terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Direcção do PS tenta evitar ruptura de Alegre
(DN) 16.12.2008 JOÃO PEDRO HENRIQUES VASCO NEVES
Esquerdas. A pré-ruptura de Manuel Alegre com o PS foi ontem combatida pela direcção do partido, evitando pôr mais achas na fogueira. Multiplicaram-se as reacções de dirigentes dizendo que o PS "é a casa" política do ex-candidato presidencial
A direcção socialista reagiu ontem ao discurso de Manuel Alegre, domingo, no "fórum das esquerda" - onde uma pré-ruptura com o partido foi anunciada - evitando pôr mais achas na fogueira e recordando mesmo ao vice-presidente da Assembleia da República que o PS é a sua "casa natural". A expressão pertence a Pedro Silva Pereira. Ontem, reagindo à intervenção do deputado-poeta na Aula Magna da Reitoria, o ministro da Presidência afirmou que Manuel Alegre "faz parte do PS, é deputado, é vice-presidente da Assembleia da República pelo PS e a sua casa natural é o PS". "O PS é a sua casa", reforçou um outro ministro, Augusto Santos Silva, titular dos Assuntos Parlamentares.
Um outro dirigente, António Vitorino, sublinhou também a ligação antiga de Alegre à sua "casa" socialista: "Tem uma relação afectiva muito forte com o PS" e "entre esses afectos e um cálculo político para se lançar numa aventura política, ele ainda hesita", disse, ontem à noite, na RTP. Acrescentando: "Acho que Manuel Alegre ainda não decidiu pessoalmente."A cautela significa que a direcção do PS vê com preocupação a radicalização de Manuel Alegre, que no domingo deixou no ar, não excluindo, a hipótese de formar um novo partido e de fazer "ir a votos" a "nova base programática" que quer lançar (transformando os painéis do fórum de domingo em algo mais permanente).
Há a consciência de que uma cisão do ex-candidato presidencial com o seu partido capitalizará os votos do eleitorado que deu maioria ao PS em 2005 mas agora está descontente (a tal "ruptura afectiva" de que António Costa falou, a propósito dos protestos dos professores). E, sob o anonimato, confessa-se impotência: a bola está completamente do lado do ex-candidato presidencial.
Aliás, Manuel Alegre, no seu discurso, dirigiu-se explicitamente aos militantes descontentes do PS, dizendo que era para estes que ia a sua "fidelidade de militante socialista". Tentou, também, avisar o Bloco em relação a radicalizações contra o PS: "A reconfiguração da esquerda portuguesa não se fará sem o concurso de eleitores, simpatizantes e militantes do Partido Socialista."
A direcção do PS tentou, precisamente, explorar a própria dificuldade da posição de Alegre face ao partido quando alinha em convergências com um partido, o Bloco de Esquerda, para quem não há qualquer espécie de possibilidade de "ponte" com o PS. "Sob o chapéu daquela convergência aparecem então duas posições completamente distintas: uma de Alegre, que manifestamente não considera o PS o seu inimigo; e outra de Louça, que considera o PS o inimigo", explicou António Vitorino.
Pela manhã, Pedro Silva Pereira tinha afirmado mais ou menos o mesmo: "Percebo mal a ideia de haver uma convergências das esquerdas contra a esquerda, particularmente contra o PS, que está no Governo". Ou seja, não é "pensável uma convergência das esquerdas sem as forças maiores da esquerda portuguesa e, sobretudo, sem um projecto de construção de alguma coisa de positivo que não seja apenas um projecto contra a força maior da esquerda democrática".

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