Empresário quis dar dinheiro para campanha partidária
Manuel Godinho em prisão preventiva por furtos
(JN)31.10.09 JESUS ZING, NELSON MORAIS E NUNO MIGUEL MAIA
Em contactos com um alto quadro da Refer, conhecido de Armando Vara, Manuel Godinho chegou a oferecer financiamento para uma campanha eleitoral. Ontem, sexta-feira, após sete horas de interrogatório, o juiz aplicou-lhe prisão preventiva.
O dono do grupo empresarial ligado à "O2" queria, a todo o custo, a demissão do presidente da Refer, com quem tinha (e tem) um conflito em tribunal por causa de um caso de "roubo" de carris na Linha do Tua, em Macedo de Cavaleiros.
Para tal, antes de contactos com o antigo ministro e actual administrador do Millennium-bcp, efectuou vários contactos com pelo menos um alto funcionário da Refer, com quem debatia o problema. Este elemento aludiu a contactos indirectos com a secretária de Estado Ana Paula Vitorino e afiançou, até, que a destituição estaria por semanas.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, num desses contactos, escutados pela PJ de Aveiro, Manuel Godinho chegou a afirmar que a resolução do problema poderia ter como contrapartida a entrega de dinheiro para uma campanha partidária.
Foi também no contexto da tentativa de afastamento do presidente da Refer que se verificaram vários dos contactos com Armando Vara, a cuja influência política terá sido feito apelo. Pelo menos, como ontem noticiou o JN, existem no processo referências a supostas "pressões" junto de Mário Lino, ex-ministro das Obras Públicas. Por essa alegada colaboração e também por contactos angariados junto de altos quadros de granes empresas públicas, Vara terá pedido uma compensação de dez mil euros em notas.
A pista de uma eventual ligação do caso a financiamento partidário poderá ser explorada pelos investigadores, agora que o empresário está em prisão preventiva, por, pelo juiz de instrução criminal, terem sido classificados como "fortes" os indícios de crimes.
Seguir-se-ão, nas próximas semanas, interrogatórios de outros arguidos já notificados e alvos de buscas da PJ. Armando Vara está convocado para o próximo dia 9, em Aveiro, podendo ser sujeito a medidas de coacção, tal como os demais suspeitos.
Ao que soube o JN, Manuel Godinho terá ficado em prisão preventiva especificamente devido à moldura penal de crime de furto qualificado, punível com prisão até oito anos. Em causa está a subtracção, alegadamente ilegítima, de materiais ferrosos a várias empresas com participação do Estado.
Outros crimes pelos quais o empresário está indiciado - corrupção activa, associação criminosa e tráfico de influências - não admitem prisão preventiva, por não serem puníveis com penas superiores a cinco anos de cadeia.
"Está a correr normalmente" e "estou tranquilo" foram as únicas palavras pronunciadas pelo empresário de Ovar, Manuel Godinho, durante as suas idas e vindas, sob detenção, entre as instalações da PJ de Aveiro e o edifício onde se encontra instalado o Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) e do Juízo de Instrução Criminal da comarca do Baixo Vouga, em Aveiro.
Godinho começou a ser confrontado com indícios e interrogado pelo juiz desde as 11.05 horas até às 13.45 horas. Depois, das 15.15 horas até às 18.20 horas. Voltou às instalações do DIAP pelas 21 horas. Saiu cabisbaixo, pelas 22.10 horas, já em prisão preventiva.
Um quarto de hora antes recebeu a visita dos seus dois filhos, que recusaram falar aos jornalistas assim como o advogado, Pedro Teixeira. Marques Vidal, procurador do Ministério Público titular do caso, abandonou o local pelas 22.30 horas. "Não posso falar sobre, não quero falar sobre o processo, ainda não terminou", disse.
À porta do DIAP estavam populares e elementos da família de Manuel Godinho - dois dos seus quatro irmãos, um filho e outros parentes -, que se mantiveram em silêncio.
