Carta aberta ao Presidente do Partido Socialista
Vai longe no tempo o prazer que tenho de ter o conforto do seu amável cumprimento, que sempre entendi como solidário e reconfortante nestes sempre pouco entusiasmantes acontecimentos partidários.
Querem as circunstâncias que esta missiva não seja uma extensão do que acima referi, mas sim, apresentar formalmente ao Presidente do Partido a minha firme convicção de me candidatar a Secretário-geral do nosso Partido Socialista.
À partida poderá parecer pura estultice, mas não é.
O nosso Partido vive nas margens do absurdo. Qualquer organização, e muito especialmente o Partido de onde emanam os mais elevados representantes da Nação, deve ser um exemplo de probidade e os seus órgãos internos um exemplo de rigor e fonte de legitimidade, das bases ao topo da representatividade.
As figuras de estilo da luta política não devem ferir a dignidade de ninguém, não reconheço a ninguém legitimidade alguma para aí se reverem em tragédia.
A perenidade do Estado de Direito deve ser um meio de estabelecer para todos uma vida digna, onde todos sejam parte e não sujeitos.
O firme propósito de disputar a liderança do partido pressupõe, muito justamente, substituir o actual Líder e retirá-lo da governação do Estado, como é óbvio.
O partido é o espaço de luta de ideias no quadro dos estatutos e da declaração de princípios. É necessário assegurar a todos os candidatos as mesmas condições, e como muito bem sabe o partido pertence a todos por igual.
Em conformidade e reclamando o conhecimento das mais torpes entorses à legitimidade e às desfavoráveis condições das candidaturas oponentes ao poder instalado, experiência de uma já longa vida de andanças partidárias, venho junto do meu Caro Presidente pedir a sua especial atenção para que a democracia interna e o respeito que a todos é devido não sejam ofendidos.
Como é público, o actual Primeiro-ministro e Secretário-geral do Partido parece ter uma luta pessoal com o País, colocando assim em risco a própria soberania Nacional.
Os militares são considerados como se o Estado não lhe devesse especiais atenções, nobreza no trato e não desdém, por mais duras que sejam as condições que a realidade nos impõe.
Os professores não podem ser tidos como simples mandaretes de interesses canhestros,
são um corpo do Estado e não se podem tratar como simples sindicalistas sem carácter, são muito mais do que essa simplista e maneirista forma de analisar os problemas.
As Obras Públicas e o seu absurdo ministro fazem já parte do anedotário nacional, o TGV sem rumo e sem justificação plausível, uma nova ponte sobre o Tejo a nascer em zona nobre da cidade em vez de ser a norte do Vasco da Gama, como pensa a maioria dos entendidos, um novo aeroporto sem se saber onde param as disponibilidades financeiras futuras.
Uma classe média mais do que espremida por impostos, pagam os devaneios do despesista Estado com custos que ninguém esclarece, dinheiro muito mais útil à economia das empresas em consumo reprodutivo, em trabalho e conforto para as famílias.
No que concerne à segurança pública: as pessoas têm medo de sair à rua à noite, têm medo que os seus filhos não voltem para casa, as pessoas têm medo que no meio da rua apareça alguém que os ameace com uma arma e lhes roube o carro, as pessoas têm medo de ir a sítios porque há tiroteios ou droga a ser traficada e consumida à vista de todos sem intervenção da polícia, acresce que não é por culpa da polícia, mas sim por culpa da falta de meios que o Governo teima em não colocar à disposição destas forças por pura obsessão do estafado rigor orçamental.
A Justiça em bolandas entre Magistrados, Códigos e aplicações de sentenças, que o povo não compreende e dificilmente aceita, uma imagem de impunidade da grande e pequena criminalidade, a ideia de insegurança está mais do que instalada, as nossas cidades estão desertas. É o medo.
Os mais que sentidos sinais de um Estado sem lei, com o incidente impensável num País da União Europeia, ocorrem na Madeira, perante o desnorte a quem incumbe aplicá-la.
Os obscuros e pouco exemplares agentes reguladores, desde o Banco de Portugal à simples ERC, são de nula utilidade prática para a vida da comunidade.
A privatização anunciada de parte do sistema financeiro é de uma terrível falta de sentido de Estado de Direito.
Afrontar o futuro estético da capital do País com projectos sem o mínimo sentido de governo para as pessoas, pondo a recato os interesses privados de duvidosa legitimidade.
Não me candidato a cópia de Barack Obama, até porque tenho mais dez anos, mas o seu exemplo é significativo: cada um deverá encontrar a melhor forma de servir o seu país, e, como ele, não tenho medo.
Assim, espero poder apresentar-lhe os meus melhores cumprimentos pessoalmente, quando o meu Caro Presidente o considerar oportuno.
Armando Fernando Ramalho dos Santos
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
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