O dia em que Portugal se tornou na nova "presa dos mercados"
Por Sérgio Aníbal e Rosa Soares (Público) 5.2.2010
Os investidores olham para Portugal e vêem cada vez mais uma "nova Grécia". Os custos de financiamento no estrangeiro estão a subir
A crise orçamental, os sinais de instabilidade política e a colagem à Grécia feita por Bruxelas transformaram ontem Portugal no principal alvo dos mercados financeiros internacionais. A taxa de juro que os investidores exigem para financiarem o Estado português disparou e a Bolsa de Lisboa, preocupada com o futuro da economia nacional, registou a maior queda desde a falência do Lehman Brothers, em Setembro de 2008.
A pressão sobre Portugal foi de tal forma que, a meio do dia, o ministro das Finanças já afirmava que, depois da Grécia, "a presa dos mercados agora somos nós". "A Grécia parece ter-se desembaraçado e agora viraram-se para outra presa. Viraram-se para nós", disse Teixeira dos Santos.
O tom dramático do ministro não é para menos. No dia a seguir a Joaquín Almunia, comissário europeu para os Assuntos Económicos e Financeiros, ter dito que a Grécia, Portugal e a Espanha têm muitos problemas semelhantes, os investidores internacionais transferiram a sua desconfiança em relação à Grécia (que tem nos últimos meses sido fortemente penalizada) para a Península Ibérica.
No caso português, e apenas durante dia de ontem, a taxa de juro a que os investidores aceitam emprestar dinheiro ao Estado português (através da compra de Obrigações do Tesouro a 10 anos) subiu 0,3 pontos percentuais, o suficiente para agravar a factura anual com juros em cerca de 60 milhões de euros. O diferencial da taxas das obrigações portuguesas face à média europeia disparou para os 171 pontos percentuais, quase o triplo do que se registava no início deste ano.
E não se pense que esta subida das taxas é apenas um problema para as contas do Estado. O efeito, mais tarde ou mais cedo, também se faz sentir junto das empresas e dos particulares. É que os bancos também vão sofrer um agravamento das taxas de juro a que se financiam no estrangeiro, algo que vão reflectir nos empréstimos que concedem à economia.
O receio agora é que esta tendência se aprofunde e que Portugal se aproxime cada vez mais do nível de taxas de juro que é exigido à Grécia, um cenário que ontem era considerado como provável entre a generalidade dos analistas.
Do lado do Governo, sentiu-se a preocupação de tentar acalmar os mercados. O ministro das Finanças garantiu, numa reacção à comunicação social, que Portugal iria cumprir o objectivo de reduzir o défice para um valor inferior a três por cento até ao final de 2013. No entanto, o Programa de Estabilidade e Crescimento - o documento onde a estratégia é explicada - ainda não foi apresentado. O ministro da Presidência, Pedro da Silva Pereira, apostou por criticar as declarações de Almunia, classificando-as de "enganadoras".
Na Bolsa de Lisboa, as preocupações com os efeitos desta crise para os bancos e as empresas portuguesas cotadas foi também evidente. O índice PSI-20 perdeu ontem 4,98 por cento, acompanhando a Espanha, que deslizou 5,94 por cento, e a Grécia, que perdeu 3,89 por cento. Em quinze dias, a bolsa portuguesa perdeu mais de 12 por cento, metade dos quais nas duas últimas sessões.
E a instabilidade política gerada a propósito da aprovação da lei das finanças regionais também não ajudou, como admitiu o analista Christoph Rieger, do Commerzbank.
Muito na recta final da sessão da bolsa portuguesa, o PSI 20 conseguiu minimizar as quedas. Alguns operadores dizem que foram as garantias dadas pelo ministro das Finanças, mas outros assinalam que o mercado encerrou com forte pressão vendedora, sem sinais de inversão.
O presidente da Euronext Lisboa, Athayde Marques, diz que as quedas dos últimos dias "são anormais e exageradas", motivadas pelo efeito de associação à situação grega, e afirma que "a confiança vai regressar aos mercados".
A pressão vendedora foi maior no sector da banca e nas construtoras, sectores que sofrem mais com um cenário de subida dos custos do financiamento internacional e com a deterioração das contas públicas.
