sábado, 10 de julho de 2010

Não há nada para ninguém...
(JN) HOJE Subitamente, os organizadores da Red Bull Air Race anunciaram o cancelamento da etapa portuguesa da competição, alegando não haver tempo para preparar o evento, devido aos atrasos na finalização do acordo com as entidades portuguesas. Ora, essa explicação não colhe. É uma desculpa de mau pagador, de uma entidade que tem sido useira e vezeira em iludir a realidade, que chegou a justificar a transferência da prova para Lisboa invocando que o novo perfil dos aviões não se adequava ao percurso no rio Douro, um argumento mentiroso e pouco elaborado que foi esquecido logo que as câmaras de Lisboa, Porto e Gaia, e o Turismo de Portugal, combinaram a alternância da prova que, por isso, deveria voltar a ser realizada, este ano, nesse tal percurso perigoso…
Toda esta encenação tem, como pano de fundo, a questão financeira. Ao que se sabe, os organizadores tinham obtido, a troco da transferência para o Tejo, a garantia de uma receita de 3,5 milhões de euros, assegurada pelas Câmaras de Lisboa e Oeiras, e pelo Turismo de Lisboa, ao passo que, a Norte, apenas tinham garantidos 1 milhão de euros, repartidos pelas autarquias de Porto e Gaia e pelo Turismo do Norte. Ora, na medida em que os patrocinadores habituais, como a TMN e a Seat, se mostraram indisponíveis para continuar a financiar o evento, os organizadores não conseguiram o montante com que contavam e, não tendo conseguido as contrapartidas adicionais das autarquias nortenhas e do Turismo de Portugal, optaram por anunciar a ruptura, quem sabe se na esperança vã de que os pacóvios portugueses se apressassem a fazer concessões de última hora para inverter essa decisão. Ou seja, os organizadores austríacos esticaram a corda e fracassaram na sua chantagem negocial sobre as entidades portuguesas envolvidas. Aliás, o Turismo de Portugal denuncia a "falta de fiabilidade do promotor" e garante que as "autarquias envolvidas cumpriram escrupulosamente com todas as suas obrigações", o que coincide com o teor do comunicado da Câmara Municipal do Porto.
A verdade é que o evento teve, nas suas duas edições, um impacto assinalável, trazendo multidões de visitantes à cidade e projectando imagens de Porto e Gaia que foram vistas em todo o Mundo. Mas, na medida em que a prova não desperta interesse competitivo - já que na sua esmagadora maioria as pessoas que acompanham as piruetas dos aviões não têm a percepção de qual é o piloto mais rápido nem estão interessadas em conhecer o vencedor -, o retorno marginal e a capacidade de atracção do evento seria menor a cada nova edição.
Resta, por isso, aproveitar os recursos que foram mobilizados, e desviá-los para atrair eventos que atraiam turistas, exigindo ao Turismo de Portugal que atenue a discriminação relativamente a Lisboa. Não se entende, por exemplo, que o Concurso Internacional de Saltos do Porto, a prova de hipismo que vai na sua sétima edição e tem grande impacto mediático e turístico, conte com apenas 50 mil euros de patrocínio do Turismo de Portugal, que atribui quase 1 milhão de euros ao CSI Estoril…
Quanto ao eventual regresso dos aviões, que os organizadores admitem, espero que o Turismo de Portugal lhes feche a porta, seja no Porto ou em Lisboa. E apelo por esta via aos autóctones, que chegaram a admitir boicotar os patrocinadores nacionais quando a prova fugiu para Lisboa, para fazer um saudável boicote a essa bebida horrorosa e rançosa, e esperar que as autarquias proponham outras alternativas que animem as nossas cidades

1 comentário:

Rui Farinas disse...

Eu pergunto porque razão deverá qualquer organização comercial (Red Bull ou qualquer outra) funcionar como instituição de benemerência e "vender" o seu produto por um preço que não lhe interesse.