Se quisessem ir ao cerne da questão, o que está em causa é uma doutrina, como tantas outras, com origem no mesmo "Livro", de onde se fez derivar a repressão sexual e práticas doentias como a castidade, a pecaminização da sexualidade, o absurdo do celibato dos padres (e dos frades e das freiras, claro).
Falando mais claro. A doutrina católica nas suas suas leituras mais restritivas que imperavam até há poucos anos é doentia e cria nos seus seminários, e provavelmente nas suas áreas de influência, neuróticos, doentes mentais, a maior parte dos quais tem comportamento tipificado como o de criminosos.
Os seminários, pelo menos como eram há umas décadas, são um absurdo, um centro de formação de tarados, de fanáticos e de pessoas sem carácter, a que muitos escapam mas também onde muitos soçobram.
Enquanto a hierarquia não quiser perceber que está a braços com o problema sexual interno, não retomará uma posição em que os cidadãos possam confiar nas suas actividades e, muito menos, nas suas instituições. E quando a hierarquia quiser perceber tem de dissolver todo um edifício que se baseia precisamente nos tabus, repressão e discriminação sexuais.
Este assunto deixou de ser do foro da Igreja Católica Romana para ser do foro público. Tal como os monstruosos e sistemáticos crimes que têm sido praticados através dos séculos e só agora puderam ser conhecidos do público.
Ainda por cima são estes que querem fazer moralismo discriminatório e reaccionário na sociedade, como tentando impedir o casamento homosexuais ou considerando a homosexualidade ora uma doença, ora um crime, da mesma forma que ainda há pouco tentavam proibir a contracepção e a interrupção voluntária da gravidez.
Por não ser capaz de enfrentar a questão e mudar, a Igreja Católica Romana perdeu a pouca moral que lhe restava para endoutrinar a sociedade seja do que for!(P.B.)
Remorsos do Papa não chega para vítimas de abusos sexuais
(Público) GINA PEREIRA
O Papa Bento XVI expressou ontem "vergonha" e "remorso" pelo "desconcertante problema" do abuso sexual de crianças e jovens vulneráveis por parte de membros da Igreja Católica irlandesa. Mas o "profundo desgosto" do Papa não cala a revolta das vítimas.
Foi manifestando a sua "grande preocupação" pela "grave situação" que envolve a Igreja irlandesa que Bento XVI iniciou a sua carta pastoral, divulgada ontem e destinada a ser lida nas missas deste fim-de-semana nas paróquias irlandesas. O Papa reconheceu a "gravidade destas culpas e a resposta muitas vezes inadequada" das autoridades eclesiásticas da Irlanda e garantiu que partilha o "pavor e a sensação de traição" que afecta muitos católicos irlandeses.
Para recuperar desta "dolorosa ferida", a Igreja irlandesa deve, em primeiro lugar, "reconhecer os graves pecados cometidos" e os seus responsáveis responder "diante de tribunais devidamente constituídos". "A justiça de Deus exige que prestemos contas das nossas acções sem nada esconder", escreveu o Papa, dirigindo-se aos sacerdotes e religiosos que abusaram de crianças e a quem desafiou a assumir as suas responsabilidades. "Perdestes a estima do povo da Irlanda e lançastes vergonha e desonra sobre os vossos irmãos", escreveu, insistindo que além do "enorme dano causado às vítimas", os abusadores provocaram "um grande dano à Igreja e à percepção pública do sacerdócio e da vida religiosa".
Às vítimas e suas famílias - a quem se dirigiu em primeiro lugar para manifestar "profundo desgosto", "vergonha" e "remorsos" pelo seu sofrimento - pediu-lhes que não percam a esperança. "É compreensível que vos seja difícil perdoar ou reconciliar-vos com a Igreja". Mas disse confiar que, aproximando-se de Cristo e participando da vida da Igreja, poderão encontrar "reconciliação, profunda cura interior e paz".
Bento XVI não ignorou o "desânimo e abandono" que sentem muitos sacerdotes irlandeses, "encolerizados pelo modo como estas questões foram tratadas por alguns dos vossos superiores". Mas pediu-lhes que colaborem com "quantos têm autoridade" e que se empenhem para que a Igreja da Irlanda possa "responder à crise" e ter "nova vida e vitalidade". Para ajudar a essa "renovação", promete visitar em breve o país.
Aos bispos, dirigiu palavras críticas. "Foram cometidos sérios erros no tratamento das acusações" que minaram "seriamente a vossa credibilidade e eficiência", disse-lhes, pedindo-lhes que cooperem com as autoridades civis para o apuramento da verdade. "Só uma acção decidida levada em frente com total honestidade e transparência poderá restabelecer o respeito dos Irlandeses em relação à Igreja", escreveu.
Para as vítimas - que reclamam a demissão do chefe da Igreja Católica irlandesa, cardeal Sean Brady, e de outros bispos acusados de terem sido cúmplices dos abusos sexuais levados a cabo ao longo de 40 anos -, a carta de Bento XVI é "insuficiente e decepcionante". Maeve Lewis, directora da associação de defesa das vítimas "One in Four", considera que o Papa dirigiu as críticas principalmente aos sacerdotes do baixo clero e esquece a responsabilidade do Vaticano nos abusos sexuais de menores em todo o mundo.
