terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Pinhal já está a ser abatido para construir duas mil camas na costa algarvia
Um projecto verdadeiramente "estruturante" e "nacional" ou não viesse donde vem. Um escândalo já mais do que "estruturado" e "nacionalizado". Uma pouca-vergonha. (PB)

09.12.2008, Idálio Revez
O carimbo de projecto de interesse "estruturante" ou "nacional" permitiu contornar as leis do ordenamento para empreendimento no Algarve
Centenas de árvores foram cortadas no pinhal do Gancho, entre Altura e Monte Gordo, para dar lugar a mais um projecto de Potencial Interesse Nacional (PIN), com 2041 camas e campo de golfe. Os ambientalistas clamam contra mais um "crime anunciado". O promotor é Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica, que obteve do Ministério do Ambiente o reconhecimento de "interesse público" para um projecto que esteve mais de duas décadas adormecido.O empreendimento Verdelago desenvolve-se em 94 hectares, desde a EN125 até ao mar, junto à praia Verde. A devastação do pinhal já começou, o avanço do betão em direcção ao mar está para breve.

"O património ambiental do Algarve foi mais uma vez palco de um crime anunciado há muito", diz Luís Brás, dirigente da associação Almargem, lembrando que só para o concelho de Castro Marim, por via dos PIN, estão previstas quase mais dez mil camas turísticas. A população residente anda pelos sete mil habitantes. Do outro lado do Guadiana, na margem espanhola, cerca de 20 mil camas, em promoção, esperam que a crise passe e os investidores apareçam. Para atrair clientes, as agências chamam àquela zona de Ayamonte "Algarve espanhol", mas o mercado não reage.

Agora, a Associação dos Amigos da Mata e do Ambiente de Vila Real de St.º António, ao ver nascer o Verdelago, veio lembrar que é preciso tomar "consciência" e não repetir erros do passado. Nesse sentido, denunciou o abate de centenas de pinheiros junto à praia Verde - uma das maiores manchas verdes do litoral do Sotavento algarvio que já desapareceu. A denúncia desta associação não deverá ter grandes resultados práticos. "Pouco há a salvar. O mal está feito", admitem.

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