LUCÍLIA TIAGO e VIRGÍNIA ALVES (JN) 14.08.08
O optimismo com que o Governo comentou, esta quinta-feira, os dados do Instituo Nacional de Estatística sobre a economia, taxa de desemprego e inflação contrastou com os avisos dos economistas de que o pior está para vir.
Depois de um início de ano negativo, a economia portuguesa regressou a terreno positivo no segundo trimestre, com o Produto Interno Bruto (PIB) a aumentar 0,4%. Este valor foi conhecido ontem, no mesmo dia em que o INE divulgou que a taxa de desemprego desceu para 7,3% e que o Eurostat anunciou que a economia da Zona Euro se contraiu 0,2%. Portugal surge, assim, em contraciclo com outras economias europeias, mas analistas e economistas alertam que o crescimento é anémico e acabará por ser afectado pelo forte abrandamento que se nota já nos principais parceiros.
Os dados ontem divulgados pelo INE mostram que Portugal escapou à recessão técnica (que ocorre quando o PIB tem um crescimento negativo em dois trimestres consecutivos), mas colocam a economia num ritmo próximo da estagnação. Apesar de não serem ainda conhecidas as componentes que mais terão contribuído para este aumento de 0,4%, sabe-se que o primeiro trimestre foi negativamente influenciado pelo facto de ter tido menos dias úteis (devido à Páscoa). Este impacto não só não se verificou no segundo trimestre, como ainda favorece a comparação trimestral em cadeia.
O Governo recebeu os dados do INE (favoráveis no PIB, mas também no desemprego e até na inflação, que desceu) com optimismo, tendo o ministro das Finanças assinalado que os indicadores para Portugal contrastam com a média da Zona Euro, o que mostra que, mesmo com "uma conjuntura adversa", a economia portuguesa "foi capaz de resistir". O contexto de incerteza levou, contudo, Teixeira dos Santos a não avançar com prognósticos quando questionado sobre a possibilidade de Portugal vir a sentir nos próximos trimestres a contracção que a Zona Euro e alguns dos nosso principais parceiros - como Espanha, França e Alemanha - já estão a sentir.
O ministro acredita que o investimento e as exportações de serviços terão sido os componentes que mais ajudaram ao crescimento da economia, uma vez que tudo aponta para um abrandamento das importações e do consumo.
Os ventos de contracção que sopram em Espanha, mas também na Alemanha e França levam os economistas e analistas a relativizar o desempenho da nossa economia no segundo trimestre - até porque, em termos homólogos, cresceu 0,9%, ou seja, a um ritmo menor do que sucedia há um ano - e a antever tempos mais difíceis. "Duvido muito que estes dados sejam sustentáveis", sublinhou, ao JN, Mira Amaral, lembrando que a crise internacional e a situação em Espanha - mercado que absorve cerca de 30% das nossas exportações - acabarão por reflectir-se por cá. O primeiro-ministro espanhol, de resto, já anunciou um vasto pacote de medidas para travar a situação.
Também o economista Nogueira Leite sublinhou que 0,4% é um crescimento "muito perto da linha da estagnação", antevendo que no final do ano os valores não vão além de 1%, o que está abaixo da meta de 1,5% do Governo.
sexta-feira, 15 de agosto de 2008
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