Aí está ele, e em força, o império do betão. E nós socialistas que tanto o combatemos em Cavaco na campanha vitoriosa de 1995! (Foi no século passado, pois foi; ou é betão que rima com aldrabão?) O desprezo por tudo o que não seja a cidade onde se alimenta a autoproclamada classe política, evolui para cegueira, fazendo com que o país que, até agora, no dichote queirosiano, era a capital mais a paisagem, deixe de ser sequer paisagem fora do jardim alentejano, transformado em greens e ressorts, verdadeira razão de ser do Alqueva. Por este andar, não tardará e serão também capital de nada, a tal locomotiva sem carruagens a que já se promovem as inteligências da estratégia global. Mais valia entreterem-se e tentarem entreter o país com(ainda) mais uma ponte sobre o Tejo ou mais umas auto-estradas gratuitas na região de Lisboa que têm poucas. Afinal o volume de negócios em betão, para dinamizar a pobre da construção civil de obras públicas, tão maltratada ultimamente, (vejam só o caso da Mota-Engil que se tem sentido tão injustiçada), não seria muito diferente... E esses gloriosos deputados durienses e transmontanos não abrem boca? E, claro, os portuenses? E os geógrafos, esses grandes vultos da nossa prosa opinativa, tantas vezes certeiros nas análises? E a CCRN funcionaliza-se veneranda? Ou é mesmo assim? E será como o Ballet rose, no antigamente, que como uma dizia uma cantiga clandestina, ninguém via no jornal nem na TV? Estaremos mesmo sozinhos, com a nossa liberdade e responsabilidade? Bom, juntemo-nos os que pensam como nós. Atentemos em mais este artigo sobre o tema do Tua e concluamos o que tivermos a concluir... Tivemos o período de sugar do comércio com a Índia, depois foram os escravos e o oiro do Brasil, agora a Europa, os planos regionais e sobretudo os horizontais do QREN... E nem um olhar sobre nós próprios? Sobre, ao menos, a beleza das nossas serranias e pedras inóspitas, imagem que o Salazar tentou criar de nós próprios para justificar a pobreza provocada pela sua política de altos impostos, extorsão fiscal e estagnação económica (Também foi no século passado, não foi?). Será preciso ser muito inteligente para perceber o lugar de Portugal na Europa dos viajantes e do lazer cultural, dos que não ligam aos greens ou pelo menos não ligam só a isso?
Como é possível não se perceber o que está em causa? Como é possível deixar um tema destes, da natureza, do turismo, da vinicultura, nas mãos de economistas, engenheiros civis ou hidro-eléctricos sem sensibilidade e quejandos? Se a guerra é demasiado trágica para ser deixada nas mãos dos militares, aqui o caso é o mesmo com os megalómanos, ou meros negociantes, do betão.
Rui Rodrigues (Público) 21 de Abril de 2008
A barragem do Rio Tua pode ser um investimento interessante para a empresa que a vai explorar, a EDP, mas provocará, sem dúvida, uma perda irrecuperável do transporte público, da paisagem e da agricultura de Trás-os-Montes, que se tornará mais pobre e despovoada.
A barragem do Rio Tua pode ser um investimento interessante para a empresa que a vai explorar, a EDP, mas provocará, sem dúvida, uma perda irrecuperável do transporte público, da paisagem e da agricultura de Trás-os-Montes, que se tornará mais pobre e despovoada.
A linha de via estreita do Tua foi construída no final do século XIX e início do século XX, desde a foz do Rio Tua até Bragança, numa extensão total de cerca de 133,8 quilómetros (Km), tendo sido desactivado o troço de Mirandela a Bragança, de 81 Km, no ano de 1991. A construção da linha desde a Foz do Tua até Mirandela, sobretudo os vinte quilómetros iniciais, comparável a algumas vias nos Alpes, foi uma obra de muito difícil execução, tendo sido concluída em 1887. Durante vinte anos, Mirandela foi o fim da linha mas, a partir de 1905, chegou a Bragança o que, naquela época, representou uma grande melhoria da mobilidade para as populações daquela região. O encerramento do troço de Mirandela a Bragança foi envolvido em polémica, pois foram gastos 300 mil contos (1 milhão e meio de Euros) pouco tempo antes do seu fecho, em 1991. Ficou por explicar esta despesa, sobretudo pelo facto de uma capital de distrito de Portugal ter ficado sem via férrea. Na altura houve alguma contestação, que quase desapareceu, após várias promessas de substituição do comboio por autocarros nas povoações afectadas. Infelizmente, passados cerca de 18 meses, após o encerramento da via, também os autocarros foram suprimidos e as populações ficaram sem qualquer transporte público.O transporte de mercadorias que o comboio facultava foi outra das grandes perdas para aquela região. Esta é, aliás, uma das maiores queixas de algumas povoações. Para se ter uma ideia desta situação basta dizer que um construtor perto de Azibo (30 km a norte de Mirandela), para encomendar cimento, só pelo serviço do transporte de camião até ao Pocinho, paga cerca de 500 euros. Outro tipo de mercadorias, tais como adubos, cereais, cortiça etc., eram transportadas por via férrea. A perda deste modo causou graves danos na economia local e as consequências, hoje, são visíveis porque o abandono das estações ferroviárias, que existiam, provocaram desemprego e emigração e consequente despovoamento.
