(Público)07.06.2009, Patrícia Carvalho
Vereadora socialista propôs que as paredes degradadas da cidade fossem renovadas por artistas urbanos. Rui Rio acolheu a ideia e os graffiters também gostam dela. E já têm sugestões
Mr. Dheo não se esquece da frase do presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, há poucos anos. Tirou-a dos jornais e colocou-a no seu sítio pessoal na Internet: "Todos os graffiters deveriam ser tratados como aquilo que eles são: delinquentes". Por isso (e não só), duvidou quando, na última reunião do executivo camarário, o autarca considerou que uma proposta da vereadora socialista Carla Miranda era algo "a trabalhar".
A vereadora sugeriu que a câmara, em articulação com os graffiters e as juntas de freguesia, reabilitasse zonas degradadas do Porto com o recurso a esta arte urbana. Mr. Dheo diz que ele próprio já fez uma proposta similar, e a resposta de Rui não foi bem esta (ver caixa). Mas acha a proposta "muito importante". Não é o único. Quando Carla Miranda apresentou a sua sugestão estava a pensar, sobretudo, em tornar a cidade um pouco mais limpa. Hoje já vai mais longe: "Vejo as pessoas que fazem os graffiti um pouco como artistas, como tal, deveríamos dar-lhe um espaço artístico. Há desenhos muito bonitos, mas há também os tags, muito ligados ao conceito de marcar território. Era necessário conseguir responsabilizar estas pessoas pelos espaços públicos. Procurar limpar os tags e, ao mesmo tempo, dar-lhes um espaço onde possam trabalhar. Há murais que são verdadeiras obras de arte".
Apesar da disponibilidade demonstrada por Rio para, com Álvaro Castello-Branco, vereador do Ambiente, "ver o que se pode fazer", ainda não houve qualquer contacto com a vereadora socialista para analisar a proposta. Carla Miranda, contudo, já iniciou alguns contactos com graffiters. O próximo passo, diz, é contactar as juntas de freguesia e perceber a sua disponibilidade para acolher um projecto destes. Entre os graffiters, já há ideias para incluir na proposta que recebem de braços abertos. Gon, um dos artistas urbanos ouvidos pelo PÚBLICO, acha a ideia "óptima" e avisa: "A arte urbana não é só spray e graffiti. Há stencils, máscaras..." Já organizou workshops e acredita que esse é um dos passos que terão que ser dados, se o projecto for avante. "É preciso tentar educar os mais novos. O facto de o graffito ser considerado ilegal torna-o um fruto muito apetecido e daí o vandalismo. Os putos pensam que estão a fazer uma grande coisa quando põem uns tags num edifício novo", diz. O projecto, acrescenta Kino, é "interessante", mas não funcionará se não integrar as opiniões dos artistas e das pessoas que habitam as zonas onde poderão nascer os murais. E a educação que, na sua opinião, deverá começar nos bairros da cidade, também é fundamental. Kino, da área das artes plásticas, diz ter "a expectativa que este projecto possa ser uma forma de entrar nos bairros e pegar nos jovens que lá vivem e trabalham nesta área para lhes tentar incutir uma nova mentalidade".
Já Mr. Dheo avisa não querer "ser aproveitado para diminuir o vandalismo" e acrescenta: "Custa-me que câmara não se preocupe em promover artistas que estão a dar cartas internacionalmente. Quero ser valorizado na minha cidade". O artista, que além de murais em vários pontos do mundo trabalha também com algumas marcas, na personalização de várias peças (de sapatilhas a carros e bonés), gostaria de ver o Porto integrar uma ideia que vai sendo comum em muitas cidades. "Em quase todos os países desenvolvidos existe este sistema de promoção de artistas, através da disponibilização de espaços próprios. E não estou a falar dos subúrbios, mas do centro das cidades." Sugestões de espaços também já há. Gon aposta no Silo-Auto. Mr. Dheo começava pelos edifícios abandonados da Rua de Miguel Bombarda.
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