Meneses percebeu agora que as cedências sobre cedências no sentido do compromisso, face a quem quer apenas pressionar sem assumir as responsabilidades, não é o melhor caminho. Entrou no Congresso de braço dado com Mendes Bota a declarar-se um paladino da regionalização o mais breve possível, para depois de negociar com Ferreira Leite o "tirar do tapete" a Marques Mendes, sair a dizer que a regionalização era uma assunto para ainda ser muito debatido dentro do Partido. Mais tarde, certamente para controlar a pressão de Bota, ressuscita ideia inconstitucional, reaccionária e miserável de uma região-piloto apontada ao Algarve, algo que, de resto, deixa os algarvios em má posição, do ponto de vista caracterológico, em relação ao resto do país que se bate pela regionalização.
O problema de Meneses, para além de não ter tido nunca as condições de tranquilidade necessária para afirmar um rumo, trabalho de provocação e confusão feito desde a primeira hora pelos Pachecos Pereiras e outros fala-baratos vendidos aos encantos da Linha, tal como os seus agentes no Porto, e independentementé de não se ficar a saber se ele próprio tem condições pessoais para o fazer em condições propícias, é que o PSD tem um diminuto espaço político desde que José Sócrates subiu ao poder e lhe preencheu na quase totalidade o espaço da direita.
Só que, claro, ao fim de três anos, esse preenchimento da direita, teve como consequências para o PS, a perda de largos sectores da sua esquerda, inclinados ora para não votarem em caso algum no PS, ora para votarem no BE ou no PCP.
Por isso, a estratégia de Meneses, considerada populista, de ir onde a esquerda ia, era inteligente e compreensível. Percebeu que era para aí que se deslocava o eleitorado.
Só que, por ironia do destino, quando no 4º ano de mandato, o Governo do PS dá sinais, aliás unívocos, de, não acreditando nas sondagens favoráveis, querer recuperar a sua ala eleitoral esquerda, indo pois perder parte da sua direita que sairá frustrada pelo que considerará traição ou eleiçoarismo, Menezes tinha condições de recuperar à direita, demonstrando como afinal os socialistas eram os mesmo despesistas de sempre, conversa tradicional de Manuela Ferreira Leite e da aristocracia que dirige o PSD Lisboa e pensa que por direito natural ou consetudionário deve dirigir o país ad aeternum.
Todavia explodiu com a perfídia vinda do Porto, comandada por Rio e executada por Aguiar-Branco, por sinal no mesmo dia que Jardim tinha dado uma "marretada" neste último daquelas de deixar seja quem for quase sem conserto. Se explodiu sinceramente ou calculisticamente pouco importará, importará sim, saber se terá uma vaga de fundo para capitalizar a sua vitimação, ou no sentido de voltar á liderança do Partido, ou no sentido de acertar naquela "mouche" para que tem a mente há tanto tempo apontada: Rui Rio e a Câmara do Porto. Não nos parece que Menezes, depois do estado interno do baronato do partido, na verdade uma cáfila de antropófagos políticos e trogloditas argumentativos no grau zero da ética política, faça grande finca-pé na primeira opção em desfavor da segunda. Nesse caso, teríamos uma má notícia para os socialistas portuenses empenhados em ganhar a Cãmara do Porto. Mas tudo pode acontecer, até Menezes ser posto no poder laranja em ombros...
Certo é que se Manuela Ferreira Leite, a que tirou o tapete a Marques Mendes e controlou os ímpetos iniciais de Menezes, alfinetando-o semana a semana até o fazer sangrar, é a mulher que tem dominado a política portuguesa dos últimos sete anos. Ela é a autora da obsessão do défice, que aliás atirava sistematicamente já à cara de Sousa Franco, sempre que este "desviava" um tostão para as responsabilidades sociais do Estado. Ela foi a iniciadora da desastrada política, de cariz salazarento, de subida do IVA e de outros impostos quando Barroso tinha prometido o choque fiscal e assim a principal responsável pela estagnação económica do país dos últimos anos, em que se tem agravado o fosso com a média europeia.
Donde é certo que se Ferreira Leite assumir pela primeira vez a liderança do PSD, deixando o seu lugar tradicional de eminência parda, mesmo com a sua imagem politicamente horripilante em termos populares, teremos o PSD com possibilidades de disputar com o PS o seu espaço natural na direita, embora se esvaneçam quaisquer possibilidades de pescar na esquerda.
O que o PS tentará fazer. Irá a tempo? Recuperará algum voto na função pública, nos professores, nos operários, nas pessoas que não têm dinheiro para viver, mesmo que lhe dê para fazer um figurão à esquerda nas discussões do código laboral e possa iniciar com os sindicatos o discurso do diálogo?
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