segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Tua: Barragem não prevê nova linha
(JN) EDUARDO PINTO
A EDP não vai apresentar nenhuma proposta para construir uma nova linha férrea entre Foz-Tua e a zona da futura barragem, em Carrazeda de Ansiães. A alternativa ao troço inundado será o transporte rodoviário.
A Declaração de Impacte Ambiental (DIA) que permite à EDP construir uma barragem hidroeléctrica junto à foz do rio Tua também a obriga a encontrar uma alternativa de mobilidade, incluindo o estudo da viabilidade de construção de um novo troço de ferrovia. É que os últimos 16 quilómetros da Linha do Tua vão ficar debaixo de água, impedido definitivamente o metro de Mirandela de fazer a ligação à Linha do Douro.
A empresa tem até Julho do próximo ano para apresentar ao Governo o projecto da barragem, bem como todas as soluções para as exigências da DIA. Apesar de ainda não haver nada de definitivo, Paulo Vasconcelos, da EDP produção, diz que "o projecto não vai contemplar a construção de uma nova linha ferroviária".
Durante um debate sobre os impactos da barragem na região abrangida, realizado em Carrazeda de Ansiães, aquele responsável adiantou que a proposta para o transporte quotidiano, entre Foz-Tua e Brunheda vai ser feito "em autocarro e táxi", sendo que está a ser considerada a possibilidade de utilizar transportes não poluentes. Da Brunheda a Mirandela poderá perfeitamente voltar a ser utilizado o metro, dado que esse troço não sofrerá qualquer alteração por causa da barragem.
Para efeitos turísticos, a proposta deverá passar por um transporte em autocarro até um cais a ser criado na margem do concelho de Alijó. A partir dali recorre-se a um barco para fazer a travessia do vale do Tua até um outro cais a criar na Brunheda, onde se poderá apanhar o comboio até Mirandela.
Entre os presentes duvidou-se das intenções da EDP e da sua ideia de abandonar, logo à partida, a possibilidade de construir um novo caminho-de-ferro numa cota superior à albufeira. Pedro Vasconcelos reagiu sublinhando que "seria impossível vencer os 100 metros de altitude de diferença entre a Estação de Foz-Tua e o paredão da barragem (cerca de dois quilómetros). A ser a uma opção, uma nova linha ferroviária "teria de ir para o concelho de Alijó e voltar para o de Carrazeda, obrigando à construção de duas novas pontes". Tendo em conta que se vai trabalhar numa zona "sensível" e os "elevados custos financeiros" de tal empreitada, o responsável frisou que "uma nova linha inviabilizaria o projecto da barragem".
O presidente da Câmara de Carrazeda de Ansiães, José Luís Correia, é favorável à construção da barragem do Tua, mas também gostaria de manter a linha de comboio. Por isso, recomendou à EDP: "Vamos lá ter imaginação!" Acredita que com boa vontade será possível encontrar uma solução para construir uma nova via-férrea alternativa aos 16 quilómetros que vão ser inundados e ligá-la ao troço não atingido. "Nem que seja através de um sistema de elevação. É que não tem muita piada interromper a ligação à linha do Douro".

1 comentário:

Anónimo disse...

A destruição da Linha do Tua é o maior atentado ao património cultural do país desde o 25 de Abril e 1974. A albufeira da barragem a construir vai submergir parte da zona do Douro classificada pela UNESCO como Património da Humanidade, embora o Governo não tenha informado aquele organismo internacional desse facto. Está a brincar com coisas sérias, pois a consumação deste crime pode levar a UNESCO a retirar a classificação ao Douro. Há para aí uma entidade estatal, de seu nome "Missão do Douro" (mas que, na realidade, se devia chamar "Demissão do Douro") que tem a obrigação de se pronunciar sobre este atentado, tanto mais que colide com um putativo Plano de Turismo do Vale do Douro, mas que se mantém calada, como o patrão manda. Ficamos esclarecidos sobre o dito Plano (mais uma vigarice, como todos os anteriores), que aceita o sacrifício de um dos seus maiores factores de atracção turística, a Linha do Tua !
Para além disso, como já foi provado, o acréscimo de energia resultante da construção da barragem é irrisório, sendo bem claro que é o negócio do betão – onde pontificam os amigos do 1º ministro – o que verdadeiramente interessa. Este atentado é um acto desprezível de um Governo que estando provisoriamente no poder, não tem pejo em praticar um acto que terá consequências profundamente negativas no futuro, o que mostra bem o "sentido de Estado" destes personagens caricatos que nos (des)governam.
Uma última observação para os autarcas da região que, com excepção do de Mirandela (e mesmo assim …) se venderam por um prato de lentilhas em troco de um hipotético e/ou prometido melhoramento para acenar aos respectivos eleitores na próxima campanha eleitoral.
Como disse Rodrigo da Fonseca Magalhães, já no leito de morte: é triste nascer entre brutos, viver entre brutos e morrer entre brutos.