terça-feira, 28 de outubro de 2008

TUA: culpas na REFER e na CP.


E quem não "conhecia" já estas conclusões?...


Acidentes/Tua: Defeitos grosseiros na via e automotoras desadequadas - relatório final
28 de Outubro de 2008, 00:49
Bragança, 28 Out (Lusa) - O relatório final do inquérito ao último acidente na Linha do Tua aponta "defeitos grosseiros" na via férrea e anomalias na automotora que conjugados terão originado o descarrilamento a 22 de Agosto.
O relatório final está disponível desde segunda-feira à noite na página do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações (MOPTC), três dias depois de o ministro Mário Lino ter anunciado medidas correctivas e de segurança, sem adiantar pormenores da investigação.
Diferentes pareceres recolhidos pela Comissão de Inquérito (CI) apontam no mesmo sentido, em que ressaltam problemas ao longo da Linha, especialmente no local do acidente, e as "deficiências que dificultam o contacto entre a roda e o carril"
"A via no local do acidente apresenta defeitos grosseiros e facilmente identificáveis e suficientes para justificar a ocorrência do descarrilamento", lê-se nas conclusões.
Um curva com medidas desadequadas, defeitos de alinhamento, de empeno, travessas que "necessitam de substituição imediata" são alguma das falhas apontadas.
Do relatório concluiu-se que há 18 anos que não são substituídas e algumas têm já 40 anos, já que, segundo o documento, "a sua idade varia entre 1968 e 1990".
Os pareceres apontam também falhas às automotoras do Metropolitano de Superfície de Mirandela, que fazem o percurso ao serviço da CP, há uma década, referindo-se "às desadequadas características do material circulante".
Dos estudos técnicos feitos à automotora acidentada, conhecida como LRV, ressaltam problemas nas rodas, falta de lubrificação e pouco amortecimento.
A Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), uma das entidades que estudou o caso, deixa claro que todos estes factores conjugados são motivo para a ocorrência de um acidente desta natureza.
"Valores elevados de empeno da via dão lugar fundamentalmente a um movimento de balanço dos veículos e, quando combinados com irregularidades do alinhamento da via e anomalias na suspensão dos veículos, são a causa mais frequente de descarrilamento especialmente a baixas velocidades".
A LRV com 47 pessoas seguia a uma velocidade de 38 quilómetros por hora, na altura do descarrilamento, segundo apurou a CI, nomeadamente através do disco de tacógrafo.
Esta automotora do Metro de Mirandela era a mesma que tinha descarrilado dois meses antes, a 06 de Junho, nas mesmas condições, ferindo dois passageiros.
Afastado ficou no inquérito qualquer "indício de actos de intervenção dolosa ou negligente produzidos por intervenção humana", segundo concluiu a Policia Judiciária que participou nas investigações.
A linha mantém-se encerrada desde o acidente de 22 de Agosto, que fez um morto, quatro feridos graves e 39 feridos ligeiros.
Foi o quarto acidente em um ano e meio, com um total de quatro vítimas mortais e todos na mesma zona linha.
O relatório final faz também referência aos 17 minutos que um passageiro teve de percorrer a pé até encontrar rede telemóvel para chamar socorro, numa zona onde não há comunicações e o único telefone existente na automotora ficou inoperacional no acidente.
O relatório final faz ainda várias recomendações que levaram o ministro Mário Lino a determinar a concepção e concretização de um plano com as "necessárias medidas correctivas".
A implementação destas recomendações será coordenada pelo Instituto de Mobilidade e Transportes Terrestres (IMTT), com o apoio da REFER e CP, e assessoria técnica de entidades externas.
O ministro deu um prazo de 15 dias ao IMTT para apresentar um cronograma e 30 dias à Refer e CP para realizem averiguações internas para apuramento das causas que conduziram às anomalias identificadas.
Uma das recomendações que consta deste relatório já tinha sido feita depois do acidente de Fevereiro de 2007, o mais grave com três mortes, e continua por concretizar.
Os peritos recomendam que seja colocada uma "cortina" entre o agente de condução (maquinista) e os passageiros, para evitar distracções.
Esta media tem também como propósito impedir os efeitos de reflexão no vidro dianteiro da iluminação interna da automotora, numa linha onde vigora em vários troços o sistema de marcha à vista, em que a velocidade tem de ser reduzida para o maquinista poder detectar e travar perante qualquer obstáculo.