Mas onde está o espanto? Não está mais que visto que o "trabalho" de Portas é oferecer-se como muleta do PS no caso deste, chefiado por Sócrates, não ter a maioria absoluta? E poder ter o argumento de campanha contra "a maioria de um só partido" indo buscar votos para viabilizar uma maioria de dois partidos, Sócrates-PP? O preço pode ser um ministro ou dois, espaço na administração público ou outro tipo de produtos mais voláteis. É provavável, de resto, que mais veladamente ou menos, o PSD se proponha ao mesmo trabalho de se oferecer para um glorioso bloco central, trinta e tal anois depois...
Veremos então não tanto de que lado está o PP - está visto que hoje como ontem está do lado do poder - mas de que lado estará Sócrates, e o que quererá dizer a última e misteriosa consigna do PS como partido "popular" de "esquerda" com a prática quotidiana a que todos temos assistido. Veremos então, se não virmos antes, se o PS, e cada um dos militantes socialistas, têm ou não têm problemas de identidade... (P.B.)
Parlamento aprova Estatuto dos Açores com dois terços
Manuel Queiró acusa o CDS de ter feito “uma santa aliança com a esquerda”
19.12.2008 - 16h16 Margarida Gomes
Manuel Queiró, ex-secretário-geral do CDS-PP, está estupefacto com o facto de o seu partido se ter colocado hoje ao lado de toda a esquerda, votando favoravelmente o polémico Estatuto Político Administrativo dos Açores, abrindo assim uma ”ruptura com o seu espaço político natural”."Estou estupefacto e vejo o sentido de voto do meu partido como uma ruptura com todo o espaço político a que pertence. O CDS não podia ter esquecido que o seu eleitorado votou em Cavaco Silva nas últimas presidenciais e foi responsável por não ter havido uma segunda volta”, disse ao PÚBLICO, momentos depois de o diploma ter sido aprovado no Parlamento por uma maioria de dois terços dos deputados que não tiverem em conta o veto do Presidente da República. A favor do diploma votaram 152 deputados do PS-CDDS-PP, PCP, BE e PV dois do PSD e um não inscrito. Houve 76 deputados que se abstiveram, a maioria dos quais era do PSD. Censurando a “santa aliança” que o CDS fez com a esquerda “para vingar a derrota das presidenciais”, Manuel Queiró diz que o que estava em causa “já não era a questão do Estatuto dos Açores, mas sim um braço de ferro entre aqueles que votaram em Cavaco Silva e os que não votaram”. “Isto é um braço político entre o Presidente da República e o CDS colou-se do lado de José Sócrates”, atirou, acusando, o seu partido de ter “mudado de campo”.Abstenção seria compreensívelConvicto de que esta decisão terá para o CDS “consequências pesadíssimas” a prazo, Queiró entende que o partido criou “ um obstáculo a futuros entendimentos na sua área política”. “Isto é pior do que a equidistância!”, declarou.Desiludido, o ex-secretário-geral deixa escapar um “nunca me passou pela cabeça” que o “CDS se passasse para o campo adversário, votando a favor do diploma” e afirma que único sentido de voto que seria compreensível e que o eleitorado o partido, eventualmente aceitaria era a abstenção, “por causa de compromissos com os Açores. Mas era tudo”.Temendo dias de alguma conturbação, porque há muita gente inquieta com a posição agora assumida pelo CDS no Parlamento, Queiró só espera que as consequências políticas para o seu partido não sejam “tão desastrosas” como aquelas que antevê.Viabilização de um Governo do PSTambém Manuel Sampaio Pimentel, o único dirigente nacional do partido a bater com a porta pelo facto de o presidente do partido, Paulo Portas, ter escondido durante um ano dos militantes, a demissão do vice-presidente Nobre Guedes, olha com perplexidade para o sentido de voto do seu partido. E diz que ao votar favoravelmente o diploma, “o CDS dá um sinal para o futuro”, ou seja, “isto cada vez mais caminha para a viabilização de um Governo do PS”. É para este campo que aponta razões para eventuais desfiliações do partido.Preocupado, o ex-dirigente da comissão política nacional democrata-cristã, que defendeu que o CDS deveria ter apresentado uma candidatura autónoma em vez de ter dado o seu apoio a Cavaco Silva, considera que “é no mínimo difícil de compreender que o Presidente da República tenha alegado razões políticas para vetar a lei e aqueles que suportaram a sua candidatura não tenham aderido a essa orientação”. “Para o cidadão comum isto é de difícil compreensão”, diz com a consciência de que “o dia de hoje, para o bem ou para o mal, vai separar águas”.
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