PAULA SÁ (DN) 21.6.09
Os ministros quando querem sair do Governo preanunciam publicamente o cansaço. Os que sentem o cargo a fugir debaixo dos pés fazem o inverso, juram que a sua missão vai de vento em popa. Num caso e no outro, os desabafos apenas visam proteger a imagem dos próprios. O caso mais recente envolve o titular das Obras Públicas. Mário Lino diz ter idade a mais
A três meses das legislativas, o ministro Mário Lino fez uma confissão ao Expresso: "Já não tenho idade para estar no Governo". Este óbvio recado a José Sócrates e ao mesmo tempo justificação pública de que, caso o PS vença as próximas eleições, terá que encontrar um novo titular para a pasta foram mal recebidos no Governo.
Pelo menos o secretário de Estado da Administração Interna, Ascenso Simões, desabafou no Facebook logo que viu a frase na primeira página do semanário: " Confesso a minha irritação!! O que leva um ministro a dizer, a três meses das eleições: 'Já não tenho idade para estar no Governo'... Acho mal, pronto, acho mal"
E o que sentido tem a frase de Mário Lino neste momento político? O politólogo Manuel Meirinho lembra que quando os ministros não são demitidos, por exemplo numa remodelação governamental, e querem sair pelo seu pé tentam "dissipar" na opinião pública qualquer dúvida sobre a origem dessa decisão, numa espécie de autoprotecção da própria imagem.
Foi o que aconteceu com Freitas do Amaral quando quis deixar o Ministério dos Negócios Estrangeiros praticamente um ano depois de ter assumido funções no Governo socrático. Também numa entrevista ao Expresso em Maio de 2006, o antigo líder centrista confessava: "Chego ao fim do dia [no Ministério] completamente estoirado", o que levou o jornal a titular na primeira página "Freitas cansado no MNE". Freitas ainda considerou abusiva a leitura do semanário, mas o facto é que um mês depois pedia ao primeiro--ministro a demissão do Executivo por "motivos de saúde".
No caso particular de Mário Lino, o investigador do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) considera que foi "um ministro derrotado durante o mandato, pois foi obrigado a retroceder em todos os projectos que defendia". Desde a localização do novo aeroporto na Ota para Alcochete - e que motivou o célebre "jamais" da margem sul -, até à "última facada" que foi o adiamento do projecto da rede de alta velocidade (TGV). "Tudo isto gera cansaço e Mário Lino percebeu que não tem condições para se manter num novo governo", sublinha Manuel Meirinho.
O professor José Adelino Maltez acentua precisamente o facto do ministro ter sido um dos mais leais servidores de Sócrates, já que aguentou todas as desautorizações à sua política de Obras Públicas, o que o leva a considerar "um bom ministro", tal como o das Finanças, Teixeira dos Santos.
Nestas "confissões" dos ministros em pré-saída dos executivos ou então numa tentativa de se segurarem no elenco governativo - como foi o caso de Isabel Pires de Lima antes de ser remodelada na pasta da Cultura em Janeiro de 2008 (ver frase acima) -, António Costa Pinto, investigador do Instituto de Ciências Sociais, vê retratada uma tendência que vem dos governos de Cavaco Silva e que se prolongou pelos de António Guterres e no de José Sócrates. "A elite ministerial é muito mais jovem do que na maioria dos países da Europa, porque os ministros são recrutados fora do quadro dos partidos". Daí, afirma, o politólogo, "têm carreiras profissionais e não uma carreira no partido " que os chama ao poder. "Dependem muito mais do primeiro-ministro e têm menos experiência na gestão das pressões e das contrariedades". Aliás, Costa Pinto sublinha que um dos traços da governação de Sócrates é precisamente a "diminuição da autonomia dos seus ministros", o que os leva no limite quando querem cortar amarras com determinada pasta a expressar o cansaço publicamente.
Manuel Meirinho considera que tem mais efeitos negativos, em termos de eleitorado, a imagem de um governo dividido e desgastado, como foi o de Pedro Santana Lopes, do que tem efeitos positivos a de união entre ministros. "No primeiro caso foi mortífero como se viu pela demissão do Executivo de Santana..."
Ainda assim, António Costa Pinto considera que a "imagem de unidade governamental é sempre positiva, o que ganha peso dada a proximidade das eleições legislativas".
A três meses das legislativas, o ministro Mário Lino fez uma confissão ao Expresso: "Já não tenho idade para estar no Governo". Este óbvio recado a José Sócrates e ao mesmo tempo justificação pública de que, caso o PS vença as próximas eleições, terá que encontrar um novo titular para a pasta foram mal recebidos no Governo.
