segunda-feira, 21 de abril de 2008

Analistas são "cavalo de Tróia" do Pentágono



E não foi assim que apareceram por cá os plumitivos defensores da invasão norte-americana ao Iraque, "analistas" militares e "analistas" políticos? Ao toque do vil sonante em notas verdes? Nomeamente entre os do "Público"? Quem não tinha percebido?

(Público) 21.04.2008
Maior parte dos analistas militares pagos pelas principais televisões têm interesses comerciais nas questões que estão a comentar
O Pentágono tem usado analistas militares que aparecem regularmente nas estações de televisão a comentar a guerra ao terrorismo para fazer passar informação favorável à administração, noticiou ontem o New York Times. Os analistas, supostamente independentes, têm sido transformados numa espécie de "cavalo de Tróia" dos media. E a maior parte tem ligações a empresas com interesses nas mesmas decisões políticas que estão a comentar. O NYT teve acesso a oito mil páginas de mensagens de e-mail, transcrições e registos descrevendo vários anos de reuniões privadas, viagens ao Iraque e a Guantánamo, e extensas listas de tópicos sobre as operações do Pentágono. "Estes registos revelam uma relação simbiótica onde as habituais linhas que separam o Governo do jornalismo foram obliteradas". Os analistas têm acesso a encontros restritos com os mais altos responsáveis militares, "incluindo os que têm uma influência significativa em questões de contratação ou de orçamentos". "Em troca, repetem os principais tópicos da administração, às vezes mesmo ultrapassando suspeitas de que a informação é falsa ou exagerada. Alguns analistas reconhecem ter posto de lado as suas dúvidas com medo de pôr em risco o seu acesso" a estas fontes. "A Administração Bush tem usado o seu controlo ao acesso e à informação num esforço de transformar os analistas numa espécie de cavalo de Tróia mediático - um instrumento destinado a moldar a cobertura do terrorismo dentro das principais estações de televisão e rádio".

"Na gíria do Pentágono, os analistas militares são referidos como "força de multiplicação de mensagens" ou "substitutos" que passam as mensagens da administração aos americanos "sob a forma das suas próprias opiniões", cita o jornal. São também considerados uma força de reacção rápida quando a cobertura mediática se torna demasiado crítica.

O extenso artigo do diário começa com o exemplo de uma visita a Guantánamo, organizada no Verão de 2005, na sequência de duras críticas às violações aos direitos humanos no centro de interrogações - a Amnistia Internacional tinha acabado de se referir a Guantánamo como "o Gulag dos nossos tempos". "Colocaram um grupo de [uma dezena de] oficiais na reserva num dos jactos normalmente usados pelo vice-presidente Dick Cheney e levaram-nos para uma bem orquestrada ronda a Guantánamo", escreve o NYT. "Os resultados foram rápidos. Os analistas foram para a televisão e para a rádio atacar a Amnistia Internacional, criticando os pe-didos para o encerramento das instalações e assegurando que todos os detidos eram bem tratados".

Don Meyer, que trabalhou nas Relações Públicas do Pentágono, afirmou que em 2002 foi tomada uma decisão estratégica para tornar os analistas no principal meio público de defesa da guerra. "Não é como se nos pagassem 500 dólares para falar na história. É mais subtil do que isso", comentou um dos analistas. Estes briefings do Pentágono permitem a muitos dos analistas um acesso a informações sobre contratos comerciais que de outra forma não teriam. John C. Garrett, comentador na Fox News TV e Radio, é um desses casos. Faz lobby pela Patton Boggs que ajuda as empresas a fazer negócios com o Pentágono, incluindo no Iraque. Admitiu ter usado estas informações em proveito dos seus clientes. Também se sabe, por mensagens de e-mail, que se mostrou disponível para ajudar os chefes militares: "Digam-me se têm alguns pontos específicos quequerem ver comentados ou que pre-feriam minimizar", escreveu em Janeiro de 2007. 8 mil páginas de e-mails, transcrições e registos provam uma relação promíscua entre os comentadores e o Pentágono.

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