quinta-feira, 4 de março de 2010

Dias Gomes
Directores de jornais mentem
Sou jornalista há 38 anos e sou possuidor do título profissional n.º 529. Principiei no Jornal de Notícias e fui dois anos “exilado” para o Primeiro de Janeiro. Posteriormente, voltei ao JN.
No JN atingi uma posição de hierarquia que exerci com dedicação e empenho. Sempre fui avaliado com notas de bom, muito bom. Até que surgiu a actual direcção, que quando entrou, não se sabe bem como nem como e com que fins. O que se sabe é que todos os jornalistas mais antigos foram para a prateleira sem qualquer tipo de explicações. O background profissional não interessou para nada e um subdirector entrou mesmo sem carteira profissional, à revelia do condigo deontológico dos jornalistas e do SJ que aceitou a ilegalidade surpreendentemente e passivamente. Mais tarde por meios pouco éticos, “arranjou”, por baixo da mesa, a carteira profissional.
Isto vem a propósito das audiências que se estão a efectuar na AR sobre se há ou não censura e que se estão a tornar fastidiosas por culpa dos deputados e dos directores de jornais e jornalistas. Os primeiros porque não sabem formular perguntas, antes optando por catadupas delas que se perdem e não interessam a ninguém e os segundos porque mentem descaradamente.
Da maneira como estão a ser conduzidos os trabalhos pelo senhor deputado do PSD Marques Guedes aposto que ninguém vai ser esclarecido, ainda que o deputado social-democrata seja a pessoa mais esclarecida.
Por exemplo, no que diz respeito à audição do director do JN, o seu papel foi deprimente. Como é que se presta aquela posição, sabendo que está a mentir descarada e atrapalhadamente? É que eu desminto-o categoricamente e digo àquele senhor que houve, enquanto lá trabalhei, até 2004, censura e penalizações. E porque digo eu isso? Porque fui uma das vítimas. Sim, eu e muitas mais. Quando ele diz que desde que entrou no JN não se lembra de um acto censório eu rio-me! A quem é que pensa que está a enganar? Mas eu avivo-lhe a memória. Censura e auto-censura por medo de represálias! Desminto-o, até porque fui roubado de um prémio de desempenho. Fui classificado com uma nota de bom pelo meu editor e esse senhor, posteriormente, tirou-me o prémio a que um ano insano de trabalho me deu direito.
E porquê? Eu conto. Fui designado pelo editor respectivo para cobrir um fórum na câmara de Valongo. No final, em amena cavaqueira com o presidente Fernando Melo, dirigi-me, informal e educadamente, a Marco António Costa e disse-lhe qualquer coisa sobre política que ele discordou visivelmente incomodado. De imediato lhe pedi desculpa pois não era minha intenção melindrá-lo.
Mal cheguei ao jornal o meu editor disse-me logo que eu iria ter problemas só por discordar do “senhor” Marco António Costa que entretanto já tinha telefonado para o director a queixar-se da minha interpelação aquele social democrata. Resultado: o meu texto nunca mais saiu e eu não recebi nesse ano o prémio que rondava os 1900 euros.
Aí está senhores leitores como os directores falam verdade nas audições da AR!!!
Por aqui os portugueses podem aquilatar da validade destas comissões de inquérito que se formatam por nada e para nada.
É preciso criminalizar a censura e todos os actos que coarctem a liberdade e autonomia dos jornalistas! Com censura aberta ou velada não há democracia! Sem médios com jornalistas totalmente livres, autónomos, soberanos e responsáveis, a república torna-se uma plutocracia! É preciso proibir a precariadade laboral nos médios, criminalizar a censura bem como as pressões que venham a ser definidas por lei como ilegítimas! Os médios são um serviço público à República. Os proprietários têm de ser submetidos à democracia política. Nós próprios testemunhamos este tipo de práticas, porque já passámos, enquanto cronista, por casos bem mais graves, na colaboração com jornais, que narraremos quando entendermos e se o entendermos (P.B.)

4 comentários:

terramar e ar disse...

quem são as CI da AR para sejulgarem juizes em causa própria?

Sim que as comissões de inquérito nada mais são do que çpoliticos a quererm fazer juizos de valor sobre outros politicos e similares... Aos tribunais o que é dos tribunais, aos jornais o que é dos jornais e à politica o que é dapolitica..senhors das CI deixem de desbaratar o dinheiro dos contribuintes nas vossas reuniões balofas e desinteressantes...

AM disse...

Digam os "neo-liberais" ou "neo-cons" o que disserem o problema da independência, rigor e qualidade por parte da Comunicação Social e, no caso em apreço, da Informação só se resolve com a regulação forte por parte de Estado.

Essa regulação, em meu entender, pode e deve ser eficazmente assegurada pela manutenção de "canais" de referência na posse do Estado mas com gestão o mais independente possível do poder político do momento, ou seja a gestão/direcção desses órgãos deve ter uma independência similar à do poder judicial e deverão estabelecer os padrões de Qualidade quer no que respeita a informação, quer no que respeita a "formação" quer no que respeite a "entretenimento" que permita aos cidadãos só serem obrigados a comer a "merda" que lhes é servida pelos privados (balsemões, oliveiras, paes do amaral e quejandos) por livre opção dado haver a opção de "qualidade" (seja esta o que for) disponibilizada pelo Estado (para que não venha já por aí o Pedro Aroso aos tiros ao PREC, é obvio que o que estou aqui a falar é do modelo BBC e não do modelo Pravda).

Mas enquanto deixarmos uns insistirem na falácia da CS "independente" do Estado (leia-se poder político do momento) mas dependente do poder económico (a tal mãozinha invisível) e os outros a continuarem a usar os meios do Estado (NOSSOS) como se fossem deles só porque ganharam as últimas eleiçõeszitas, nunca esta choldra vai ao sítio.

Mas é assim que uns e outros querem e nós todos deixamos.

Tudo o que acima disse relativo à CS se aplica na íntegra e nos mesmos moldes à Banca, às Telecomunicações, à Energia, etc.

É para isso também (e principalmente) que serve o Estado, para garantir que é a economia que serve de ferramenta â política e nunca o contrário.

Abraços
António Moreira

Pedro Aroso disse...

Caro António Moreira

Adorei o seu post. Eu também já tive uma visão utópica do mundo, mas na altura tinha 19 anos.

AM disse...

Caro Pedro Aroso

Como vê a minha "näiveté" que tão brilhantemente conseguiu desmascarar há dias, noutro comentário, é muito mais que assumida :)

Claro que ainda sou muito parecido com o que era aos 19 anos e, se por fora, se vai notando aqui e ali que já passaram outros 35, já por dentro, a chama, os ideais e a vontade são os mesmos.

Não me tornei um cínico, não me resignei nem vendi os meus ideais.

De facto até pago e bem caro por os manter.

Vou, com a ajuda da minha mulher, semeando essa utupia e essa "näiveté" na minha filha.

Se um dia ela me culpar por não a ter preparado para combater um mundo canalha, com as armas da canalhice, significará que (também aí) falhei.

Paciência

Um abraço
António Moreira




(hoje estou com a veia :))