Pelo menos o secretário de Estado da Administração Interna, Ascenso Simões, desabafou no Facebook logo que viu a frase na primeira página do semanário: " Confesso a minha irritação!! O que leva um ministro a dizer, a três meses das eleições: 'Já não tenho idade para estar no Governo'... Acho mal, pronto, acho mal"
E o que sentido tem a frase de Mário Lino neste momento político? O politólogo Manuel Meirinho lembra que quando os ministros não são demitidos, por exemplo numa remodelação governamental, e querem sair pelo seu pé tentam "dissipar" na opinião pública qualquer dúvida sobre a origem dessa decisão, numa espécie de autoprotecção da própria imagem.
Foi o que aconteceu com Freitas do Amaral quando quis deixar o Ministério dos Negócios Estrangeiros praticamente um ano depois de ter assumido funções no Governo socrático. Também numa entrevista ao Expresso em Maio de 2006, o antigo líder centrista confessava: "Chego ao fim do dia [no Ministério] completamente estoirado", o que levou o jornal a titular na primeira página "Freitas cansado no MNE". Freitas ainda considerou abusiva a leitura do semanário, mas o facto é que um mês depois pedia ao primeiro--ministro a demissão do Executivo por "motivos de saúde".
No caso particular de Mário Lino, o investigador do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) considera que foi "um ministro derrotado durante o mandato, pois foi obrigado a retroceder em todos os projectos que defendia". Desde a localização do novo aeroporto na Ota para Alcochete - e que motivou o célebre "jamais" da margem sul -, até à "última facada" que foi o adiamento do projecto da rede de alta velocidade (TGV). "Tudo isto gera cansaço e Mário Lino percebeu que não tem condições para se manter num novo governo", sublinha Manuel Meirinho.
O professor José Adelino Maltez acentua precisamente o facto do ministro ter sido um dos mais leais servidores de Sócrates, já que aguentou todas as desautorizações à sua política de Obras Públicas, o que o leva a considerar "um bom ministro", tal como o das Finanças, Teixeira dos Santos.
Nestas "confissões" dos ministros em pré-saída dos executivos ou então numa tentativa de se segurarem no elenco governativo - como foi o caso de Isabel Pires de Lima antes de ser remodelada na pasta da Cultura em Janeiro de 2008 (ver frase acima) -, António Costa Pinto, investigador do Instituto de Ciências Sociais, vê retratada uma tendência que vem dos governos de Cavaco Silva e que se prolongou pelos de António Guterres e no de José Sócrates. "A elite ministerial é muito mais jovem do que na maioria dos países da Europa, porque os ministros são recrutados fora do quadro dos partidos". Daí, afirma, o politólogo, "têm carreiras profissionais e não uma carreira no partido " que os chama ao poder. "Dependem muito mais do primeiro-ministro e têm menos experiência na gestão das pressões e das contrariedades". Aliás, Costa Pinto sublinha que um dos traços da governação de Sócrates é precisamente a "diminuição da autonomia dos seus ministros", o que os leva no limite quando querem cortar amarras com determinada pasta a expressar o cansaço publicamente.
Manuel Meirinho considera que tem mais efeitos negativos, em termos de eleitorado, a imagem de um governo dividido e desgastado, como foi o de Pedro Santana Lopes, do que tem efeitos positivos a de união entre ministros. "No primeiro caso foi mortífero como se viu pela demissão do Executivo de Santana..."
Ainda assim, António Costa Pinto considera que a "imagem de unidade governamental é sempre positiva, o que ganha peso dada a proximidade das eleições legislativas".
2 comentários:
O Mário Lino ao dizer que está velho esteve a dizer que o governo está velho, cansado e farto. Não foi um tiro no pé, foi uma facada na barriga do governo todo, foi um hara-kiri. É a prova que devia ter sido remodelado há muito, aquando do Jamais pelo menos e que o Socrates é um falhanço como primeiro-ministro e SG. Pior só mesmo a Ferreira Leite. Os socialistas têm de reagir, encontrar entre si ou na sociedade (e trazê-las para o Partido) força pensante para retomar a energia do ideário socialista.
Mas o PS não pode ser uma partido onde só se insulta, só se intriga e só andam a tratar da vidinha como acontece no Porto.
Esse é que foi o problema vamos ficar na história como mais um mau governo e a MFL anda agora a pegar no que o Guterres dizia de o principal serem as pessoas. Nos vamos falar de obra e o PSD de pessoas. Se vamos por aqui estamos feitos ao bife
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