O PS sem maioria absoluta
Paulo Martins (JN, 29.02.2008)
Mais quatro anos com José Sócrates na chefia do Governo, mas forçado a negociar acordos políticos. Se as eleições legislativas fossem hoje, o PS não alcançaria a maioria absoluta - ficaria, aliás, mais longe desse objectivo do que há quatro meses. Mas o PSD não cantaria de galo segundo a sondagem da Universidade Católica para o JN, a RTP e a Antena 1, tem hoje menos adeptos. Só o Bloco de Esquerda pode festejar, já que duplica a percentagem face a Outubro de 2007.Um olhar sobre as intenções de voto expressas neste estudo de opinião não é suficiente para interpretar os estados de alma dos eleitores. É preciso cruzar as respostas às diversas questões colocadas para comprovar uma percepção tão simples como esta está a crescer o descontentamento face ao Governo socialista, mas o maior partido da Oposição não consegue capitalizá-lo, quanto mais afirmar-se como alternativa credível. Avaliemos, então, os sinais. Os 39% obtidos pelo PS constituem o score mais baixo desde Janeiro de 2007. O Executivo (ler texto na página seguinte) já só "convence" um em cada quatro inquiridos. Como o trabalho de campo desta sondagem teve lugar quase um mês após a remodelação governamental, que resultou no afastamento do ministro da Saúde, é legítimo inferir que ela não travou a curva descendente.O trabalho de coordenação política de José Sócrates é considerado negativo por quase metade dos inquiridos. Ainda assim, o chefe do Governo obtém uma ligeira recuperação na tabela de popularidade, só susceptível de se tornar mais nítida porque o adversário directo, Luís Filipe Menezes, perde 1,3 pontos.É este um dos handicaps do presidente do PSD. O "estado de graça" concedido a Luís Filipe Menezes parece ter-se esvaído. Se a sua imagem não é famosa, mais penalizadora é a erosão no eleitorado social-democrata. O PSD perde 4% em quatro meses, em intenções de voto, e obtém o pior registo num ano, quando se trata de apurar qual o partido da Oposição que pode, se investido em funções governativas, apresentar um melhor desempenho.CDS volta a afundar-seComo se exprimirão estas tendências nas legislativas do próximo ano? Tudo indica que através de uma vitória socialista com maioria relativa - convicção que, aliás, já se instalou entre mais de 70% dos eleitores (ler página 5). Tanto mais que, se a opção não residir nas propostas políticas mas no perfil dos principais candidatos, Sócrates dá uma verdadeira "goleada" a Menezes.Atingido em cheio por polémicas como o "caso Portucale" ou o do Casino de Lisboa, o CDS volta a afundar-se, perdendo metade do eleitorado. A popularidade de Paulo Portas permanece a mais baixa entre líderes partidários. Em conjunto, PSD e CDS atingem um score inferior em 4% ao do PS, o que diz bem do estado em que se encontra a Direita.No pólo oposto, a estrela é o Bloco. O crescimento exponencial que o partido regista aproxima-o da CDU, estável nos seus nove pontos percentuais. Francisco Louça acompanha a tendência ascensional. Por um décima, faz companhia a Cavaco Silva entre as figuras políticas com avaliação positiva. Contudo, a distância entre ambos é significativa. O presidente da República reforçou a sua posição liderante na popularidade. O que só pode ser entendido como aplauso do eleitor ao distanciamento que, num ou noutro caso, tem vindo a manifestar em relação ao Governo. Em discursos e na justificação para a promulgação de diplomas, como aconteceu com o decreto sobre vínculos, carreiras e remunerações da Função Pública, cuja decisão foi conhecida três dias antes do trabalho de campo desta sondagem.
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