Recentemente foi anunciada a intenção da construção de uma barragem no Rio Tua, o que poderá representar o desaparecimento do único troço ainda em funcionamento da linha, com mais de 120 anos de existência. A linha ferroviária do Tua ficará praticamente toda submersa, se for aprovado o projecto da EDP para a construção da barragem, com uma cota de 195 metros. Mesmo que se opte pela cota mínima, os últimos 15 quilómetros da via do lado da Foz do Tua irão desaparecer. Para a EDP que a irá explorar, pelo período de 75 anos, este é um investimento interessante, porque a nova barragem terá uma capacidade de 324 megawatts, embora, neste caso, a energia eléctrica que vai ser produzida seja insignificante para colmatar as necessidades do País.
Uma das ideias que têm sido propostas, antes de se construir novas barragens, seria aumentar a potência das que já existem, o que permitirá, com baixos investimentos, obter maiores proveitos. Um dos problemas de Portugal é a baixa eficiência energética, devido aos grandes desperdícios que se verificam no nosso país. Esta deveria ser a maior aposta a cumprir nos próximos anos.
A nova barragem só iria criar postos de trabalho durante a sua construção. Terminada esta, o número de pessoas necessárias será quase nulo. Os grandes prejudicadas com este projecto são, sem dúvida, as populações locais, uma vez que o encerramento definitivo da linha do Tua vai eliminar um serviço público de transporte, no acesso ao Porto (via linha do Douro) e a Mirandela. Outra consequência consistiria na perda de rendimento para os agricultores, vinicultores e outros trabalhadores agrícolas na inundação das terras que são a sua única base de sustentação económica. O turismo seria afectado porque, actualmente, a linha do Tua atrai milhares de visitantes nacionais e estrangeiros.O turismo e agricultura da região são duas actividades não deslocalizáveis que a região não pode perder; caso contrário, toda aquela zona do país ficará mais pobre. Se a linha do Tua desaparecer, provavelmente vão ocorrer as mesmas consequências que se verificaram no troço encerrado entre Mirandela e Bragança, onde algumas promessas feitas às populações não foram cumpridas.A construção de uma barragem gera sempre impacte ambiental e cada caso é um caso, sendo este bastante digno de estudo e de ponderação.
Estão previstos alguns investimentos, em Espanha, que indirectamente irão beneficiar a região de Trás-os-Montes. Nos próximos anos, com a conclusão da nova rede ferroviária espanhola, vai ser possível ligar Madrid a Puebla de Sanábria, em 1 hora e 40 minutos e a capital espanhola a Salamanca, em 1 hora e 30 minutos. Está também prevista a reabertura do troço de Fuente de S. Estéban até Barca de Alva, que ligará a fronteira portuguesa a Salamanca. Se do lado português for reaberta a via desde Barca de Alva até ao Pocinho, a linha do Douro terá ainda maiores potencialidades turísticas. Quanto mais tráfego tiver a linha ferroviária do Rio Douro e melhor funcionar, maior beneficio resultará para a linha do Tua, que dela depende, e que já foi considerada, por revistas estrangeiras, como uma das cinco mais belas linhas turísticas da Europa. Em Portugal, existem poucos locais com aquela beleza, sendo difícil descrever, por palavras, os cerca de 54 quilómetros de via férrea, que separam Mirandela da foz do Tua, pois é uma experiência inesquecível, que fica na memória de qualquer visitante e com o desejo de um dia lá voltar. Para se ter uma ideia da beleza ao longo deste itinerário, podem-se ver as fotos no seguinte ‘site’: http://picasaweb.google.pt/rodrigues.rui1/LinhaDoTua03?authkey=rk1Bwb8VOgY
1 comentário:
Vi as fotos sobre a Linha do Tua e fiquei deslumbrado. Não conhecia esta Linha. Tem que lá ir antes que seja encerrada.
Temos que fazer alguma coisa para salver esta beleza de Portugal
Carlos Santos
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