(Expresso)José Pedro Castanheira, 7 de Ago de 2008
Quando entrou na Faculdade de Direito, Durão Barroso "já ia a tudo quanto fosse contra o regime"Quando Oliveira Salazar caiu da cadeira, em Agosto de 1968, e foi submetido a uma intervenção cirúrgica ao cérebro, José Manuel Durão Barroso tinha apenas 12 anos. "Tenho uma vaga ideia dos telejornais, a preto e branco, darem os boletins médicos". Bem mais viva é a recordação da morte de Salazar, em Julho de 1970, e que o presidente da Comissão Europeia não hesita em classificar como "um dos factos mais marcantes da minha formação política". Naquela época, recorda, "assinava-se lá em casa a revista francesa "Paris-Match". Na edição seguinte à morte de Salazar, a revista trazia uma grande reportagem fotográfica. Houve uma fotografia que me impressionou especialmente e que me chocou imenso: Salazar no caixão, nos Jerónimos, tendo ao seu lado duas figuras apresentadas como os homens mais pequeno e mais alto do mundo - um anão branco de Angola e um gigante negro de Moçambique, que depois andou a ser exibido num circo. A legenda era qualquer coisa como isto: "A morte macabra do ditador". Guardo a fotografia no meu gabinete
Esta fotografia nunca mais se lhe apagou da memória, e dela falou publicamente mais que uma vez. A ponto de, já presidente da Comissão Europeia, o director da "Paris-Match" lhe ter oferecido uma cópia, emoldurada. "Guardo-a no meu gabinete, em Bruxelas". Oriundo de uma família conservadora de Trás-os-Montes, foi aquela reportagem "que me despertou para a política. Fora criado a admirar um Portugal que, independentemente do regime, era pluri-continental e maior que a própria Europa. Aquela foto, porém, mostrava a imagem que havia de nós na Europa. Mesmo de uma revista alinhada à direita, como a Paris-Match. E comecei a interrogar-me porque razão essa imagem era assim tão negativa, associada a duas palavras tão terríveis: ditador e macabra. Foi um soco no estômago. Pus-me a argumentar com o meu pai e com a família. Lembro-me que uma das primeiras discussões que tive com ele foi por causa da fotografia. O meu pai lia todos os dias o "Diário de Notícias" e gostava muito do Augusto de Castro. Pela primeira vez, pus em causa o que ele me dizia". "O 25 de Abril foi o dia mais importante da minha vida"
Mais tarde, já no Liceu Camões, Durão Barroso fez o seu tirocínio, que se prolongou pela Faculdade de Direito. "No Camões, tive o meu melhor professor de sempre: Mário Dionísio, a Francês. Foi ele quem me abriu para o mundo da cultura e das artes". Em 1973, quando entrou na Faculdade de Direito, "já ia a tudo quanto fosse contra o regime". Nunca chegou a ser aluno de Marcelo Caetano, que na época era o Presidente do Conselho. "O meu pai depositou grandes esperanças no marcelismo". Uma expectativa que Durão Barroso (que foi primeiro-ministro de 2002 a 2004), não partilhou. "Radicalizei-me muito cedo, mesmo sem estar organizado. Eu era especialmente sensível à questão colonial. Porque razão havíamos nós de mandar nos outros? A ideia de Império era-me incompreensível. Desde esses tempos que, para mim, era claríssimo que Portugal tinha de deixar as colónias". Foi a guerra colonial que decidiu a sorte de Marcelo Caetano e do Estado Novo. Durão Barroso não hesita em classificar o 25 de Abril de 1974 como "o dia mais importante da minha vida em termos públicos".
Quando entrou na Faculdade de Direito, Durão Barroso "já ia a tudo quanto fosse contra o regime"Quando Oliveira Salazar caiu da cadeira, em Agosto de 1968, e foi submetido a uma intervenção cirúrgica ao cérebro, José Manuel Durão Barroso tinha apenas 12 anos. "Tenho uma vaga ideia dos telejornais, a preto e branco, darem os boletins médicos". Bem mais viva é a recordação da morte de Salazar, em Julho de 1970, e que o presidente da Comissão Europeia não hesita em classificar como "um dos factos mais marcantes da minha formação política". Naquela época, recorda, "assinava-se lá em casa a revista francesa "Paris-Match". Na edição seguinte à morte de Salazar, a revista trazia uma grande reportagem fotográfica. Houve uma fotografia que me impressionou especialmente e que me chocou imenso: Salazar no caixão, nos Jerónimos, tendo ao seu lado duas figuras apresentadas como os homens mais pequeno e mais alto do mundo - um anão branco de Angola e um gigante negro de Moçambique, que depois andou a ser exibido num circo. A legenda era qualquer coisa como isto: "A morte macabra do ditador". Guardo a fotografia no meu gabinete
Esta fotografia nunca mais se lhe apagou da memória, e dela falou publicamente mais que uma vez. A ponto de, já presidente da Comissão Europeia, o director da "Paris-Match" lhe ter oferecido uma cópia, emoldurada. "Guardo-a no meu gabinete, em Bruxelas". Oriundo de uma família conservadora de Trás-os-Montes, foi aquela reportagem "que me despertou para a política. Fora criado a admirar um Portugal que, independentemente do regime, era pluri-continental e maior que a própria Europa. Aquela foto, porém, mostrava a imagem que havia de nós na Europa. Mesmo de uma revista alinhada à direita, como a Paris-Match. E comecei a interrogar-me porque razão essa imagem era assim tão negativa, associada a duas palavras tão terríveis: ditador e macabra. Foi um soco no estômago. Pus-me a argumentar com o meu pai e com a família. Lembro-me que uma das primeiras discussões que tive com ele foi por causa da fotografia. O meu pai lia todos os dias o "Diário de Notícias" e gostava muito do Augusto de Castro. Pela primeira vez, pus em causa o que ele me dizia". "O 25 de Abril foi o dia mais importante da minha vida"
Mais tarde, já no Liceu Camões, Durão Barroso fez o seu tirocínio, que se prolongou pela Faculdade de Direito. "No Camões, tive o meu melhor professor de sempre: Mário Dionísio, a Francês. Foi ele quem me abriu para o mundo da cultura e das artes". Em 1973, quando entrou na Faculdade de Direito, "já ia a tudo quanto fosse contra o regime". Nunca chegou a ser aluno de Marcelo Caetano, que na época era o Presidente do Conselho. "O meu pai depositou grandes esperanças no marcelismo". Uma expectativa que Durão Barroso (que foi primeiro-ministro de 2002 a 2004), não partilhou. "Radicalizei-me muito cedo, mesmo sem estar organizado. Eu era especialmente sensível à questão colonial. Porque razão havíamos nós de mandar nos outros? A ideia de Império era-me incompreensível. Desde esses tempos que, para mim, era claríssimo que Portugal tinha de deixar as colónias". Foi a guerra colonial que decidiu a sorte de Marcelo Caetano e do Estado Novo. Durão Barroso não hesita em classificar o 25 de Abril de 1974 como "o dia mais importante da minha vida em termos públicos".
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