sábado, 15 de março de 2008

Para que serve o comício do PS?

Mas para quê tudo isto?

Vai ser anunciada uma política regional para o Norte com incidência na degradação económica e social? O abandono do pagamento das taxas de utilização nas SCUT da região? O lançamento de uma proposta de lei sobre a regionalização? De uma proposta de acordo inter-partidário de revisão constitucional para retirar o quisto anti-constitucional da imposição do referendo? O anúncio da prometida desconcentração de serviços que iria tornar inevitável a regionalização? A passagem de alguns serviços centrais sediados em Lisboa, para o Porto e outras cidades? Ou as verbas do QREN destinadas ao Norte vão ser administradas directamente pelo Norte sem a "filtragem prévia" de Lisboa, que não pode receber verbas mas vai controlar e fixar a sua grande parte?

Pensar-se-à em voltar atrás com subida do IVA de 19% para 21%, depois de andarmos dois anos a criticar a subida de 17% para 19%, conseguindo, para lá da obsessão do défice (não era assim que se dizia?) o crescimento económico, o aumento do emprego e o aumento da massa tributável?

Ou vai ser anunciado a mudança do ambiente do país? A diminuição da crispação social e a emergência do diálogo e da tolerância democráticas? Uma política de saúde segundo o princípio elementar da esquerda, de que quanto mais primários forem os serviços mais perto das populações devem estar? Uma política da educação que louve, acarinhe, mobilize e entusiasme os seus principais agentes que são os professores, em grande parte professoras, reduzindo os sindicatos corporativos à expressão que tinham ainda há pouco tempo, e dialogando com os sindicatos da concertação social como parceiros indispensáveis a uma perspectiva social e democrática ou de socialismo democrático? Uma governança que entenda (ouça, veja, perceba) os sinais da rua e saiba que governar é antecipar, não é exibir a dureza ou moleza de uma personalidade liderante.

Se for para isto valerá a pena! Se não for, se for só para lançar foguetes, não valerá de nada, porque a sala é pequena e estourar-nos-ão nas mãos.

Também se for para fazer contraponto às manifestações de rua das últimas semanas ainda pior: a rua será lá fora. Estaremos lá dentro, porque é o nosso partido que lá está. Mas com esta reflexão, esta dúvida, esta hesitação e esta expectativa, estaremos todos os que não se deixam cegar pela patologia terrível que assoma a quem chega ao poder sem vacina: a arrogância mórbida.

Sobre o resto, não vale a pena falar. A notícia, na sua pequenez e mudez, é grandiloquente e altissonante.


(Portugal Diário)2008/03/14 23:34 Filipe Caetano

«Estamos no Inverno, por isso nunca poderíamos fazer o comício ao ar livre. A preparação de um evento deste género tem de ser feita com muita antecedência, por isso em primeiro lugar pensámos no Coliseu, depois no Pavilhão Rosa Mota, Mercado Ferreira Borges e finalmente no Pavilhão do Académico. Por motivos de incompatibilidade com os outros espaços, optámos pela quarta solução», explicou ao Portugal Diário Renato Sampaio, presidente da Federação do Porto do Partido Socialista.
Com polémica ou não, a verdade é que o Instituto de Meteorologia prevê chuva para o fim-de-semana, o que, de certa forma, avalizará esta argumentação, permitindo ao PS salvar a face perante as críticas de recuo após as últimas manifestações de desagravo. Numa altura em que o partido procura festejar três anos de Governo, a intenção é «fazer a festa», com a presença assegurada de José Sócrates e outros notáveis.
Na véspera do comício, que se realiza às 16h deste sábado no tal pavilhão do Académico Futebol Clube, junto ao Marquês, a azáfama era grande, com a empresa «Alfa Som» a montar uma enorme estrutura que suportará a luz e o som da festa. «A equipa de coordenação do PS tem dez pessoas e ainda há mais cerca de 50 pertencentes à empresa contratada», contou o habitual responsável por estas organizações, Domingos Ferreira.
«Estamos a preparar uma grande festa, com muita gente. O pavilhão comporta cinco mil pessoas, por isso vamos ter muita animação, música e cor, com muitas bandeiras. A porta está aberta para toda a gente, não só a militantes, porque no Partido Socialista demos sempre espaço a toda a gente. Queremos que seja um momento de festejo pelos três anos de Governo», explicou.
«Não estamos preocupados com uma eventual manifestação de professores, porque toda a gente tem liberdade para o fazer», explicou Domingos Ferreira, enquanto Renato Sampaio desvaloriza as declarações feitas de véspera, assumindo estar «tranquilo».
Recorde-se que o líder do PS/Porto disse à agência Lusa estar «apreensivo»com a possibilidade de ser convocada uma manifestação silenciosa de professores para as imediações do pavilhão do Académico do Porto. Um dia depois, ao Portugal Diário, preferiu desvalorizar essas declarações.
A verdade é que existe uma certa desvalorização desta potencial manifestação junto dos próprios docentes, segundo é possível perceber em alguns textos colocados em blogs. Facto é que não existe uma face visível nesta organização, pelo que não deverão comparecer muitos docentes no local. Ainda assim, o Governo Civil do Porto veio esclarecer que não recebeu qualquer pedido de manifestação desse âmbito para sábado.
O Governo de José Sócrates celebrou três anos esta semana, pelo que havia a dúvida sobre a data ideal para celebrar a ocasião. José Lello explica que «inicialmente falou-se num jantar, depois em algo maior. Primeiro, até se tinha pensado no 8, mas para não colidirmos com a marcha dos professores, o comício foi adiado para este sábado».
Na perspectiva do organizador, a data e local são considerados boas ideias. «Para nós é melhor fazermos este tipo de espectáculo num espaço fechado, porque é possível destacar a cor e projectar imagens de forma mais eficaz. Para além disso, nunca seria possível ter a certeza sobre o estado do tempo», frisou Domingos Ferreira, seguro de que, pelo menos dentro do pavilhão, ninguém questionará a utilidade do comício.

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