(JN) 2.10.09 Pedro Ivo de Carvalho
Apesar de ter falado ao país da forma como falou, o presidente da República só conseguiu passar uma única mensagem clara: com ele na Presidência, o Governo não vai ter descanso. E porquê? Porque houve destacados membros do PS que tentaram colá-lo à campanha do PSD, ultrapassando os "limites do tolerável e da decência". Porque esses mesmos dirigentes queriam, na verdade, criar, com tais atitudes, uma cortina de fumo que impedisse os portugueses de enxergar a negra realidade do país onde vegetam. Porque houve muito boa gente que parece não ter engolido a fantasiosa tese (não desmentida nem confirmada pelo presidente, antes pelo contrário) de que "alguém", em nome do Governo, andava a espiar a Presidência da República, com insondáveis propósitos. Porque, basicamente, tentaram manipular o presidente. E o presidente não é manipulável. Quando muito, manipulador.
Agora, a outra parte dos factos: Cavaco Silva não quis interromper a campanha eleitoral para não condicionar a escolha dos portugueses, mas deu apenas dois dias de novo Governo aos mesmos portugueses para lhes dizer que escolheram para comandar os destinos do país uma trupe de manipuladores e espiões. O raciocínio, convenhamos, é retorcido. E ainda mais se tornará se, como se prevê, Cavaco Silva indigitar José Sócrates como primeiro-ministro. Se o fizer, estará a ser inconsequente com a violência dos seus argumentos; se não o fizer, origina uma tempestade política ainda mais devastadora do que aquela que semeou. Moral da história: para provavelmente ficar bem com a própria consciência, Cavaco Silva fez rebentar um conflito que não só teve o condão de fortalecer a causa do Governo, como de lançar lama na figura institucional do presidente da República. De árbitro do sistema, Cavaco arrisca-se a transformar-se no sabotador do mesmo sistema. E se é verdade que são os homens que fazem os cargos, também o é que têm exactamente a mesma capacidade para os dilacerar.
Entre outras coisas, não deixa de ser extraordinário que o chefe do Estado de Portugal tenha demorado 17 longos meses a perceber que as noticiadas suspeitas que Belém tinha em relação ao Governo - nunca por si desmentidas durante esse período, convém lembrar - podiam consubstanciar-se na invasão dos e-mails da Presidência. E foi por ter sido tão astuto na soma dos factos que o presidente autorizou a entrada, no seu Palácio, da Polícia do Correio Electrónico no mesmo dia em que comunicou aos não tão info-excluídos concidadãos que, se calhar, também havia gente a espiolhar o seu Microsoft Outlook.
O desconforto é parte integrante da condição humana, mas até o presidente da República devia saber que há alturas na vida em que temos mesmo de engolir o sapo.
Agora, a outra parte dos factos: Cavaco Silva não quis interromper a campanha eleitoral para não condicionar a escolha dos portugueses, mas deu apenas dois dias de novo Governo aos mesmos portugueses para lhes dizer que escolheram para comandar os destinos do país uma trupe de manipuladores e espiões. O raciocínio, convenhamos, é retorcido. E ainda mais se tornará se, como se prevê, Cavaco Silva indigitar José Sócrates como primeiro-ministro. Se o fizer, estará a ser inconsequente com a violência dos seus argumentos; se não o fizer, origina uma tempestade política ainda mais devastadora do que aquela que semeou. Moral da história: para provavelmente ficar bem com a própria consciência, Cavaco Silva fez rebentar um conflito que não só teve o condão de fortalecer a causa do Governo, como de lançar lama na figura institucional do presidente da República. De árbitro do sistema, Cavaco arrisca-se a transformar-se no sabotador do mesmo sistema. E se é verdade que são os homens que fazem os cargos, também o é que têm exactamente a mesma capacidade para os dilacerar.
Entre outras coisas, não deixa de ser extraordinário que o chefe do Estado de Portugal tenha demorado 17 longos meses a perceber que as noticiadas suspeitas que Belém tinha em relação ao Governo - nunca por si desmentidas durante esse período, convém lembrar - podiam consubstanciar-se na invasão dos e-mails da Presidência. E foi por ter sido tão astuto na soma dos factos que o presidente autorizou a entrada, no seu Palácio, da Polícia do Correio Electrónico no mesmo dia em que comunicou aos não tão info-excluídos concidadãos que, se calhar, também havia gente a espiolhar o seu Microsoft Outlook.
O desconforto é parte integrante da condição humana, mas até o presidente da República devia saber que há alturas na vida em que temos mesmo de engolir o sapo.
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