sexta-feira, 8 de agosto de 2008

O mais velho clube de xadrez da Península

Os velhos tempos dos jogos por correspondência estão hoje adaptados às novas tecnologias e à Internet
(JN) 08.08.08 VANESSA SENA SOUSA
O Grupo de Xadrez do Porto tem 68 anos de actividade e é o mais antigo da Península Ibérica. No passado dia 27, o clube juntou ao seu palmarés mais um título distrital. Em plena Rua de Passos Manuel continua a fazer-se a história deste desporto.
Sob o olhar atento de vários campeões mundiais em porta-retratos pendurados na parede, alguns membros do Grupo de Xadrez do Porto tentam dar um xeque-mate ao seu adversário. As peças de madeira, parte da tradição da associação e "quase de origem", são movidas ao ritmo de cada estratégia em tabuleiros embutidos nas mesas. Novos, velhos e "mestres" do xadrez juntam-se na sede, na Rua de Passos Manuel, para se dedicar àquele que é um dos passatempos mais populares do mundo.
Hoje, são cerca de 270 os associados que se reunem no clube, nascido em 1940. O berço foi o desaparecido café Monumental, foi transferido para o também extinto café Palladium em 1941, mas em 1976 ganhou um local fixo. Espelhando a "cultura dos cafés" e traçando um retrato económico e social, o xadrez foi acompanhando a história e adequando-se aos novos tempos.
Hoje as modalidades são variadas, começando pelo tradicional jogo um contra um e chegando aos jogos por servidores, na Internet, ou por e-mail, semelhante ao que se fazia por correio ou bilhete-postal, quando esses eram os meios de comunicação por excelência entre países. "Antigamente os jogos eram feitos por carta, por isso alguns jogos chegaram a durar cinco a sete anos", explicou Joaquim Pinho, presidente do clube e um dos "mestres" de xadrez. "Com a Internet, os jogos por correspondência passaram a ser feitos por email, mas agora fazem-se mais através de servidores". Os jogos podem ainda ter limite de tempo, vários adversários ou mesmo limitações, como jogar "às cegas". "O xadrez está muito estudado, mas nunca completamente estudado", ressaltou Joaquim Pinho, fazendo denotar o carácter inesgotável do jogo.
O número de jogadas é tão complexo que são reconhecidas 10123 jogadas possíveis (o 123 representa o número de zeros do número), sendo menor o número reconhecido de átomos no universo de (1079). É uma fonte quase inesgotável que continua a entreter muitos fãs do xadrez.
Mário Marques, de 53 anos, joga há 37 anos, lamentando ter começado "tão tarde" naquele que é agora o seu "passatempo preferido". "Do ponto de vista pedagógico é excelente, para criar método e ensinar que se deve pensar bem antes de agir", explica o jogador.
O xadrez não depende da sorte, mas sim da estratégia, do engenho e dos cálculos dos jogadores. Muitas vezes aliado à matemática, o jogo traz muitos benefícios a quem o pratica. "Está provado que quem joga xadrez consegue resolver problemas do dia-a-dia e ter sucesso nos estudos", explicou Joaquim Pinho. O xadrez é também uma forma eficaz de prevenção de Alzheimer.
A melhor prova de que o jogo é um passatempo para todas as idades e só traz benefícios é que o sócio número um continuou activo até ao ano passado, com 97 anos de idade, e que o campeão nacional de sub-8 tem sete anos.
O Grupo de Xadrez do Porto é um dos poucos clubes exclusivos de xadrez do país, já que a maior parte se dedica a outras actividades, a que se junta o facto de ser o mais antigo da Península Ibérica.
O espaço de Passos Manuel acaba, assim, por ser o ponto de encontro para grande parte dos associados. Todos os dias, das 16 horas às 19 horas, vários membros dedicam-se ao xadrez. Aos sábados de tarde, o universo alarga-se com vários jogadores, mesmo de outros clubes, que se juntam para "conversar, discutir, jogar e conviver". "Este é o primeiro clube de alguns e o segundo de todos os outros", orgulha-se o presidente do clube.

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