Escolheu firmas consultadas pela EDP
Um dos negócios sob polémica acompanhados em "directo" pela Polícia Judiciária através das escutas foi concluído no final do mês passado. Para a consulta pública de um trabalho de resíduos na Rua do Ouro, no Porto, Domingos Paiva Nunes, administrador da EDP Imobiliária (responsável pela obra), disse a Manuel Godinho para indicar três empresas que quisesse ver consultadas. Indicou os nomes de duas das suas empresas e o de um empreiteiro. Inicialmente, as propostas estavam mal elaboradas, mas o administrador ajudou a corrigir. Entretanto, a 9 de Setembro, a Câmara Municipal do Porto ordenou uma demolição urgente.
Os trabalhos foram adjudicados pela EDP à "O2 - Tratamento e Limpezas Ambientais", pelo valor de 90 mil euros. A 30 de Setembro, o trabalho na Rua do Ouro já estava efectuado, mas Paiva Nunes aconselhou-o a prolongá-lo.
Mário Lino e Refer negam pressões
O Conselho de Administração da Refer afirmou ontem, a propósito da investigação "Face Oculta", que "não recebeu qualquer pressão" do ex-ministro das Obras Públicas Mário Lino, nem da então secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino.
O comunicado do Conselho de Administração da Refer termina lembrando que "o Conselho foi nomeado em Outubro de 2005 e, em Janeiro de 2009, foi reconduzido, na sua totalidade", o que, em seu entender, "reflecte uma manifestação de confiança por parte da tutela".
Também ontem, o ex-ministro das Obras Públicas Mário Lino negou ter recebido qualquer tipo de pressão de Armando Vara no sentido de demitir a administração da Refer. "Isso é uma coisa perfeitamente disparatada. As pessoas que me conhecem sabem que eu não sou influenciável, nem influenciado", declarou à Lusa.
Manuel Godinho em prisão preventiva por furtos
(JN)31.10.09 JESUS ZING, NELSON MORAIS E NUNO MIGUEL MAIA
Em contactos com um alto quadro da Refer, conhecido de Armando Vara, Manuel Godinho chegou a oferecer financiamento para uma campanha eleitoral. Ontem, sexta-feira, após sete horas de interrogatório, o juiz aplicou-lhe prisão preventiva.
O dono do grupo empresarial ligado à "O2" queria, a todo o custo, a demissão do presidente da Refer, com quem tinha (e tem) um conflito em tribunal por causa de um caso de "roubo" de carris na Linha do Tua, em Macedo de Cavaleiros.
Para tal, antes de contactos com o antigo ministro e actual administrador do Millennium-bcp, efectuou vários contactos com pelo menos um alto funcionário da Refer, com quem debatia o problema. Este elemento aludiu a contactos indirectos com a secretária de Estado Ana Paula Vitorino e afiançou, até, que a destituição estaria por semanas.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, num desses contactos, escutados pela PJ de Aveiro, Manuel Godinho chegou a afirmar que a resolução do problema poderia ter como contrapartida a entrega de dinheiro para uma campanha partidária.
Foi também no contexto da tentativa de afastamento do presidente da Refer que se verificaram vários dos contactos com Armando Vara, a cuja influência política terá sido feito apelo. Pelo menos, como ontem noticiou o JN, existem no processo referências a supostas "pressões" junto de Mário Lino, ex-ministro das Obras Públicas. Por essa alegada colaboração e também por contactos angariados junto de altos quadros de granes empresas públicas, Vara terá pedido uma compensação de dez mil euros em notas.
A pista de uma eventual ligação do caso a financiamento partidário poderá ser explorada pelos investigadores, agora que o empresário está em prisão preventiva, por, pelo juiz de instrução criminal, terem sido classificados como "fortes" os indícios de crimes.
Seguir-se-ão, nas próximas semanas, interrogatórios de outros arguidos já notificados e alvos de buscas da PJ. Armando Vara está convocado para o próximo dia 9, em Aveiro, podendo ser sujeito a medidas de coacção, tal como os demais suspeitos.
