(JN) 24.10.09
Entrevista a Paul Moreira, jornalista e co-autor do livro "travailler à en mourir" sobre suicídios por stress laboral.
O que está na origem da onda de suicídios associados a stress laboral em França?
Desde finais da década de 80, início da de 90 que a lógica financeira passou a imperar nas empresas. A meta principal é a elevada rentabilidade. Para reduzir os custos, cortou-se no número de empregados e nos salários, deslocalizaram-se serviços e standartizaram-se os procedimentos. A introdução da gestão por objectivos gerou enorme competitividade, quebra das relações, programas de mobilidade e de reconversão profissional. Os problemas de stresse e de depressão ligados ao trabalho atingiram níveis nunca antes conhecidos.
Sabe-se ao certo quantos suicídios por burnout já aconteceram em França?
Não há estudos nacionais. Uma projecção, a partir dos dados da região da Normandia, estima que haja um suicídio por dia, em França, por motivos laborais. Na Renault, há, pelo menos, seis casos (cinco concretizados e uma tentativa) confirmados oficialmente. Outros foram abafados e registados como acidentes. Há trabalhadores que morrem por crise cardíaca provocada por jornadas demasiado longas de trabalho, desrespeito absoluto pelos tempos de descanso. Foi o que aconteceu, por exemplo, no sector metalúrgico, onde um funcionário morreu depois de estar 21 horas seguidas a laborar. Provou-se que condições de trabalho eram ilegais, mas não o burnout.
Na Renault, quais as principais causas do desespero dos funcionários?
Os objectivos traçados para 2009 incluíam o aumento da produção em 40%, a redução dos custos na ordem dos 30% e a criação de 14 novos modelos. Os engenheiros e técnicos do tecnocentro de Guyancourt (Yvelines) - o cérebro da empresa, onde são criados os protótipos - estavam sujeitos a pressões desumanas. António, um lusodescendente de uma família humilde e que lutou muito para se licenciar, trabalhava demasiadas horas por dia e, à noite, ainda tinha de traduzir um manual técnico de 300 páginas. Dormia pouquíssimo. Tinha uma má relação com a chefe e, quando lhe comunicaram que teria de ir dois anos para a Roménia, sentiu-se num beco sem saída e acabou com a vida. As transferências constantes destroem as redes sociais. As mudanças de funções e a quebra das relações são também geradores de grande stress e sofrimento
O que está na origem da onda de suicídios associados a stress laboral em França?
Desde finais da década de 80, início da de 90 que a lógica financeira passou a imperar nas empresas. A meta principal é a elevada rentabilidade. Para reduzir os custos, cortou-se no número de empregados e nos salários, deslocalizaram-se serviços e standartizaram-se os procedimentos. A introdução da gestão por objectivos gerou enorme competitividade, quebra das relações, programas de mobilidade e de reconversão profissional. Os problemas de stresse e de depressão ligados ao trabalho atingiram níveis nunca antes conhecidos.
Sabe-se ao certo quantos suicídios por burnout já aconteceram em França?
Não há estudos nacionais. Uma projecção, a partir dos dados da região da Normandia, estima que haja um suicídio por dia, em França, por motivos laborais. Na Renault, há, pelo menos, seis casos (cinco concretizados e uma tentativa) confirmados oficialmente. Outros foram abafados e registados como acidentes. Há trabalhadores que morrem por crise cardíaca provocada por jornadas demasiado longas de trabalho, desrespeito absoluto pelos tempos de descanso. Foi o que aconteceu, por exemplo, no sector metalúrgico, onde um funcionário morreu depois de estar 21 horas seguidas a laborar. Provou-se que condições de trabalho eram ilegais, mas não o burnout.
Na Renault, quais as principais causas do desespero dos funcionários?
Os objectivos traçados para 2009 incluíam o aumento da produção em 40%, a redução dos custos na ordem dos 30% e a criação de 14 novos modelos. Os engenheiros e técnicos do tecnocentro de Guyancourt (Yvelines) - o cérebro da empresa, onde são criados os protótipos - estavam sujeitos a pressões desumanas. António, um lusodescendente de uma família humilde e que lutou muito para se licenciar, trabalhava demasiadas horas por dia e, à noite, ainda tinha de traduzir um manual técnico de 300 páginas. Dormia pouquíssimo. Tinha uma má relação com a chefe e, quando lhe comunicaram que teria de ir dois anos para a Roménia, sentiu-se num beco sem saída e acabou com a vida. As transferências constantes destroem as redes sociais. As mudanças de funções e a quebra das relações são também geradores de grande stress e sofrimento
1 comentário:
Viva o capitalismo, o melhor sistema do mundo, o que faz os homens felizes porque não há nada mais feliz do que um morto. Até para a Segurança Social.
Enviar um comentário