Não se pode pôr uma flor no blog que não surja logo mais uma notícia trágica para o Porto!...
Neste caso o centenário PJ, uma presença diária nas notícias nortenhas, o único suplemento literário e artístico que resistia no país e que, por acaso ou não, melhorava de semana para semana, em todos os aspectos.
Os contornos do processo são ainda núbilos, mas que não se pode esperar nada de bom, não pode. Voltará o jornal? Então tudo terá sido mais uma golpada patronal para não pagar acima dos quinhentinhos e subtrair aos trabalhadores o subsídio de férias com o lançamento do novo título com nova empresa? E se estávamos perante um fuga patronal ao fisco, como são os trabalhadores a padecerem? A nova empresa é uma fuga à velha empresa que terá de ajustar contas com o fisco nos tribunais? Daqui a uns anos com direito a recurso? E como é possível, neste contexto, um despedimento em bloco sem indemnizações? Há quem diga que em matéria laboral voltamos a antes do 25 de Abril mas a verdade é que, precisamente nessa matéria, mais parece termos voltado ao Século XIX. Bom, foi um século de grande lutas. A pouca vergonha está a bater no fundo. Não demorará as coisas virarão. Mas isso depende sobretudo dos trabalhadores. Há medo e paninhos quentes a mais...PB(Público) Em Linha 31.07.2008 - 21h45 Luís Miguel Queirós, Ana Cristina Pereira
A desconfiança pairava na redacção. Os jornalistas temiam o pior quando a directora de “O Primeiro de Janeiro”, Nassalete Miranda, hoje convocou uma reunião geral. “O jornal vai fechar”, comentava-se em surdina.
Não foi bem isso. Miranda disse que o jornal seria suspenso durante o mês de Agosto, e que era preciso “tempo para a modernização”. Os trinta trabalhadores seriam despedidos em bloco. Nenhum teria direito a receber uma indemnização. Accionar-se-ia o fundo de garantia salarial. Os que desejassem seriam contratados para a nova empresa, o novo jornal seria feito com uma equipa mais ou menos do mesmo tamanho. E a aposta continuaria “a ser no noticiário do Porto, da região Norte e da cultura”. Sábado “O Primeiro de Janeiro” já não sai.
Nervosos, os trabalhadores arrumaram as suas coisas dentro de caixas. À porta, fumavam-se muitos cigarros, discutia-se muito o futuro. Há quem ali já trabalhe há 14 anos.
Ao mesmo tempo, na empresa que trata dos cadernos especiais e da publicidade do jornal, era apresentado um novo projecto que mantinha o título d’ “O Primeiro de Janeiro”. O periódico renasceria com novo grafismo e com um aumento de tiragem de 20 mil para 50 mil exemplares. Foi mesmo mostrado o novo cabeçalho, no qual se faz referência aos 140 anos do título e se inclui o slogan “ontem, hoje, amanhã”. A aparente contradição entre o despedimento em bloco da redacção e o anúncio do novo projecto leva alguns jornalistas a admitir que possa estar a ser preparada a conversão do Janeiro em gratuito. Há trabalhadores que não receberam as ajudas de custo de Junho; tão pouco o salário, as ajudas de custo de Julho, sequer o subsídio de férias. Há um mês, a directora “convidou” cinco jornalistas a sair – tais demissões não chegaram a ser negociadas ou oficializadas.
Por volta de Abril/Maio, vários trabalhadores receberam intimações das finanças para pagar IRS referente a “ajudas de custo”. As finanças tinham feito uma fiscalização e detectado uma suposta prática de pagamento irregular. No recibo de ordenado constava 493 ou 510 euros; o resto, que podia ser um valor semelhante, entrava como “ajudas de custo”.
Na terça-feira, houve uma inspecção de trabalho na redacção, que também detectou insalubridade.
Fundado a 1 de Dezembro de 1868, por alguns dos promotores da revolta portuense da Janeirinha, que eclodira em Janeiro desse ano, “O Primeiro de Janeiro” começou por ser o órgão do Centro Eleitoral Portuense. Deve-se a um comerciante enriquecido no Brasil, Gaspar Ferreira Baltar, que assumiu a orientação do matutino em 1870, o impulso que transformou uma folha ideológica num diário de grande informação. Mas o grande responsável pela “idade de ouro” do jornal foi sem dúvida Manuel Pinto de Azevedo, que dirigiu o Janeiro durante 40 anos, de 1936 a 1976.
Liberal convicto, impôs durante a Segunda Guerra uma linha editorial favorável à causa dos Aliados. O jornal revolucionou a imprensa da época, dando grande atenção ao noticiário internacional. Outro trunfo era o grupo de colaboradores literários, que incluía boa parte dos mais relevantes autores do tempo. A qualidade compensou: aos domingos, chegava a vender mais cem mil exemplares.
No início dos anos 70, as tiragens já andavam longe destes números, mas a decadência irreversível do jornal iniciou-se com a administração do Consórcio Difusor de Notícias, que reunia um grupo de personalidades próximas do CDS.