Por Sérgio Aníbal e Rosa Soares (Público) 5.2.2010
Os investidores olham para Portugal e vêem cada vez mais uma "nova Grécia". Os custos de financiamento no estrangeiro estão a subir
A crise orçamental, os sinais de instabilidade política e a colagem à Grécia feita por Bruxelas transformaram ontem Portugal no principal alvo dos mercados financeiros internacionais. A taxa de juro que os investidores exigem para financiarem o Estado português disparou e a Bolsa de Lisboa, preocupada com o futuro da economia nacional, registou a maior queda desde a falência do Lehman Brothers, em Setembro de 2008.
A pressão sobre Portugal foi de tal forma que, a meio do dia, o ministro das Finanças já afirmava que, depois da Grécia, "a presa dos mercados agora somos nós". "A Grécia parece ter-se desembaraçado e agora viraram-se para outra presa. Viraram-se para nós", disse Teixeira dos Santos.
O tom dramático do ministro não é para menos. No dia a seguir a Joaquín Almunia, comissário europeu para os Assuntos Económicos e Financeiros, ter dito que a Grécia, Portugal e a Espanha têm muitos problemas semelhantes, os investidores internacionais transferiram a sua desconfiança em relação à Grécia (que tem nos últimos meses sido fortemente penalizada) para a Península Ibérica.
No caso português, e apenas durante dia de ontem, a taxa de juro a que os investidores aceitam emprestar dinheiro ao Estado português (através da compra de Obrigações do Tesouro a 10 anos) subiu 0,3 pontos percentuais, o suficiente para agravar a factura anual com juros em cerca de 60 milhões de euros. O diferencial da taxas das obrigações portuguesas face à média europeia disparou para os 171 pontos percentuais, quase o triplo do que se registava no início deste ano.
E não se pense que esta subida das taxas é apenas um problema para as contas do Estado. O efeito, mais tarde ou mais cedo, também se faz sentir junto das empresas e dos particulares. É que os bancos também vão sofrer um agravamento das taxas de juro a que se financiam no estrangeiro, algo que vão reflectir nos empréstimos que concedem à economia.
O receio agora é que esta tendência se aprofunde e que Portugal se aproxime cada vez mais do nível de taxas de juro que é exigido à Grécia, um cenário que ontem era considerado como provável entre a generalidade dos analistas.
Do lado do Governo, sentiu-se a preocupação de tentar acalmar os mercados. O ministro das Finanças garantiu, numa reacção à comunicação social, que Portugal iria cumprir o objectivo de reduzir o défice para um valor inferior a três por cento até ao final de 2013. No entanto, o Programa de Estabilidade e Crescimento - o documento onde a estratégia é explicada - ainda não foi apresentado. O ministro da Presidência, Pedro da Silva Pereira, apostou por criticar as declarações de Almunia, classificando-as de "enganadoras".
Na Bolsa de Lisboa, as preocupações com os efeitos desta crise para os bancos e as empresas portuguesas cotadas foi também evidente. O índice PSI-20 perdeu ontem 4,98 por cento, acompanhando a Espanha, que deslizou 5,94 por cento, e a Grécia, que perdeu 3,89 por cento. Em quinze dias, a bolsa portuguesa perdeu mais de 12 por cento, metade dos quais nas duas últimas sessões.
E a instabilidade política gerada a propósito da aprovação da lei das finanças regionais também não ajudou, como admitiu o analista Christoph Rieger, do Commerzbank.
Muito na recta final da sessão da bolsa portuguesa, o PSI 20 conseguiu minimizar as quedas. Alguns operadores dizem que foram as garantias dadas pelo ministro das Finanças, mas outros assinalam que o mercado encerrou com forte pressão vendedora, sem sinais de inversão.
O presidente da Euronext Lisboa, Athayde Marques, diz que as quedas dos últimos dias "são anormais e exageradas", motivadas pelo efeito de associação à situação grega, e afirma que "a confiança vai regressar aos mercados".
A pressão vendedora foi maior no sector da banca e nas construtoras, sectores que sofrem mais com um cenário de subida dos custos do financiamento internacional e com a deterioração das contas públicas.
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