A Igreja Católica portuguesa ainda não reagiu à carta do Papa, mas o bispo auxiliar de Lisboa, D. Carlos Azevedo, disse esta semana que se trata de "crimes que envergonham" a Igreja.
(Público) GINA PEREIRA
O Papa Bento XVI expressou ontem "vergonha" e "remorso" pelo "desconcertante problema" do abuso sexual de crianças e jovens vulneráveis por parte de membros da Igreja Católica irlandesa. Mas o "profundo desgosto" do Papa não cala a revolta das vítimas.
Foi manifestando a sua "grande preocupação" pela "grave situação" que envolve a Igreja irlandesa que Bento XVI iniciou a sua carta pastoral, divulgada ontem e destinada a ser lida nas missas deste fim-de-semana nas paróquias irlandesas. O Papa reconheceu a "gravidade destas culpas e a resposta muitas vezes inadequada" das autoridades eclesiásticas da Irlanda e garantiu que partilha o "pavor e a sensação de traição" que afecta muitos católicos irlandeses.
Para recuperar desta "dolorosa ferida", a Igreja irlandesa deve, em primeiro lugar, "reconhecer os graves pecados cometidos" e os seus responsáveis responder "diante de tribunais devidamente constituídos". "A justiça de Deus exige que prestemos contas das nossas acções sem nada esconder", escreveu o Papa, dirigindo-se aos sacerdotes e religiosos que abusaram de crianças e a quem desafiou a assumir as suas responsabilidades. "Perdestes a estima do povo da Irlanda e lançastes vergonha e desonra sobre os vossos irmãos", escreveu, insistindo que além do "enorme dano causado às vítimas", os abusadores provocaram "um grande dano à Igreja e à percepção pública do sacerdócio e da vida religiosa".
Às vítimas e suas famílias - a quem se dirigiu em primeiro lugar para manifestar "profundo desgosto", "vergonha" e "remorsos" pelo seu sofrimento - pediu-lhes que não percam a esperança. "É compreensível que vos seja difícil perdoar ou reconciliar-vos com a Igreja". Mas disse confiar que, aproximando-se de Cristo e participando da vida da Igreja, poderão encontrar "reconciliação, profunda cura interior e paz".
Bento XVI não ignorou o "desânimo e abandono" que sentem muitos sacerdotes irlandeses, "encolerizados pelo modo como estas questões foram tratadas por alguns dos vossos superiores". Mas pediu-lhes que colaborem com "quantos têm autoridade" e que se empenhem para que a Igreja da Irlanda possa "responder à crise" e ter "nova vida e vitalidade". Para ajudar a essa "renovação", promete visitar em breve o país.
Aos bispos, dirigiu palavras críticas. "Foram cometidos sérios erros no tratamento das acusações" que minaram "seriamente a vossa credibilidade e eficiência", disse-lhes, pedindo-lhes que cooperem com as autoridades civis para o apuramento da verdade. "Só uma acção decidida levada em frente com total honestidade e transparência poderá restabelecer o respeito dos Irlandeses em relação à Igreja", escreveu.
Para as vítimas - que reclamam a demissão do chefe da Igreja Católica irlandesa, cardeal Sean Brady, e de outros bispos acusados de terem sido cúmplices dos abusos sexuais levados a cabo ao longo de 40 anos -, a carta de Bento XVI é "insuficiente e decepcionante". Maeve Lewis, directora da associação de defesa das vítimas "One in Four", considera que o Papa dirigiu as críticas principalmente aos sacerdotes do baixo clero e esquece a responsabilidade do Vaticano nos abusos sexuais de menores em todo o mundo.
A Igreja Católica portuguesa ainda não reagiu à carta do Papa, mas o bispo auxiliar de Lisboa, D. Carlos Azevedo, disse esta semana que se trata de "crimes que envergonham" a Igreja.
6 comentários:
Excelente texto. Tomei a liberdade de o copiar para o meu blog, com os devidos créditos ao autor.
Caro Pedro Baptista
Para lhe manifestar a minha total concordância com o teor do seu texto.
Um abraço
António Moreira
Obviamente, subscrevo na íntegra o seu texto.
Excelente texto. Uma reflexão actual sobre um tema tão estrutural para a sua organização em que a mim me parece que a igreja católica está a tentar passar uma leve esponja como se tal fosse suficiente.
Não podia estar mais de acordo! Sem dúvida, uma grande reflexão que toca todos os pontos essenciais da questão.
Pessoalmente, não abomino a Igreja Católica nos valores que em "teoria" apregoa, abomino, sim, a hipocrisia que se instalou nessa instituição e a resistência à evolução dos tempos, com claros prejuízos para os que ainda vão pautando a sua vida demasiadamente dependentes daquela.
As instituições incapazes de se adaptar às circunstâncias tendem a desaparecer! Ainda que por pura conveniência, talvez seja o momento de a Igreja Católica começar a reflectir sobre a matéria…
Excelente texto, Pedro.
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