quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Macaquinhos de imitação
Por Pedro Baptista
Depois de uma semana rocambolesca laranja, que se seguiu à não menos rocambolesca rosa, à volta das listas de deputados para a AR, M. Rebelo de Sousa vem arrasar as listas do PSD, apodando-as de «ferreiristas, sem a abertura interna de Sá Carneiro, Cavaco ou Barroso, nem suficiente abertura ao centro e aos jovens».
Até nisto, os dois partidos que se têm reivindicado, nestes 35 anos, do arco do poder, e que tem
impresso os seus ADN e RNA nos eixos da situação portuguesa, têm feito, um ao outro, uma marcação de tal forma em cima, que têm vindo a imitar-se passo a passo, ponto a ponto, como se fossem duas peças do mesmo jogo de espelhos.
O PSD proibiu as duplas candidaturas, o PS esclareceu a sua "tradição"(de aplicação irregular) contra as duplas, proibindo-as também, embora a proibição seja restrita aos candidatos à presidência da Câmara e não aos candidatos a vereadores (vá lá saber-se-porquê?).
O PS falhou inteiramente a decisão apregoada nos ecrâs de fazer participar nas listas as diversas sensibilidades do partido com vista a que também as diversas sensibilidades do eleitorado socialista nelas se revissem. Pelo contrário, as listas foram inteiramente socratistas, sectárias, aparelhistas, constituídas na grande maioria por personalidades desgastadas, com péssima imagem na opinião pública, em particular na dos seus distritos. A nomeação foi feita à Estaline, de cima para baixo, em resultado do tráfico de favores políticos, e ainda por cima no Porto, a lista foi rejeitada sendo preciso uma habilidade de "vermerlhinha" inqualificável para tentar salvar as aparências.
Ora do PSD, vindo de uma inesperada (?) vitória eleitoral, esperava-se que aproveitasse o descalabro do PS e se alcandorasse a uma superioridade moral, consentânea com o regime democrático português. Mas nada: a tentaçãqo de imitação de PSD e PS como dois lados da mesma moeda, de um regime que toda a gente sente que chegou ao fim e precisa de reformas profundas, se as conseguir operar, levou a que também no PSD, tal como no PS, vencesse o estalinismo, o ferreirismo, o aparelhismo na mesma lógica de paga de favores políticos e talvez não só políticos.
Há pois uma situação crítica de bloqueio da democracia em Portugal provocada pelo PS e PSD, em que os outros partidos não apresentam alternativas, sobretudo porque o que os eleitores vão escolher no dia 27 de Setembro está viciado à partida: só vão escolher entre as propostas lançadas e cozinhadas pelos directórios partidários de meia-dúzia de pessoas. Donde os cidadãos não terem alternativa. A votação nunca será democrática, porque aqueles candidatos nunca foram democraticamente indicados e no caso do PS Porto até resultam de um golpe palacianiano vergonhoso para disfarçar a reprovação da lista pela Comissão Política Distrital.
Para quem lutou pela democracia e vê o regime e afundar-se, é imperiosa uma reforma imediata: os candidatos partidários devem ser resultado de eleições primárias junto ao eleitorado, não de nomeações feitas de cima conforme a garantia de fidelidade canina de cada um.
Que o descalabro destas nomeações sirva para alterar radicalmente o futuro. Enquanto é tempo.

4 comentários:

Paulo MB disse...

Absolutamente de acordo.
E cada vez tenho menos esperança que os aparelhos se deixem ultrapassar pela democracia do eleitorado.
Bem podem sair alguns dos mais gastos, mas os que entram já vêm carregados de vícios...

josant disse...

Att: Paulo MB
Não é o único.
Infelizmente esta é a tal sina do PS.
Agrda-me como em tão pouco,diz toda a...verdade.
Também estou totalmente de acordo com o Pedro Baptista.
A pena que me resta, é que tudo o que se diz hoje, não tenha reflexo no amanhã.
Saudações

Anónimo disse...

Palavras sábias as de Pedro Baptista. Começa a ser tarde para a mudança.
Mas cuidado: não pode haver conversações e/ou negociações com salafrários deste calibre.
Não respeitam os Estatutos, não cumprem as promessas e declarações públicas, pagam-se favores, protejem-se os amigos e familiares, mandam-se pombos-correios. Tudo é possível para se manterem no poder.

Anónimo disse...

Mais que tarde... é mesmo tarde. Só se houver outro terramoto, nesse caso é preciso e possível refundar o partido. Sabaremos o que quer dizer refundar?