quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Movimento quer regiões sem novo referendo

Não se trata de um movimento recém-criado, como o JN afirma, mas de um movimento com cerca de dois anos. Nós próprios, com outros socialistas, como abaixo referimos, estivemos presentes na reunião fundadora no Porto. PB
PS trava discussão das regiões, relançada esta quarta-feira em Faro. Mas recusa avançar sem consulta
(JN) 20.08.08 SÉRGIO DUARTE E DAVID DINIS
O recém-criado movimento "Regiões, Sim", com o algarvio Mendes Bota no comando, vai recolher assinaturas para pedir aos deputados que a regionalização avance sem novo referendo. A ideia tem fracasso anunciado.
É que nenhum dos dois grandes partidos parece interessado em lançar já a discussão das regiões administrativas. Por razões diferentes. O PSD do próprio Mendes Bota, desde logo porque a nova líder recusa pura e simplesmente a solução regionalista. Ferreira Leite defende, ao invés, a solução "municipalista, que é tradição do PSD", dizia ontem um seu directo colaborador ao JN.
Claro que nem todo o partido é pelo "não". Luís Filipe Menezes defende abertamente as regiões. E Santana Lopes até sugeriu uma região piloto no Algarve, para fazer de teste à solução.
Aliás, no partido há quem lembre as recentes reservas de Rui Rio, vice-presidente do partido. O autarca portuense lançou há poucos meses um ciclo de debates sobre o tema, depois de há 10 anos ter votado não, no referendo que travou o processo. Uma mudança de posição em vista? O partido julga que não: "Ele está só a evitar que a Elisa Ferreira [possível candidata do PS à Câmara do Porto] possa ficar com essa bandeira. Os mais próximos de Rio parecem confirmar a tese, dizendo que o autarca "não mudou de posição - acha só que é preciso discutir o tema". Assim fará, até Abril, um pouco antes da autárquicas.
No PS tudo parece mais claro... mas também adiado. O porta-voz do partido é, até, peremptório ao rejeitar o desafio que hoje será lançado pelo movimento pró-regiões: "Não o faremos sem referendo e não vamos atrás da agenda de ninguém", nem de quem lança a questão "para combate interno do próprio PSD". Vitalino Canas lembra que a questão só será discutida pelo PS "na próxima legislatura" e até reforça que "os aspectos concretos [datas e número de regiões incluídos] não estão em debate nem resolvidos". De resto, sabe-se, o PS é a favor.
Quanto ao "Regiões, sim", insistirá hoje numa petição a entregar em São Bento. A ideia, diz Mendes Bota ao JN, é "dispensar um novo referendo, resolvendo o assunto por meio de uma revisão constitucional. Mas o movimento aceita também a solução mais modesta: de "serem aliviados os condicionalismos excessivos previstos na Constituição e na Lei Orgânica do Referendo". Uma coisa já se aceita, neste movimento: que uma solução só acontecerá depois das próximas legislativas. O social-democrata (crítico de Ferreira Leite) quer até o referendo para o início da próxima legislatura.
Os regionalistas acreditam que, agora, a decisão dos portugueses seria diferente. Francisco Carvalho Guerra, uma das personalidades do Norte do movimento, acredita que fora da capital as pessoas "perceberam o que perderam ao votarem "não"". "Tirando Lisboa e o Algarve, o país está muito longe do nível de vida comunitário médio. E o Porto está em risco de se tornar numa das regiões mais pobres da Europa", afirmou ao JN.
Também o ex-ministro, Luís Braga da Cruz, diz que "o actual modelo centralizado cria um défice de coesão nacional". Mas, neste caso, o argumento não foi suficiente para integrar o movimento. Por considerar que "a regionalização já falhou uma vez e não pode voltar a falhar".

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