Ao longo dos anos 80, sucedem-se os directores – Freitas Cruz, Pedro Feytor Pinto, Alberto Carvalho e Agustina Bessa Luís e José Manuel Barroso. Em 1991, o encerramento pareceu irreversível, quando a Lisgráfica se recusou a continuar a imprimir o jornal.
Mas um grupo de investidores liderado por Eduardo Costa, proprietário da Folha de Azeméis e de outros jornais regionais, apostou em viabilizar o matutino. O empresário, que é ainda dono do jornal, foi condenado recentemente por um crime de fraude postal no início dos anos 90, decisão da qual já anunciou que vai recorrer.
A desconfiança pairava na redacção. Os jornalistas temiam o pior quando a directora de “O Primeiro de Janeiro”, Nassalete Miranda, hoje convocou uma reunião geral. “O jornal vai fechar”, comentava-se em surdina.
Não foi bem isso. Miranda disse que o jornal seria suspenso durante o mês de Agosto, e que era preciso “tempo para a modernização”. Os trinta trabalhadores seriam despedidos em bloco. Nenhum teria direito a receber uma indemnização. Accionar-se-ia o fundo de garantia salarial. Os que desejassem seriam contratados para a nova empresa, o novo jornal seria feito com uma equipa mais ou menos do mesmo tamanho. E a aposta continuaria “a ser no noticiário do Porto, da região Norte e da cultura”. Sábado “O Primeiro de Janeiro” já não sai.
Nervosos, os trabalhadores arrumaram as suas coisas dentro de caixas. À porta, fumavam-se muitos cigarros, discutia-se muito o futuro. Há quem ali já trabalhe há 14 anos.
Ao mesmo tempo, na empresa que trata dos cadernos especiais e da publicidade do jornal, era apresentado um novo projecto que mantinha o título d’ “O Primeiro de Janeiro”. O periódico renasceria com novo grafismo e com um aumento de tiragem de 20 mil para 50 mil exemplares. Foi mesmo mostrado o novo cabeçalho, no qual se faz referência aos 140 anos do título e se inclui o slogan “ontem, hoje, amanhã”. A aparente contradição entre o despedimento em bloco da redacção e o anúncio do novo projecto leva alguns jornalistas a admitir que possa estar a ser preparada a conversão do Janeiro em gratuito. Há trabalhadores que não receberam as ajudas de custo de Junho; tão pouco o salário, as ajudas de custo de Julho, sequer o subsídio de férias. Há um mês, a directora “convidou” cinco jornalistas a sair – tais demissões não chegaram a ser negociadas ou oficializadas.
Por volta de Abril/Maio, vários trabalhadores receberam intimações das finanças para pagar IRS referente a “ajudas de custo”. As finanças tinham feito uma fiscalização e detectado uma suposta prática de pagamento irregular. No recibo de ordenado constava 493 ou 510 euros; o resto, que podia ser um valor semelhante, entrava como “ajudas de custo”.
Na terça-feira, houve uma inspecção de trabalho na redacção, que também detectou insalubridade.
Fundado a 1 de Dezembro de 1868, por alguns dos promotores da revolta portuense da Janeirinha, que eclodira em Janeiro desse ano, “O Primeiro de Janeiro” começou por ser o órgão do Centro Eleitoral Portuense. Deve-se a um comerciante enriquecido no Brasil, Gaspar Ferreira Baltar, que assumiu a orientação do matutino em 1870, o impulso que transformou uma folha ideológica num diário de grande informação. Mas o grande responsável pela “idade de ouro” do jornal foi sem dúvida Manuel Pinto de Azevedo, que dirigiu o Janeiro durante 40 anos, de 1936 a 1976.
Liberal convicto, impôs durante a Segunda Guerra uma linha editorial favorável à causa dos Aliados. O jornal revolucionou a imprensa da época, dando grande atenção ao noticiário internacional. Outro trunfo era o grupo de colaboradores literários, que incluía boa parte dos mais relevantes autores do tempo. A qualidade compensou: aos domingos, chegava a vender mais cem mil exemplares.
No início dos anos 70, as tiragens já andavam longe destes números, mas a decadência irreversível do jornal iniciou-se com a administração do Consórcio Difusor de Notícias, que reunia um grupo de personalidades próximas do CDS.
Ao longo dos anos 80, sucedem-se os directores – Freitas Cruz, Pedro Feytor Pinto, Alberto Carvalho e Agustina Bessa Luís e José Manuel Barroso. Em 1991, o encerramento pareceu irreversível, quando a Lisgráfica se recusou a continuar a imprimir o jornal.
Mas um grupo de investidores liderado por Eduardo Costa, proprietário da Folha de Azeméis e de outros jornais regionais, apostou em viabilizar o matutino. O empresário, que é ainda dono do jornal, foi condenado recentemente por um crime de fraude postal no início dos anos 90, decisão da qual já anunciou que vai recorrer.
1 comentário:
Caro professor,
Ter uma actividade editorial com prejuizo ou perda de tempo só mesmo para pessoas super-empenhadas...
Estou para ver se depois das eleições na sua distrital vai continuar com o seu blog...
Veremos os seus telhados...
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