa notícia por ser esse um factor crítico para superarmos a actual situação. Os empresários e gestores com quem se fala confirmam as expectativas. Nas queixas, há sempre queixas, a mais surpreendente, por generalizada, é o lamento quanto à dificuldade em encontrar trabalhadores disponíveis.
O sector do calçado anunciou estarem em risco encomendas que estimam em 2 milhões de pares de sapatos. As empresas estão a trabalhar o máximo de horas legais, nalguns casos negociaram a mudança das férias mas, mesmo assim, temem não conseguir respeitar prazos. No caso do calçado, uma parte dos ganhos de quota relativamente a rivais como a Itália e a Espanha resultaram da capacidade de cumprir, exemplarmente, com prazos e requisitos de qualidade. Uma reputação que demorou anos a construir e que agora está em causa. Os empresários terão tido mais olhos que barriga, aceitando encomendas a mais? Quando todos os dias há notícias sobre o desemprego e a pobreza, é razoável admitir que a limitação não viria da falta de trabalhadores. Afinal, parece que será esse o travão, somado a uma taxa de absentismo que ronda os 10%. Dir-se-á que a explicação estará nos baixos salários. É verdade. Por isso, o subsídio de desemprego ou o que se ganha quando se está de baixa e não se tem de gastar dinheiro, e tempo, em transportes são alternativas atractivas e compensadoras, numa perspectiva estritamente individual. A questão que se põe é se socialmente o Estado (social) deve ignorar esta contradição.
Os salários deviam ser mais elevados. Quanto? Não, certamente, ao ponto de as empresas perderem dinheiro. Podemos sonhar com um país moderno, com funções sofisticadas e bem remuneradas. A verdade é que não o somos, nem seremos nos tempos mais próximos. Ultimamente, tem-se acusado os empresários por isso: as suas baixas qualificações não os conduzem à inovação. Imagine, por um momento, que consegue substitui-los, a todos, já não digo pelos colunistas, economistas, sindicalistas e políticos que têm dado expressão a esta crítica. Não peço tanto! Apenas que todos fossem empresários como Belmiro de Azevedo. Acha que a situação seria muito melhor? Não se podem fazer omeletas sem ovos e, a verdade, é que a qualificação de muitos dos trabalhadores e, em particular, dos desempregados, não os habilita a muito mais do que aquilo que agora é oferecido. É essa a triste realidade.
Costuma dizer-se que o trabalho é, em si, um bem, um factor de inserção social e de auto-estima. O desemprego seria, por isso, um factor de desestruturação da sociedade. Na prática, a teoria parece ser outra. Mas talvez a prática pudesse, ela própria, ser outra se o absentismo fosse mais controlado ou se o desempregado que aceita emprego fosse bonificado, durante o período que duraria o subsídio, nos descontos para a Segurança Social ou em sede de IRS ou pudesse acumular o salário com uma parte do subsídio. Quanto aos empresários, vão fazendo o que podem e sabem. E, quando criam emprego e contribuem para aumentar as exportações, já não é mau. O Mundo não é a preto e branco.
(JN)Os últimos dados evidenciam um bom desempenho das nossas exportações. Uma boa notícia por ser esse um factor crítico para superarmos a actual situação. Os empresários e gestores com quem se fala confirmam as expectativas. Nas queixas, há sempre queixas, a mais surpreendente, por generalizada, é o lamento quanto à dificuldade em encontrar trabalhadores disponíveis.
O sector do calçado anunciou estarem em risco encomendas que estimam em 2 milhões de pares de sapatos. As empresas estão a trabalhar o máximo de horas legais, nalguns casos negociaram a mudança das férias mas, mesmo assim, temem não conseguir respeitar prazos. No caso do calçado, uma parte dos ganhos de quota relativamente a rivais como a Itália e a Espanha resultaram da capacidade de cumprir, exemplarmente, com prazos e requisitos de qualidade. Uma reputação que demorou anos a construir e que agora está em causa. Os empresários terão tido mais olhos que barriga, aceitando encomendas a mais? Quando todos os dias há notícias sobre o desemprego e a pobreza, é razoável admitir que a limitação não viria da falta de trabalhadores. Afinal, parece que será esse o travão, somado a uma taxa de absentismo que ronda os 10%. Dir-se-á que a explicação estará nos baixos salários. É verdade. Por isso, o subsídio de desemprego ou o que se ganha quando se está de baixa e não se tem de gastar dinheiro, e tempo, em transportes são alternativas atractivas e compensadoras, numa perspectiva estritamente individual. A questão que se põe é se socialmente o Estado (social) deve ignorar esta contradição.
Os salários deviam ser mais elevados. Quanto? Não, certamente, ao ponto de as empresas perderem dinheiro. Podemos sonhar com um país moderno, com funções sofisticadas e bem remuneradas. A verdade é que não o somos, nem seremos nos tempos mais próximos. Ultimamente, tem-se acusado os empresários por isso: as suas baixas qualificações não os conduzem à inovação. Imagine, por um momento, que consegue substitui-los, a todos, já não digo pelos colunistas, economistas, sindicalistas e políticos que têm dado expressão a esta crítica. Não peço tanto! Apenas que todos fossem empresários como Belmiro de Azevedo. Acha que a situação seria muito melhor? Não se podem fazer omeletas sem ovos e, a verdade, é que a qualificação de muitos dos trabalhadores e, em particular, dos desempregados, não os habilita a muito mais do que aquilo que agora é oferecido. É essa a triste realidade.
Costuma dizer-se que o trabalho é, em si, um bem, um factor de inserção social e de auto-estima. O desemprego seria, por isso, um factor de desestruturação da sociedade. Na prática, a teoria parece ser outra. Mas talvez a prática pudesse, ela própria, ser outra se o absentismo fosse mais controlado ou se o desempregado que aceita emprego fosse bonificado, durante o período que duraria o subsídio, nos descontos para a Segurança Social ou em sede de IRS ou pudesse acumular o salário com uma parte do subsídio. Quanto aos empresários, vão fazendo o que podem e sabem. E, quando criam emprego e contribuem para aumentar as exportações, já não é mau. O Mundo não é a preto e branco.
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