sexta-feira, 28 de agosto de 2009

"Comboios de volta? Só vendo"
Autarcas aplaudem eventual ligação Pocinho-Barca de Alva. População desconfia
(JN) 28.8.09 EDUARDO PINTO
É ver para crer. Antigos ferroviários, turistas e população desconfiam que o Governo queira agora reabrir o troço da Linha do Douro, entre Pocinho e Barca de Alva. Vinte e um anos após encerrar.
Lá diz o ditado que quando a esmola é muita o pobre desconfia e nas aldeias que, até Outubro de 1988, foram servidas pelo comboio, o sentimento é, precisamente, de desconfiança. "Há 21 anos não acreditava que a fechassem, dado o movimento que isto tinha, agora não acredito que a reabram", diz Luís Patrício, antigo ferroviário que chegou a chefe da Estação do Pocinho (Foz Côa) quando lhe tiraram o posto de trabalho em Barca de Alva (Figueira de Castelo Rodrigo).
A secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, anunciou, anteontem, que já haviam sido concluídas as negociações entre vários organismos públicos para a reabilitação daquele troço de 28 quilómetros de via-férrea, embora para fins turísticos. É um desejo de dezenas de autarcas e diversos organismos da região do Douro, e foi imediatamente aplaudida por todos. O presidente da Câmara de Vila Nova de Foz Côa, Emílio Mesquita, espera que os espanhóis façam também a parte deles, pois o ideal seria "garantir a ligação até Salamanca". Está de acordo o homólogo de Figueira, António Edmundo, dado que a ferrovia que se pretende reactivar é "fundamental para o turismo no Douro".
Mas o povo tem reservas. "Sou contra o comboio turístico", torna Luís Patrício, 68 anos. "Quando fazia falta tiraram-mo, agora já não faz falta", acrescenta, ressalvado que mudará de opinião se também houver transporte de passageiros. "Isso é que seria porreiro", realça. Concorda António Macias, 74 anos, que trabalhou grande parte da vida na Estação de Barca de Alva como revisor de material e antes de se reformar trabalhou na do Pocinho. "Meu amigo, em ano de eleições é sempre de desconfiar", atira, considerando que "apesar de ser difícil não é impossível".
O comércio de Barca de Alva já conheceu melhores dias. Antigamente havia 11 casas, entre cafés e supermercados, hoje há sete. Um dos que ficou prejudicado pelo encerramento da linha foi Alfredo Mendo. Em 1988, explorava o café da estação. Uma concessão de 10 anos que só durou três. "Tive de ir para França governar a vida". Por isso, não vê futuro num comboio só para turismo. "Sou muito pessimista, creio que não passa de uma promessa eleitoral". Não concorda Júlio Abrunhosa: "Só com fins turísticos pode trazer poucos benefícios, mas sempre traz alguma coisa. O que interessa é que venha".
Abrigados do sol escaldante a uma sombra de Almendra, Vila Nova de Foz Côa, Mário Martins e António Madeira discordam. "Só vendo as coisas feitas é que me finto", confessa o primeiro; "eu acredito, porque há interesse dos governos de Portugal e Espanha", opina o segundo. Cabe ao Governo contrariar os pessimistas.

1 comentário:

PN disse...

Folheia-se a secção PORTO do Jornal de Noticias e o que se lê, nos diversos concelhos é o grau zero absoluto da política. Abaixo de canídeo, sem ofensa para estes.