sábado, 9 de agosto de 2008

Salazar caiu há 40 anos

(Expresso)José Pedro Castanheira, 8 de Ago de 2008
Pedro Santana Lopes nunca foi ao forte do Estoril, onde, há 40 anos, Salazar caiu de uma cadeira de lona. "Quando era primeiro-ministro, tive curiosidade em saber o que era feito daquele forte, e até perguntei. Soube que estava cedido a uma instituição ligada às Forças Armadas. Mas não cheguei a visitá-lo".
Em 1968, Santana Lopes tinha apenas 12 anos. "Nunca vi pessoalmente" nem Salazar nem o seu sucessor, Marcelo Caetano. "Mas lembro-me perfeitamente da algumas coisas que se passaram: a operação, o Hospital da Cruz Vermelha, o dr. Vasconcelos Marques, os boletins médicos...". Em casa, com efeito, "o meu pai seguia de perto a política. Não gostava de Salazar, em quem não votou. Mas acreditava no Marcelo Caetano, de quem fora aluno. Sempre disse que foi um professor fabuloso. E era amigo de um dos filhos, o Miguel Caetano. Contou-me que tinha votado em Marcelo, mas que riscou os nomes dos ultras..."
O pai Santana via pela televisão "todas as "Conversas em família" do professor Marcelo Caetano. E eu também as segui a todas. Era uma inovação na comunicação política".
"Sou amigo da filha de Marcelo Caetano"
Marcelo Caetano foi para o Brasil logo após o 25 de Abril. Por lá morreu. Primeiro-ministro durante cerca de nove meses (2004/05), Santana diz que "gostaria de o ter conhecido. Sou amigo da filha, Ana Maria Caetano, que trabalhou comigo" num dos vários governos de que o dirigente do PPD/PSD fez parte. "Quando eu era secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, propus ao prof. Cavaco Silva que a nomeasse para a direcção-geral dos Assuntos Sociais da Presidência. Foi em 1986. Ainda havia algumas resistências políticas, mas o prof. Cavaco Silva concordou. A nomeação foi muito contestada e ela ficou muito grata".
Enquanto aluno de Direito, "estudei pelos seus manuais de Administrativo e de Constitucional". Já como professor, "recomendo-os sempre aos meus alunos" - desde a Universidade Clássica até à Internacional, onde lecciona actualmente, passando pela Livre, a Lusíada e a Moderna.
"O sacrifício das liberdades é sempre negativo"
O balanço que faz do salazarismo "não é positivo: só pode ser negativo". Explica: "O sacrifício das liberdades é sempre negativo". É certo que "nos primeiros dez anos conseguiu o equilíbrio das contas públicas". Depois, revelou "uma falta de contacto com a realidade". E a partir da década de 60, diz, Salazar não foi capaz de lidar com a vontade "de emancipação dos povos das ex-colónias". Para Santana Lopes, "os factos falam por si. Os níveis de desenvolvimento verificados ao fim de 48 anos não ilustram uma boa governação. O afastamento em relação aos outros países da Europa não abona em favor de quem governou tanto tempo".

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