Opinião de Amílcar Correia
Podem ser invocadas muitas razões para justificar a circulação do metro à superfície na Rua de Diogo Botelho, num dos troços da futura Linha Ocidental, mas nenhuma delas é suficientemente forte para convencer seja quem for de que esta é a melhor solução para o futuro desenvolvimento da cidade. Dos possíveis argumentos a favor da circulação das composições à superfície, apenas um nos pode levar a pensar seriamente nas várias alternativas: o argumento de ordem económica. Segundo as contas do arquitecto Manuel Correia Fernandes, um quilómetro de linha à superfície custa 11 milhões de euros, 18 milhões em vala coberta e 24 milhões em túnel, pelo que, como sugere a candidata do PS à Câmara do Porto, o melhor é que se estudem todas as possibilidades. A proposta divulgada pela Empresa do Metro do Porto prevê que o metropolitano circule à superfície numa distância de cerca de dois quilómetros, entre a Praça do Império e a urbanização das Condominhas, com uma série de contingências nada despiciendas. A criação de rotundas irá dificultar o trânsito numa via fulcral de acesso à auto-estrada, à marginal ribeirinha ou ao centro da cidade; a redução de faixas vai tornar o tráfego mais caótico; a rua não tem espaço para aguentar com aquela infra--estrutura e o seu perfil vai ser drasticamente danificado, uma vez que implica a destruição de passeios, lugares de estacionamento e afins. A inclinação da Diogo Botelho, além disso, tornará o metro muito mais lento e, já agora, pouco competitivo, ao longo de uma linha que serve vários bairros e pólos universitários. A provável rapidez de execução da linha teria como contrapartida carruagens a uma velocidade de 20 quilómetros por hora. E não venham com o argumento de que este é um tipo de carruagens desenhado para os passageiros apreciarem a paisagem. Perguntem aos utentes da Linha Vermelha, Porto-Póvoa, o que preferem: rapidez ou bucolismo?Ora, o projecto do metro do Porto tem-se pautado pelas suas preocupações de requalificação urbana nos locais que atravessa, precisamente o contrário do que aqui se verifica e que foi um dos argumentos para que a linha não se fizesse na Avenida da Boavista. Agora, que esta hipótese está afastada em definitivo, importa discutir o melhor para a cidade. E o consenso entretanto gerado, apesar das nuances de discurso entre os vários responsáveis do PS, parece apontar no sentido de forçar a Metro a estudar bem os custos de uma solução que não seja a de circulação à superfície, francamente incompatível com as ruas do Porto. É claro que o actual momento da economia nacional não é propício a grandes investimentos, mas a verdade é que não se deixa de falar deles. E se o Porto não precisa de gastar mais para se sentir pacoviamente importante, também não precisa de ser pacoviamente parcimonioso para dar um exemplo que ninguém segue. Como diria um presidente de junta, "basta usar uma retroescavadora, abrir um buraco e meter o metro lá em baixo". Enterrem-no, por favor.
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