terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

É preciso não deixar morrer a linha do Tua, nem o projecto de ligação Porto-Salamanca

O primeiro dia da 'nova' linha ferroviária do Tua

JOSÉ ANTÓNIO CARDOSO, Vila Real

População já não tinha qualquer esperança de voltar a ver comboio
A Linha do Tua reabriu ontem o troço de 52 quilómetros entre Mirandela e Tua, quase um ano depois do acidente em que morreram três ferroviários. O primeiro comboio saiu da estação de Mirandela às 10.00 envolto em denso nevoeiro que acompanhou a composição ao longo de todo o percurso.A viagem inaugural estava inicialmente destinada apenas à Comunicação Social, mas as portas acabaram por ser franqueadas à população que quisesse aproveitar a viagem. Cinco pessoas corresponderam ao convite a aproveitaram o primeiro comboio para rumar a Carrazeda de Ansiães.E ao longo do trajecto alguns elementos da população foram confidenciando que já não tinham qualquer esperança de voltar a ver o comboio por aquelas bandas. Para Isilda Domingos, residente em Frechas, "o comboio é o meio de transporte essencial, além de mais barato, passa mesmo à minha porta. Já tinha saudades, e apareceu logo numa manhã de nevoeiro" , comenta.Também Armindo Augusto, passageiro habitual da Linha do Tua, ontem viajou de graça por ter sido o primeiro a fazer a viagem na sua reabertura, depois do acidente de 12 de Fevereiro, e o único a fazer o percurso na sua totalidade. Dos restantes passageiros, todos saíram nas estações anteriores ao troço onde ocorreu o acidente. "Hoje pode ir de graça", transmitiu-lhe o revisor.Para José Silvano, presidente da Câmara de Mirandela, o dia era de felicidade. "Não só para mim", dizia ao DN, "mas também para a população das sete aldeias encravadas no vale do Tua , cuja única hipótese de transporte é o comboio". Para estas pessoas, que vivem em aldeias isoladas, a alternativa de transporte é o táxi. "Sai muito caro, e muitas vezes a população não o utiliza, mesmo para ir ao médico, porque não tem possibilidades económicas", reconhece o autarca. Não é apenas o trasporte dos residentes que o presidente da Câmara de Mirandela vê na Linha do Tua. José Silvano acredita no potencial turístico daquela ferrovia e aponta números: "Já trazia cerca de 12 mil pessoas ano ao vale do Tua, número que poderá vir a aumentar para 20 mil com uma boa divulgação por parte da CP e dos municípios envolventes".A colocar em causa estas aspirações está a construção de uma barragem. No entanto, José Silvano confia que "o Governo vai ter o bom senso de não a construir. Seria mau para as populações e para o desenvolvimento regional, ganhamos mais com a linha do que com a barragem, e há alternativas como por exemplo a construção de mini-hídricas", defende.Quanto à segurança, garante que a Linha do Tua " é totalmente segura, em 120 anos apenas teve um acidente, o de 12 de Fevereiro de 2007". Depois disso a linha foi reabilitada e agora o local do acidente está identificado com barreiras de sustentação. Taludes e redes seguram a ravina de onde desabaram as pedras que fizeram descarrilar ao início da noite de 12 de Fevereiro de 2006 uma carruagem do metro de Mirandela com cinco pessoas a bordo. Três acabaram por falecer.Desde ontem os utentes terão à sua disposição duas ligações em cada sentido de manhã e no final do dia. O percurso entre Mirandela e o Tua demorará duas horas, mais meia hora do que antes do acidente. Esta condição de velocidade reduzida na maior parte da linha, por forma a o maquinista ter condições de detectar eventuais obstáculos e travar atempadamente, foi imposta pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil.Ontem o comboio foi conduzido por Fernando Pires que não é maquinista, mas agente de condução. Fez a viagem sem qualquer receio, pois afirma, "há mais acidentes nas estradas que nas vias férreas. Depois de 12 anos a viajar por estes carris não considera a linha mais perigosa do que as outras. com Lusa

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