josé mota
É o único a desafiar Renato Sampaio nas eleições para a Distrital socialista do Porto. Apesar de ainda não haver uma data marcada para o escrutínio, Pedro Baptista já anda no terreno em campanha. Licenciado e doutorado em Filosofia, o ex-deputado socialista e membro da Concelhia do PS/Porto tem sido um duro crítico do actual líder da Federação e um acérrimo defensor do ex-autarca Narciso Miranda.
O líder do PS/Porto é demasiado "subserviente" em relação ao Governo. Quem o diz é Pedro Baptista, numa entrevista como candidato à liderança da Distrital, em que critica a saída de Manuel Pizarro da Câmara do Porto para o Governo e fala na sua estratégia para as próximas autárquicas no Porto, aposta em Elisa Ferreira mas, em Matosinhos, não dá como garantida a recandidatura de Guilherme Pinto.
JN Sendo regionalista como o líder distrital, o que o distingue de Renato Sampaio?
Pedro Baptista Não sei ao certo se é um regionalista. Se o líder distrital tivesse uma concepção regionalizadora não tinha tido uma actuação passiva no que toca à afirmação regional portuense e nortenha como teve nestes últimos dois anos.
É essa a maior crítica que lhe faz? A da passividade?
É um dos aspectos mais gravosos da apatia geral que tem caracterizado o PS. A passividade e a liderança à distância manifestam-se não só na incapacidade de apresentar um pensamento e uma voz autónoma e afirmativa da região, como também na completa apatia da actividade do PS/Porto. Os únicos eventos são a organização de passerelles, onde os membros do Governo são chamados a exibirem-se.
Critica Renato Sampaio por fazer da "subserviência um instrumento de carreira". O que já ganhou como líder?
Quem segue por essa via nada ganha do ponto de vista pessoal. Há a ideia nos portugueses de que fazer política é fazer de morto. E de que sendo servil se obtém as graças do senhor. Quem está num lugar de dirigente gosta de pessoas servis, mas sabe que não lhe são muitos úteis. Portanto, também as despreza. Esse é o verdadeiro sentido da famosa frase "Roma não paga aos traidores".
O PS/Porto ainda agora conquistou um secretário de Estado. Isso não é suficiente?
O Porto conquistou Lisboa aos mouros. Não me parece que Manuel Pizarro tenha sido propriamente uma conquista do Porto. Nas últimas autárquicas, fez questão de ocupar espaço na lista para a Câmara para agora o deixar. O Porto ficou numa situação em que se Francisco Assis se ausentar, temos o número seis da lista à frente da Oposição, o que é um aspecto negativo da sua ascenção a secretário de Estado.
Assis e Pizarro fizeram um mau mandato?
Fizeram uma oposição insuficiente. O facto de Assis estar sediado em Estrasburgo e Bruxelas impediu-o de fazer a oposição que o Porto precisava.
Há quem defenda que só se ganha o Porto com coligação à Esquerda. Concorda?
Não há razão para o PS não fazer no Porto o que tantas vezes foi feito em Lisboa. É uma ideia a ponderar. O CDS, quando deixar de ser muleta de Rui Rio, será também uma opção. Mas não aceito a ideia de que só se consegue derrotar Rui Rio em coligação. O PS unido e com um bom candidato pode mostrar que o rei vai nu.
Um bom candidato como Elisa Ferreira?
Sim, é uma belíssima candidata. Se a Concelhia escolher Elisa Ferreira e ela aceitar, ficarei extremamente empolgado.
Fala no risco de o PS perder mais câmaras no distrito. É o caso de Matosinhos?
Sim, é uma câmara em risco.
Narciso Miranda seria o seu candidato?
O meu candidato não. Se for líder da Federação, terei uma obsessão em relação a Matosinhos o PS não pode perder a Câmara. Tenho que me rodear da melhor informação e envolver os protagonistas.
Não é garantido que Guilherme Pinto se recandidate?
Não. Num contexto destes, não me interessa o que cada um quer, interessa o que cada um pode. E eles terão de aceitar os dados objectivos. Estou certo que consigo que abdique o que estiver em pior posição sem excluir ninguém.
Como tenciona aproveitar a saída de Menezes em Gaia?
É provável que apareça outra vez a teoria da grande figura nacional, do pára-quedista. Em Gaia e noutros lugares como Gondomar, é fundamental apresentar jovens quadros, ligados à sociedade. Mesmo que não vençam desta vez, vencem na próxima. O PS não tem feito qualquer renovação geracional nas autarquias.
A renovação será também a prioridade para a Distrital?
Sim, mas sem excluir ninguém.
É possível a Distrital ter uma posição mais crítica quando é o mesmo partido que está no Governo?
Discordo da teoria de que é muito mais fácil ser-se crítico quando se está na Oposição. O PS/Porto deve ajudar o Governo a governar bem e só se governa bem conhecendo-se a verdade.
Por falar em verdade, é crítico desta liderança nacional?
Não sou um crítico. Tenho é uma atitude crítica. Ou seja, tenho a minha cabeça para pensar e não simplesmente para abanar a dizer que sim ou não.
Mas concorda que o Governo não está a olhar para o Porto como devia?
Não tenho dúvidas. Não há política regional sem regionalização e sem uma dinâmica partidária regional suficientemente afirmativa e reivindicativa. A responsabilidade principal é da Federação do Porto, porque é a quem compete chamar a atenção para os problemas da região.
Carla Soares e Hermana Cruz
(JN - 2008-02-24)
2 comentários:
Magnifica entrevista. Eu suscrevo na integra
Eu tambem! Mas o que me parece mais importante é que se trata de uma entrevista de quem tem coisas para dizer e para fazer. E portanto, marca a agenda politica.
Não é mais uma daquelas conversinhas da treta, não, aponta caminhos e isso é o que interessa.
Força.
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