
LUSA (JN) 25.8.09
Politólogos contactados pela Lusa consideraram hoje que alguns dos 12 vetos já decididos pelo Presidente da República têm um fundamento ideológico e são uma maneira do Chefe do Estado se distanciar das posições do PS e do Governo.
Ao vetar hoje a nova lei das uniões de facto, Cavaco Silva igualou o número de vetos de Jorge Sampaio, que no seu primeiro mandato exerceu por 12 vezes o direito de veto, quando ainda faltam cerca de dois anos para as próximas eleições presidenciais (2011).
Os politólogos contactados pela Lusa desvalorizaram o facto de o Presidente da República ter atingido aquele que era, até agora, o recorde de número de vetos num primeiro mandato presidencial, salientando que, mais que o número, importa o conteúdo dos vetos.
"Quantitativamente pode ser significativo, mas a importância qualitativa é muito diferenciada", afirmou hoje à Lusa António Costa Pinto, do Instituto de Ciências Sociais (ICS), lembrando que os vetos de Cavaco Silva têm sido de três tipos: jurídico-constitucional, de equilíbrio de poderes, como o Estatuto dos Açores, e "alguns mais ideológicos".
Para o especialista, "este Presidente da República é mais sensível a valores mais próximos da Igreja Católica e mais desconfiado de alguma inovação", sobretudo em aspectos relacionados com "a vida e ética", áreas em que "é mais expressiva a clivagem entre o Presidente da República e o Governo e a maioria de esquerda".
"Temos um Presidente da República bastante vigilante no que toca ao equilíbrio de poderes", destacou ainda Costa Pinto.
Por outro lado, alguns dos vetos reflectem a "baixa qualidade" de alguma legislação que vem do Parlamento.
A cerca de um mês das eleições legislativas, o veto de hoje, considerou o politólogo, "é uma declaração" que também "expressa um clima de tensão [entre Belém e o Governo] que não deixa de ser um facto e que se tem vindo a agudizar".
Para o sociólogo Manuel Villaverde Cabral, também é evidente que "há uma guerrilha a lavrar entre o Presidente e o Governo", mas "resta saber quem começou e quem vai ganhar, se é que alguém ganha".
O professor do ICS vê com normalidade os vetos de Cavaco Silva, argumentando que o Presidente "é de outra área cultural e ideológica do Governo".
"Dos 12 vetos, há muitos relativos a questões de sociedade e de valores, em que [Cavaco] se diferencia mais do PS e do Governo", considerou Villaverde Cabral.
Depois de uma primeira parte da governação de Sócrates em que o Presidente "facilitou muito a vida ao Governo", apoiando as medidas económicas e sociais, Cavaco Silva vem agora "dar uma garantia de natureza mais simbólica e ideológica ao 'seu' povo de direita".
Villaverde Cabral reconhece que, em alguns dos seus vetos, Cavaco "até tem razão", dado algumas das leis serem "muito mal feitas, à pressa". (...)
2 comentários:
E ele tem ideologia? Qual?
E qual é a ideologia do PS?
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