quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Processo Freeport volta à estaca zero
(DN) CARLOS RODRIGUES LIMA e FILIPA AMBRÓSIO DE SOUSA 26.02.2009
Procuradores do DCIAP vão voltar a ouvir todas as testemunhas que já prestaram depoimentos. O 'nascimento' torto do caso, em 2005, obriga a que tudo seja refeito
O caso Freeport vai levar uma volta completa. Os procuradores Vítor Magalhães e Paes de Faria, segundo apurou o DN, vão voltar a ouvir todas as pessoas que já prestaram depoimentos no processo. Com isto, a investigação pretende despistar contradições, como já sucedeu em dois casos, e obter o máximo de espontaneidade das testemunhas.
Desde a inquirição de Júlio Monteiro, tio de José Sócrates, as inquirições têm prosseguido a toda a velocidade. Ontem, segundo a TVI, foi a vez de José Manuel Marques, ex-assessor para o ambiente da Câmara de Alcochete, e José Dias Inocêncio, antigo presidente daquela autarquia. Ambos foram ouvidos como testemunhas. O que não deixa de ser estranho: em 2005 foram considerados como suspeitos e chegaram a estar sob escuta. Os únicos arguidos são, para já, os antigos sócios da empresa Smith&Pedro, o escocês Charles Smith e Manuel Pedro, que ficaram indiciados pelo crime de tráfico de influências.
Uma das questões que a actual equipa de investigação pretende ver esclarecida diz respeito às contradições entre dois depoimentos de uma antiga secretária de Manuel Pedro. Ouvida a em Fevereiro de 2005, declarou ter ouvido Manuel Pedro ao telefone: "o Sócrates já tem os 400 mil". Posteriormente, inquirida no processo de violação do segredo de justiça contra o inspector José Elias Torrão e dois jornalistas do jornal O Independente, voltou atrás. Afinal já não era o "Sócrates tem os 400 mil", mas sim "os outros têm os 400 mil". Quanto às restantes referências ao actual primeiro-ministro, a ex-funcionária disse que, afinal, tudo não passava de boatos e conversas de café.
O mesmo aconteceu com uma antiga funcionária da Direcção Regional de Ambiente e Ordenamento de Território. Começou por dizer ter ouvido que o actual primeiro-ministro recebeu dinheiro devido à autorização do Freeport. Depois negou. Os mistérios do caso não ficam por aqui.
Em Fevereiro de 2005, foi revelado pelo O Independente um documentos da Polícia Judiciária no qual figurava o nome de José Sócrates como suspeito. Ora, segundo os primeiros três volumes da investigação, a que o DN teve acesso, a única referência a Sócrates está na carta anónima que "despoletou" a investigação. Não há nenhum despacho do Ministério Público ou do juiz de instrução em que o nome do primeiro-ministro seja mencionado. Os suspeitos de 2005 eram: José Dias Inocêncio, Manuel Pedro, Honorina Silvestre e José Manuel Marques. Nos primeiros meses de investigação, além de escutas telefónicas e inquirições de testemunhas, a investigação no Montijo pediu ainda informação bancárias sobre os já referidos suspeitos.O nome de José Sócrates só terá surgido no processo após a análise aos computadores apreendidos na Smith&Pedro e na Freeport. Porém, desconhece-se se foram feitas investigações para apurar da credibilidade dos mesmos ou se o Ministério Público do Montijo deu os mesmos como adquiridos e introduziu o nome de José Sócrates na Carta Rogatória (de Agosto de 2005) como uma pessoas que estava sob investigação. Recorde-se que só este ano é que Júlio Monteiro foi chamado a esclarecer alguns aspectos ligados ao seu filho.

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