Ao que soube o JN, Manuel Godinho terá ficado em prisão preventiva especificamente devido à moldura penal de crime de furto qualificado, punível com prisão até oito anos. Em causa está a subtracção, alegadamente ilegítima, de materiais ferrosos a várias empresas com participação do Estado.
Outros crimes pelos quais o empresário está indiciado - corrupção activa, associação criminosa e tráfico de influências - não admitem prisão preventiva, por não serem puníveis com penas superiores a cinco anos de cadeia.
"Está a correr normalmente" e "estou tranquilo" foram as únicas palavras pronunciadas pelo empresário de Ovar, Manuel Godinho, durante as suas idas e vindas, sob detenção, entre as instalações da PJ de Aveiro e o edifício onde se encontra instalado o Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) e do Juízo de Instrução Criminal da comarca do Baixo Vouga, em Aveiro.
Godinho começou a ser confrontado com indícios e interrogado pelo juiz desde as 11.05 horas até às 13.45 horas. Depois, das 15.15 horas até às 18.20 horas. Voltou às instalações do DIAP pelas 21 horas. Saiu cabisbaixo, pelas 22.10 horas, já em prisão preventiva.
Um quarto de hora antes recebeu a visita dos seus dois filhos, que recusaram falar aos jornalistas assim como o advogado, Pedro Teixeira. Marques Vidal, procurador do Ministério Público titular do caso, abandonou o local pelas 22.30 horas. "Não posso falar sobre, não quero falar sobre o processo, ainda não terminou", disse.
À porta do DIAP estavam populares e elementos da família de Manuel Godinho - dois dos seus quatro irmãos, um filho e outros parentes -, que se mantiveram em silêncio.
Escolheu firmas consultadas pela EDP
Um dos negócios sob polémica acompanhados em "directo" pela Polícia Judiciária através das escutas foi concluído no final do mês passado. Para a consulta pública de um trabalho de resíduos na Rua do Ouro, no Porto, Domingos Paiva Nunes, administrador da EDP Imobiliária (responsável pela obra), disse a Manuel Godinho para indicar três empresas que quisesse ver consultadas. Indicou os nomes de duas das suas empresas e o de um empreiteiro. Inicialmente, as propostas estavam mal elaboradas, mas o administrador ajudou a corrigir. Entretanto, a 9 de Setembro, a Câmara Municipal do Porto ordenou uma demolição urgente.
Os trabalhos foram adjudicados pela EDP à "O2 - Tratamento e Limpezas Ambientais", pelo valor de 90 mil euros. A 30 de Setembro, o trabalho na Rua do Ouro já estava efectuado, mas Paiva Nunes aconselhou-o a prolongá-lo.
Mário Lino e Refer negam pressões
O Conselho de Administração da Refer afirmou ontem, a propósito da investigação "Face Oculta", que "não recebeu qualquer pressão" do ex-ministro das Obras Públicas Mário Lino, nem da então secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino.
O comunicado do Conselho de Administração da Refer termina lembrando que "o Conselho foi nomeado em Outubro de 2005 e, em Janeiro de 2009, foi reconduzido, na sua totalidade", o que, em seu entender, "reflecte uma manifestação de confiança por parte da tutela".
Também ontem, o ex-ministro das Obras Públicas Mário Lino negou ter recebido qualquer tipo de pressão de Armando Vara no sentido de demitir a administração da Refer. "Isso é uma coisa perfeitamente disparatada. As pessoas que me conhecem sabem que eu não sou influenciável, nem influenciado", declarou à Lusa.
Os dinheiros ditos para financiamentos partidários ou campanhas eleitorais são uma estória muito mal contada em Portugal. Falta saber se há alguma percentagem e qual a percentagem desse dinheiro que chega aos partidos ou às campanhas não ficando nas mãos dos intermediários que utilizam o propalado financiamento como mero pretexto... Do que se conhece não se imagina tanto espírito de sacrifício partidário para seja quem for correr tantos riscos... (PB)
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