segunda-feira, 19 de outubro de 2009

José Saramago afirmou que “a Bíblia é um manual de maus costumes, um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana”.
(LUSA) 18.10.2009 O escritor considerou o conceito de inferno "completamente idiota"
Sobre o livro Caim, que é apresentado hoje a nível mundial, o escritor defendeu que “na Igreja Católica não vai causar problemas porque os católicos não lêem a Bíblia". Mas admitiu que poderá gerar reacções entre os judeus.“A Bíblia passou mil anos, dezenas de gerações, a ser escrita, mas sempre sob a dominante de um Deus cruel, invejoso e insuportável. É uma loucura!”, criticou, em Penafiel, numa entrevista à agência Lusa, o Nobel da Literatura de 1998, para quem não existe nada de divino na Bíblia, nem no Corão.“O Alcorão, que foi escrito só em 30 anos, é a mesma coisa. Imaginar que o Alcorão e a Bíblia são de inspiração divina? Francamente! Como? Que canal de comunicação tinham Maomé ou os redactores da Bíblia com Deus, que lhes dizia ao ouvido o que deviam escrever? É absurdo. Nós somos manipulados e enganados desde que nascemos!” afirmou.Saramago sublinhou que “as guerras de religião estão na História, sabemos a tragédia que foram”. E considerou que as Cruzadas são um crime do Cristianismo, porque morreram milhares e milhares de pessoas, culpados e inocentes, ao abrigo da palavra de ordem "Deus o quer", tal como acontece hoje com a Jihad (Guerra Santa). Saramago lamenta que todo esse “horror” tenha feito em nome de “um Deus que não existe, nunca ninguém o viu”.“O teólogo Hans Kung disse sobre isto uma frase que considero definitiva, que as religiões nunca serviram para aproximar os seres humanos uns dos outros. Só isto basta para acabar com isso de Deus”, afirmou.O escritor criticou também o conceito de inferno: "No Catolicismo os pecados são castigados com o inferno eterno. Isto é completamente idiota!”.“Nós, os humanos somos muito mais misericordiosos. Quando alguém comete um delito vai cinco, dez ou 15 anos para a prisão e depois é reintegrado na sociedade, se quer”, disse.“Mas há coisas muito mais idiotas, por exemplo: antes, na criação do Universo, Deus não fez nada. Depois, decidiu criar o Universo, não se sabe porquê, nem para quê. Fê-lo em seis dias, apenas seis dias. Descansou ao sétimo. Até hoje! Nunca mais fez nada! Isto tem algum sentido?”, perguntou.“Deus só existe na nossa cabeça, é o único lugar em que nós podemos confrontar-nos com a ideia de Deus. É isso que tenho feito, na parte que me toca”.

4 comentários:

Primo de Amarante disse...

Saramago também atribuiu a Nietzsche a frase: "Se Deus não existe, tudo é permitido"? ("Irmãos Karamazov" )
Saramago é um romancista, um efabulador, e não um especialista em exegética, nem em hermenêutica, nem em tratados religiosas. A sua violência nessas considerações é francamente resultado de muita ignorância: nem distingue os dois testamentos.

M. Araujo disse...

Acredito que Saramago, impulsionado pela necessidade de deixar rica a sua companheira, tenha cedido a meios publicitários vergonhosos para estimular a venda de mais uma das suas travessuras. Não havia necessidade de tamanha falta de respeito. Não aplaudo a forma nem o gesto e considero que a senilidade tomou conta do homem. A partir daqui, deixará de me surpreender...

Manuel João disse...

Pois o Velho Testamento é precisamente o que Saramago diz que é: um manual ignóbil de violências, atrocidades e promiscuidades. E é a base das 3 religiões que têm sido na história e continuam a ser o maior fautor de guerra e de violência da humanidade. Quem não quiser não vaja, mas isto até um senil que leia as Sagradas Escrituras em diagonal é capaz de perceber. Nem dá para perceber outras coisa. Tal como a história das 3 religiões e das milhares de seitas que dali saíram.

Paulo Rocha disse...

Há que distinguir os testamentos. Todavia, no que toca ao Velho Testamento, Saramago tem toda a razão.