quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Luta contra a demolição do Aleixo já chegou a tribunal

(Público)06.08.2008, Romana Borja-Santos
Moradores do Aleixo dizem-se vítimas da especulação imobiliária e queixam-se por nunca terem sido ouvidos pela Câmara do Porto
Os moradores do Bairro do Aleixo prometeram e cumpriram. A anunciada providência cautelar para suspender o processo de demolição das cinco torres do bairro, ordenada pelo presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, foi ontem entregue às 11h00 no Tribunal Administrativo e Fiscal do Porto, de acordo com o advogado Tiago Machado, que representa a Associação de Promoção Social da População do Bairro do Aleixo. Na base do documento apresentado estão quatro alegadas ilegalidades, sendo a inexistência de um parecer obrigatório do Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana o primeiro ponto e o mais grave para os moradores. Os habitantes do Aleixo sentem, em segundo lugar, que foram sempre colocados à margem de todo o processo, pois, apesar de serem os principais interessados, nunca foram ouvidos. O terceiro ponto da Providência Cautelar de Suspensão de Eficácia consiste na alegada violação do direito à habitação e o quarto no incumprimento da legislação relativa à reabilitação urbana. Segundo Tiago Machado, a providência cautelar pretende "defender os direitos das pessoas que querem continuar a morar no bairro, muitas há mais de 30 anos". O advogado acusou, por isso, a autarquia de querer "deslocalizar as pessoas, retirá-las das suas casas e mandá-las para outras zonas da cidade que ainda não se sabe quais são". O advogado sublinhou também que a iniciativa pretende suspender o processo para obrigar o executivo municipal a "reunir-se com os moradores para se encontrar uma solução de consenso". Apesar de admitir que há moradores que querem sair do bairro, Tiago Machado sustentou que "a maioria pretende ficar".
A Câmara do Porto iniciou um plano de requalificação do Bairro do Aleixo, que prevê a criação de um fundo de investimento imobiliário com parceiros privados para o aproveitamento daquele terreno sobranceiro ao rio Douro, onde vivem cerca de 1300 pessoas em cinco torres com 13 pisos cada. O plano, apresentado por Rui Rio em meados de Julho, foi aprovado em sessão de câmara e ratificado pela assembleia municipal. De acordo com o plano, realizar-se-á já um concurso público para a escolha de um parceiro privado para a criação de um Fundo Especial de Investimento Imobiliário, onde a autarquia deverá assumir uma participação entre os 10 e os 30 por cento. O fundo receberá um conjunto de propriedades da autarquia que inclui edifícios antigos devolutos situados entre o bairro e a margem do Douro, terrenos com capacidade de construção e edifícios devolutos situados no centro histórico da cidade. A proposta prevê que o parceiro poderá construir nos actuais terrenos do Bairro do Aleixo mas, em contrapartida, deverá assegurar previamente o realojamento dos habitantes, em habitação social nova ou em edifícios recuperados pertencentes ao fundo.
Os moradores sempre se opuseram a este hipótese e lembram que, em 2001, na campanha eleitoral para a câmara, o então candidato Rui Rio mostrou-se contrário à demolição do Aleixo e prometeu lutar contra ela. Por isso, manifestaram-se no passado dia 27 de Julho frente aos Paços de Concelho contra o plano de requalificação do bairro e prometeram a providência que ontem concretizaram.
Na altura, Rui Rio desvalorizou esta iniciativa: "É normal que metam uma providência cautelar. Hoje em dia, em Portugal, mete-se uma providência cautelar por tudo e por nada", comentou. No que diz respeito às críticas dos moradores - de que teria cedido aos interesses imobiliários que sempre ensombraram o bairro desde que foi construído em 1974 para realojar pessoas provenientes da Ribeira -, salientou que a proposta aprovada pelo executivo "não permite margem para um negócio fantástico". Os moradores do Bairro do Aleixo manifestaram-se contra o projecto da Câmara Municipal do Porto no passado dia 27 de Julho

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