“PS/Porto já não é esperança”
António Larguesa ("o primeiro de Janeiro" - 04-02-08)
Pedro Baptista assume-se como o candidato das bases que quer rejuvenescer o PS/Porto para os combates políticos no distrito.
Crítico do actual líder Renato Sampaio e do “seguidismo” a José Sócrates, o candidato assume-se, em entrevista ao JANEIRO, como a voz da regionalização.
“Mesmo dentro do PS há medo de um Norte unido”, diz.
O que o fez avançar para a candidatura à liderança do PS/Porto?
O estado em que se encontra o PS do Porto, a incapacidade do partido para responder às necessidades politicas da região e sentir que toda a gente está contra a actual direcção da federação, mas ninguém estar disponível para avançar. Quero um secretariado preenchido por juventude. Não me proponho a excluir ninguém ou a fazer uma tal renovação geracional que marginalizasse quem tem mais idade, até porque não sou propriamente de uma “new generation”, mas à frente do executivo quero uma equipa jovem. Não só para assegurar o futuro da federação, mas para lançar jovens que permitam fazer aparecer o PS no distrito, com uma disponibilidade de disputa autárquica vencedora. O PSD fez isso e foi com mágoa e quase raiva que o verifiquei.
O PS é hoje um partido de portas fechadas para o Porto?
Não só está de janelas fechadas, como o Porto também lhe responde da mesma forma, estas coisas são recíprocas. O PS/Porto já não é esperança para ninguém e basta referir o que sucedeu recentemente, em que o vulto ainda assim mais visível da oposição ao Rui Rio no município desaparece [Manuel Pizarro é o novo Secretário de Estado da Saúde] e a pessoa que vai encimar a presidência é o Dr. [José Luís] Catarino, que estava em sexto ou sétimo lugar da lista. Não era disto que os portuenses estavam à espera. Por outro lado, as portas podiam estar fechadas, mas as janelas abertas. Podia haver uma ida ao terreno para dizer ao Governo que tivesse uma política sectorial e específica para este distrito. Quando verifico que só passados dois anos é que o grupo parlamentar, chefiado pelo presidente da federação, faz uma intervenção tíbia, para não dizer pívea, sobre a situação social eu digo: nem sequer se olha para o distrito!
Estagnado, imobilista, decadente, desmoralizado, acabrunhado, silencioso e abandonado. Tudo adjectivos que usou para classificar o Porto do presente. Como é que o PS/Porto vai resolver isto?
É preciso inverter totalmente a situação, saber em que sentido vai a gestão dos dinheiros do novo quadro comunitário de apoio. Corre-se o risco deste dinheiro todo ser gerido por sectores que não são do Norte. Primeiro é preciso eleger-me, depois dar-me maioria na comissão política para poder trabalhar, terceiro arranjar com a comissão política concelhia do Porto um candidato que tenha uma imagem europeia, conheça de economia e tenha uma visão larga para trazermos grandes projectos mobilizadores.
Quem espera vir a defrontar nas eleições?
Se estivesse no secretariado nacional já tinha marcado as eleições. Marcaram as concelhias, por que não marcaram as federações? Só para eu não ter acesso à listagem dos 16 mil militantes? Gostava que Renato Sampaio me defrontasse porque é uma forma de assumir responsabilidades e ser avaliado em relação ao que fez. Se aparecer um novo candidato, que não ele, mas de certa forma conotado com a mesma atitude imobilista, seguidista e veneranda será mais difícil.
Qual a fronteira entre a solidariedade e a lealdade ao governo PS e a “posição crítica” que defende?
Em termos abstractos podem ser contraditórias, mas em termos concretos não. Lealdade é falar verdade. Imagine que preciso de alguém e tenho que ser artificialmente simpático em proveito próprio, dir-lhe-ei aquilo que ela quer ouvir. Mas se eu quero que a pessoa governe devidamente então falo-lhe verdade.
É mais fácil dirigir uma distrital quando o PS é oposição no governo?
Não estou em idade, e no partido, para simplesmente expelir convicções, mas para exercer a responsabilidade de ser poder e, para a federação distrital, é muito mais fácil, gratificante e necessário estar no poder, onde se podem fazer as coisas, do que na oposição. Para ir para o poder seguir rotinas, sustentar vaidades e exibir limusinas e polícias à frente dos automóveis, então mais vale estar na oposição e andar de autocarro, como eu ando.
Teme ser visto como um regionalista e não como um regionalizador?
Confesso que nem gosto da expressão regionalista, que não sou. Não estou a falar num colóquio ou num comício, estou a candidatar-me para um órgão político com ligações íntimas com o poder executivo e legislativo. Não acho que a minha região é o centro do mundo, acho é que ela não deve ser a periferia do mundo.Acredita que o Norte ainda existe enquanto coisa homogénea e de interesses comuns?Não há homogeneidades naturais nem diferenças naturais. O Norte teve sempre grandes problemas de unidade e grandes competitividades e rivalidades e isso até se tornou num elemento dinâmico. Mas era fundamental haver momentos em que era capaz de se unir. O que tem sido sonegado ao Norte são os instrumentos orgânicos, políticos e administrativos que lhe permitam estar unido. A regionalização foi chumbada em 1997 quando houve pavor por parte de pessoas que não se comportam como patriotas em relação à ideia de haver um Norte unido. Mesmo dentro do PS há quem tenha medo disto, mas não se une o Norte aos beijinhos nem em bailes inter-freguesias, mas criando um organismo de unidade regional. A criação da região Norte é basicamente a transformação da CCDR-N em governo regional eleito democraticamente e directamente pela população para ter uma legitimidade política própria.
O Norte unido é uma ideia patriota?
O Norte unido, o Centro unido, o Alentejo unido, a região de Lisboa e Vale do Tejo unida, tudo isto são ideias patrióticas. Porque a pátria não é a capital, é todo o país! Em linguagem actual, a pátria é a competitividade e para isso é preciso que seja multipolar, que haja muitos pólos de competitividade. É preciso que de Bragança surjam ideias, de Vila Real iniciativas, de Braga também, e que no Norte haja capacidade para governar toda esta massa crítica.Essa multipolaridade pode também assumir pluripartidariedade?Ainda melhor, é uma das formas de aprofundar o pluralismo político. Quando um governo é do PS e uma região é PSD, outra PCP, outra CDS, isso é excelente. A regionalização permite um aumento da negociação e dos consensos. Se tivéssemos em Portugal essa riqueza pluripartidariedade democrática também tinha havido menos asneiras. Imagina que se houvesse região Norte e Centro o que se passou ali por Alijó ou na Anadia tinha ocorrido? Não era o presidente da Câmara que estava ali, era toda uma região que procurava aplicar planos e recursos nacionais à especificidade da região. Eu gosto da diferença, mas vejo que dentro do PS crescem os tiques do tempo da União Nacional, do unanimismo, do partido e do pensamento único.
E as forças de bloqueio a nível regional?
Às vezes há bloqueios e ainda bem. Quando queriam fazer o plano absolutamente doido do transvase dos rios do norte de Espanha para o sul houve bloqueio e muito bem. Se houver a ideia de transportar a água do Douro para irrigar os campos de golfe do Alentejo se a água do Alqueva não chegar, oxalá que haja um bloqueio! O diálogo é o instrumento político da democracia, não é o golpe televisivo, mediático, não são as técnicas do marketing governativo.
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