sábado, 15 de maio de 2010

(Púbico) Aníbal Rodrigues
O vereador Narciso Miranda diz que destruir bancada norte para abrir uma avenida com viaduto sobre a A28 é como amputar algo de sagrado e que diz muito aos leixonenses
O enquadramento urbanístico do Estádio do Mar não condiz com o estatuto de casa-mãe do maior clube de Matosinhos, o Leixões. A Câmara de Matosinhos, que é também a principal accionista da Sociedade Anónima Desportiva (SAD) do Leixões, tem noção disso e prepara-se para "dar mais dignidade" ao estádio. Nuno Oliveira, vice-presidente da câmara, assegura que a bancada norte - que em breve será expropriada e destruída para a construção de uma avenida com viaduto sobre a A28 - será reposta. "Se não for só a câmara a construí-la será a câmara mais o Leixões. O Leixões não pode ficar amputado de uma bancada. A ideia é que tenha as actuais três e, no futuro, quatro", perspectiva Nuno Oliveira. "A ideia é avançar com a modernização do estádio e é provável que se faça a bancada sul", acrescenta.
Com um estádio moderno, uma avenida sobre a A28, o surgimento de um hotel com 24 andares, e de uma escola a edificar pela autarquia, Nuno Oliveira antevê uma perspectiva mais digna em termos urbanísticos. "O estádio agora é quase um gueto e estes investimentos vão desencravá-lo." Como na construção do viaduto e do hotel, o Leixões perde três campos utilizados por camadas jovens, o autarca garante que isso será colmatado com a transferência dos leixonenses mais jovens para o Campo de Santana e para a pedreira de S. Gens. Mais a pedreira de Esposade, caso seja necessário.
Dois dos actuais campos utilizados pelas camadas jovens pertenciam à Câmara de Matosinhos que permutou o respectivo terreno com o privado que comprara o estacionamento do clube. É no espaço desses dois campos que será construído o futuro hotel de 24 andares. O terceiro campo utilizado pelo Leixões é propriedade privada e desaparece para dar lugar à avenida com viaduto sobre a A28.
Nuno Oliveira reagiu assim a declarações ao PÚBLICO do vereador Narciso Miranda, que lamenta a expropriação da bancada norte do estádio. "O Estádio do Mar foi construído com sangue, suor e lágrimas de gente humilde. Tem um valor simbólico incalculável. Cortar a bancada norte é como partir uma peça que tem qualquer coisa de sagrado, que tem um valor incalculável para os matosinhenses", sublinha o também antigo presidente da Câmara de Matosinhos.
Narciso Miranda pergunta ainda: "Será que a grande urgência da construção deste viaduto é para viabilizar o tal prédio [hotel] que dizem que vai ser construído onde estão neste momento os campos de futebol das camadas jovens e que alguns já chamaram "pirolito", "isqueiro" e "projecto megalómano"?" Nuno Oliveira contrapõe que "o hotel pode perfeitamente avançar sem o viaduto [a construir pela Estradas de Portugal no âmbito do alargamento da A28], apenas com as vias existentes". E acrescenta: "Quem nos dera que avance, é mais investimento em Matosinhos."
Por seu turno, o presidente da Câmara de Matosinhos, Guilherme Pinto, que ontem se encontrava a viajar de automóvel entre Berlim e Matosinhos, explicou por que é que a bancada norte vai ser expropriada. "É exactamente para não haver suspeitas que a câmara e o Leixões combinaram a expropriação. Para que seja transparente e para que os narcisos não digam o contrário. O tribunal é que vai dizer o valor a pagar."

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