LINHA DO TUA
Documentário de Jorge Pelicano galardoado com três prémios em Seia “Pare, Escute e Olhe” vence Cine’Eco
O documentário “Pare, Escute e Olhe” foi o grande vencedor do Cine’Eco 2009, ao arrebatar os três principais prémios do XV Festival Internacional de Cinema de Ambiente de Seia. A obra de Jorge Pelicano foi distinguida pelo Júri Internacional com o Grande Prémio do Ambiente (Câmara Municipal de Seia) – Campânula de Ouro, que é o prémio maior do Festival. O Júri da Lusofonia atribuiu-lhe também o Grande Prémio da Lusofonia e Campânula de Ouro e o Júri da Juventude, destacou-o com o Prémio Especial da Juventude.“Pare, Escute, Olhe” «é uma viagem por um Portugal profundo e esquecido, conduzida pela voz soberana de um povo inconformado, maior vítima de promessas incumpridas dos que juraram defender a terra». Segundo Jorge Pelicano, que subiu três vezes ao palco do Cine-Teatro da Casa Municipal da Cultura, onde na noite de sábado decorreu a sessão de entrega dos prémios, para agradecer as distinções, o documentário constitui «uma reflexão sobre o despovoamento e desertificação» provocados pelo encerramento progressivo da linha ferroviária do Tua, em Bragança. "Páre, Escute, Olhe" tem como objectivo «pôr o tema do Tua na ordem do dia» porque «o documentário pode ser uma arma que mostra as situações que não estão na ordem do dia, para que as pessoas reflictam sobre elas», disse o realizador. O rio Tua nasce a cerca de dois quilómetros acima da cidade de Mirandela, na junção dos rios Rabaçal e Tuela, e a linha ferroviária do Tua ligava inicialmente a foz à cidade de Bragança. A ligação entre Bragança e Mirandela foi desactivada em Dezembro de 1991, e o realizador quis mostrar como «essa sentença acentuou as assimetrias entre o litoral e o interior de Portugal». O documentário mostra também as sucessivas promessas políticas para o apoio ao desenvolvimento da região, o mau estado da linha ferroviária, os acidentes, e a vida das populações locais servidas pelo centenário caminho-de-ferro. O filme está dividido em duas partes: a primeira sobre a situação da parte desactivada da linha, entre Bragança e Mirandela, com a visível degradação do troço, o abandono, a pobreza dos poucos habitantes que vão ficando. A segunda revela o quotidiano do troço ainda activo, entre Carvalhais, Mirandela e Cachão, cujas populações usam o transporte ferroviário para ir trabalhar, fazer compras, ir ao médico, manifestando-se no filme contra o seu encerramento.«Fiz este documentário com espírito de missão e espero que a situação seja reavaliada porque é um crime acabar com aquele património histórico», criticou o realizador, acrescentando que a decisão mais recente do governo em construir a barragem Foz Tua «vai acabar de vez com a linha».“Pare, Escute e Olhe” venceu também a 7ª edição do festival internacional de cinema DocLisboa, com dois prémios na competição portuguesa: Melhor Longa-Metragem e Melhor Montagem, e ainda o Prémio Escolas. O director técnico do festival, Lauro António, saudou Jorge Pelicano, «que deve ter entrado hoje para o recorde do Guinness, porque no mesmo dia seis prémios em dois festivais, não devem ter existido muitos». Depois de ter ganho vários festivais com o “Ainda há pastores?”, recordou que o filme estreou em Seia, «depois de ter sido recusado no DocLisboa», adiantando que «é muito reconfortante para nós sabermos que hoje o DocLisboa, ao mesmo tempo que o Cine’Eco, reconheceu o Jorge Pelicano».
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