(...)2. A entrevista que a dra. Manuela Ferreira Leite concedeu à RTP1, que vi e ouvi com a maior atenção, constituiu, para mim, uma profunda decepção. Não esperava muito, confesso, dadas as intervenções que tem feito, desde que é líder do PSD. Mas foi pior do que supunha. De uma banalidade que, algumas vezes, roçou o patético.
Só falou dela própria. É uma pessoa séria, decidida, que tem o culto da verdade, que só faz o que deve e não abre concessões para ninguém, sejam amigos ou não. Já o sabíamos. Mas tudo isto é o pressuposto para qualquer político, que tenha princípios éticos e não seja um oportunista. Não precisava, portanto, de o dizer, muito menos tê-lo dito à saciedade. Seria mais subtil - e ficar-lhe-ia com certeza melhor - se mandasse dizer a outrem todos os auto-elogios com que entendeu dever mimosear-se...
Mas isso é uma questão de forma, mais ou menos elegante. O pior foi o conteúdo. Quanto à definição das políticas que entende dever promover, não se dignou dizer-nos nada de concreto. Um deserto de ideias. Como irão então decidir-se os eleitores nas escolhas a fazer? Não deu qualquer elemento novo. Limitou-se a apresentar a sua personalidade de moralista, como paladina da verdade e pura como uma vestal, em contraste com a do seu principal adversário, José Sócrates, a quem não se impediu de chamar "mentiroso" (sic), um termo pouco próprio num debate democrático entre adversários políticos. Com um olhar de mazinha ao canto do olho, que me surpreendeu...
Sendo economista de profissão e antiga ministra das Finanças, funções em que, aliás, não se destacou especialmente, esperar-se- -ia que Manuela Ferreira Leite revelasse algumas ideias novas para vencer a crise, que é, afinal, o que os portugueses querem acima de tudo saber. Mas não. Atirou a questão para um programa que há-de vir, para depois de Agosto, porque agora os portugueses não têm disposição para essas leituras. Manuela Ferreira Leite fala por si. Mas, que diabo, se não quer falar das questões de que é especialista, por as julgar enfadonhas em Agosto, será que trazia na manga do impecável vestido bege, que lhe ficava tão bem, alguns apontamentos sobre cultura, educação, ciência, ambiente, Europa, justiça, administração, Segurança Social, luta contra a criminalidade, defesa, luta contra o terrorismo, imigração, política no sentido mais estrito, relações partidárias, reforço da democracia? Nada! Realmente, não disse nada de jeito, sobre nenhum dos temas da actualidade que refiro. Então, perguntar-se-á: para que concedeu esta entrevista à RTP1, agora, em meados de Agosto, se não tinha ou não queria dizer nada? Apenas para se mostrar no seu encantador new look? Nesse aspecto, aceito que, dentro do possível, não tenha estado mal. Mas o pior é que não disse, aos seus compatriotas, nada do que eles esperavam e desejavam ouvir... Nesse aspecto, a entrevista foi uma verdadeira ocasião perdida!
Só falou dela própria. É uma pessoa séria, decidida, que tem o culto da verdade, que só faz o que deve e não abre concessões para ninguém, sejam amigos ou não. Já o sabíamos. Mas tudo isto é o pressuposto para qualquer político, que tenha princípios éticos e não seja um oportunista. Não precisava, portanto, de o dizer, muito menos tê-lo dito à saciedade. Seria mais subtil - e ficar-lhe-ia com certeza melhor - se mandasse dizer a outrem todos os auto-elogios com que entendeu dever mimosear-se...
Mas isso é uma questão de forma, mais ou menos elegante. O pior foi o conteúdo. Quanto à definição das políticas que entende dever promover, não se dignou dizer-nos nada de concreto. Um deserto de ideias. Como irão então decidir-se os eleitores nas escolhas a fazer? Não deu qualquer elemento novo. Limitou-se a apresentar a sua personalidade de moralista, como paladina da verdade e pura como uma vestal, em contraste com a do seu principal adversário, José Sócrates, a quem não se impediu de chamar "mentiroso" (sic), um termo pouco próprio num debate democrático entre adversários políticos. Com um olhar de mazinha ao canto do olho, que me surpreendeu...
Sendo economista de profissão e antiga ministra das Finanças, funções em que, aliás, não se destacou especialmente, esperar-se- -ia que Manuela Ferreira Leite revelasse algumas ideias novas para vencer a crise, que é, afinal, o que os portugueses querem acima de tudo saber. Mas não. Atirou a questão para um programa que há-de vir, para depois de Agosto, porque agora os portugueses não têm disposição para essas leituras. Manuela Ferreira Leite fala por si. Mas, que diabo, se não quer falar das questões de que é especialista, por as julgar enfadonhas em Agosto, será que trazia na manga do impecável vestido bege, que lhe ficava tão bem, alguns apontamentos sobre cultura, educação, ciência, ambiente, Europa, justiça, administração, Segurança Social, luta contra a criminalidade, defesa, luta contra o terrorismo, imigração, política no sentido mais estrito, relações partidárias, reforço da democracia? Nada! Realmente, não disse nada de jeito, sobre nenhum dos temas da actualidade que refiro. Então, perguntar-se-á: para que concedeu esta entrevista à RTP1, agora, em meados de Agosto, se não tinha ou não queria dizer nada? Apenas para se mostrar no seu encantador new look? Nesse aspecto, aceito que, dentro do possível, não tenha estado mal. Mas o pior é que não disse, aos seus compatriotas, nada do que eles esperavam e desejavam ouvir... Nesse aspecto, a entrevista foi uma verdadeira ocasião perdida!
3. Na quinta-feira passada escrevi na Visão um artigo a que chamei: "Marx saiu do purgatório?".O meu objectivo era chamar a atenção dos portugueses para que pensassem, no plano teórico, na importância de perceber, politicamente, a crise global do capitalismo financeiro e especulativo que estamos a viver. Curiosamente, o último Nouvel Observateur, de 20 a 26 de Agosto, intitulava a primeira página desse seu número: "O grande regresso de Marx para compreender o capitalismo de hoje."
Na verdade, "as derivas do capitalismo financeiro do século XXI" vieram dar um reganho de actualidade ao grande teórico do "Capital", cujas intuições geniais assumiram, com a actual crise, uma força inesperada.
Os economistas clássicos, formados pelo neoliberalismo, recusam-se a compreender isso. É um erro. Como muitos dos socialistas neoliberais formados na "terceira via", uma verdadeira fraude intelectual. Mas há cientistas políticos que não podem ser acusados de marxistas - como Alain Minc, por exemplo -, que dizem que o "único teórico que pensou, ao mesmo tempo, a economia e a sociedade foi justamente Karl Marx". Daí a sua actualidade.
É tempo, realmente, para que os portugueses pensem que a economia é uma ciência social, que depende da política, e que, sem uma sociedade mais justa - atenta às pessoas e não apenas às oscilações do mercado - não é possível ter uma economia sã, capaz de travar a crise actual do capitalismo financeiro.
Eis um bom tema para um debate entre socialistas e não socialistas, nos partidos e fora deles, em tempo de eleições. Talvez volte ao tema nos meus próximos artigos.(...)
1 comentário:
Soares é FIXE e sabe do que fala com coragem.
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