quinta-feira, 11 de março de 2010

LÚCIO DOS SANTOS
O pensamento filosófico e a personalidade de Lúcio Pinheiro dos Santos (1889-1950) é das mais curiosas, interessantes, mas também enigmáticas, de todo o panorama intelectual da primeira metade do Século XX em Portugal. Natural de Braga, dirigente da greve académica de 1907, com formação de base em matemática pela politécnica de Lisboa, amigo de Camilo Pessanha, viajante intelectual por Mons e Paris, frequentando os cursos de Bergson das sextas no "Colégio de França" por volta de 1912 e 13, ao mesmo tempo que Gaston Bachelard, combatente em Lisboa contra a ditadura de Pimenta de Castro de 1915, Professor no Liceu Gil Vicente, na capital, onde conheceu Leonardo Coimbra com quem desenvolveu grande cumplicidade no desenvolvimento filosófico das bases do pensamento criacionista, colaborador então da "Atlântida" em temas literários, filosóficos e pedagógicos, exilado do sidonismo para o Brasil no findar de 1917, chamado por Leonardo enquanto ministro, em 1919, para conjuntamente com Newton de Macedo reformar todo o ensino superior da filosofia, num projecto de modernização e europeização radical do ensino da filosofia fossilizado nos resquícios da defunta Faculdade de Teologia, o bracarense Lúcio Alberto Pinheiro dos Santos, acaba por ingressar, com Newton, nos quadros da novel Faculdade de Letras da Universidade do Porto, em 1919, mas, ao contrário do seu companheiro, nunca exerceu efectivamente o lugar, tendo sido deputado por duas vezes ao Congresso, acabando, pela segunda vez, por seguir para a Índia em Comissão de Serviço no âmbito da Instrução.
A seguir ao 28 de Maio de 1926, entrou de imediato em ruptura com a Ditadura e, tendo regressado à Faculdade de Letras da Universidade do Porto, após a revolução portuense derrotada de 3 de Fevereiro de 1927, exilou-se de novo no Brasil. É por esta altura, a partir dos anos 30 que, através de Gaston Bachelard e das últimas 23 páginas da sua "Dialectique de La Durée"(1936) que temos conhecimento da "edição" dos seus escritos, em vários tomos, que poderão significar apenas vários cadernos, intitulados "a Ritmanálise" com a chancela da "Sociedade de Psicologia e Filosofia", Rio de Janeiro (1931).
No entanto, até ao momento, o texto do filósofo ainda não foi encontrado o que tem levado alguns a apodá-lo de filósofo-fantasma.
Tanto a sua Ritmanálise que, sabemos pelas nossas mais recentes investigações, vai aplicar a diversos campos do conhecimento e não apenas aos referidos pelo epistemólogo francês, como o resto da sua vida plena de activismo intelectual, cívico e político, são um buraco negro no nosso conhecimento do pensamento português, que alguns publicistas e investigadores têm vindo a levemente alumiar, desde Sant'Anna Dionísio em 1950, passando por Joaquim Domingues a partir de 2000 com trabalhos em Portugal e em França, nós próprios, a partir dos estudos sobre Newton de Macedo em 2006 e, mais recentemente, com grande fecundidade, desde 2008, por Rodrigo Sobral Cunha.
Também as nossas mais recentes investigações, com a descoberta de publicações até agora inéditas, preenchem parte da actividade intelectual e cívica de LPS desde 1931 até á sua morte em 1950, fornecendo indicadores de que estamos longe de terem chegado ao fim da linha investigatória.
É, todavia, o momento de preparar o conhecimento público dos novos documentos, elaborar uma sistemática da documentação existente e fazer o ponto da situação dos trabalhos e das diversas perspectivas que se colocam para o seu desenvolvimento filosófico e histórico.
É o que será feito na Faculdadede Letras do Porto, a partir de hoje e durante o mês de Março. (P.B.)

3 comentários:

RENATOGOMESPEREIRA disse...

pena que não,possa lá estar...

Não poderá o PB ..colocar alguns links para pdfs sobre a matéria?
a palavra RITMANáLISE é poderosa e sumarenta...

Pedro Baptista disse...

Vou ver o que poderei fazer. Sou muito limitado nas novas tecnologias.

Pedro Baptista disse...

De qualquer maneira, em Maio terei cá fora um livro sobre o tema.