Onde está a Eurosondagem?
Para estas eleições, a Rádio Renascença, a SIC e o Expresso decidiram não solicitar à Eurosondagem a realização de uma última sondagem antes das eleições, o que julgo ser inédito. Não conheço as razões, mas vou aqui presumir - e retiro o que escreverei de seguida se me disserem que a pressuposição está errada - que isto sucede em consequência do que se passou nas Europeias. É quase inútil dizer que estão no seu pleno direito. Mas atrevo-me a dizer que foi uma péssima decisão, por duas razões:1. O público fica mais bem servido com mais sondagens e não com menos. Mais sondagens significa que ficamos a dispor de mais resultados com maior variabilidade de métodos. Por outras palavras, descontando erro amostral, ficamos a poder apreciar melhor se diferentes resultados se devem a diferentes opções técnicas ou metodológicas ou se os resultados são independentes delas. Mais sondagens significa mais observações e, logo, menos incerteza. E mais sondagens significa ainda que um outlier -sempre possível - é mais facilmente "desdramatizado" e colocado em contexto.2. Não fazer sondagens porque os resultados das últimas sondagens de intenções de voto nas Europeias tiveram importantes discrepâncias em relação aos resultados eleitorais é mandar uma mensagem completamente errada à opinião pública sobre o que é uma sondagem. É dizer que ela é uma previsão e que, se essa "previsão" falhar, se cometeu um erro. Pode ser que sim. Mas pode ser que não. É preciso estudar, como não me canso de dizer. E há mais. Depois das Europeias, os relatos e as explicações do "fracasso" ficaram quase exclusivamente nas mãos de políticos ou de comentadores directa ou indirectamente ao serviço de partidos políticos. Não detectei, na esmagadora maioria destes comentários, um único argumento minimamente apresentável de natureza técnica, mas apenas julgamentos sumários, insultos e injuriosas alegações de desonestidade e manipulação. Deixar parecer que este discurso absolutamente inane influenciou uma decisão sobre a condução ou não de sondagens pré-eleitorais é, pura e simplesmente, entregar o ouro aos bandidos. Desculpem meter-me na vida dos outros e, como mencionei, retiro o que escrevi se me explicarem que as razões foram outras. Mas decisões como estas influenciam a qualidade do debate público sobre as sondagens e a qualidade da informação que é transmitida ao público.
Publicado por Pedro Magalhães no Blog "Margens de Erro"
Para estas eleições, a Rádio Renascença, a SIC e o Expresso decidiram não solicitar à Eurosondagem a realização de uma última sondagem antes das eleições, o que julgo ser inédito. Não conheço as razões, mas vou aqui presumir - e retiro o que escreverei de seguida se me disserem que a pressuposição está errada - que isto sucede em consequência do que se passou nas Europeias. É quase inútil dizer que estão no seu pleno direito. Mas atrevo-me a dizer que foi uma péssima decisão, por duas razões:1. O público fica mais bem servido com mais sondagens e não com menos. Mais sondagens significa que ficamos a dispor de mais resultados com maior variabilidade de métodos. Por outras palavras, descontando erro amostral, ficamos a poder apreciar melhor se diferentes resultados se devem a diferentes opções técnicas ou metodológicas ou se os resultados são independentes delas. Mais sondagens significa mais observações e, logo, menos incerteza. E mais sondagens significa ainda que um outlier -sempre possível - é mais facilmente "desdramatizado" e colocado em contexto.2. Não fazer sondagens porque os resultados das últimas sondagens de intenções de voto nas Europeias tiveram importantes discrepâncias em relação aos resultados eleitorais é mandar uma mensagem completamente errada à opinião pública sobre o que é uma sondagem. É dizer que ela é uma previsão e que, se essa "previsão" falhar, se cometeu um erro. Pode ser que sim. Mas pode ser que não. É preciso estudar, como não me canso de dizer. E há mais. Depois das Europeias, os relatos e as explicações do "fracasso" ficaram quase exclusivamente nas mãos de políticos ou de comentadores directa ou indirectamente ao serviço de partidos políticos. Não detectei, na esmagadora maioria destes comentários, um único argumento minimamente apresentável de natureza técnica, mas apenas julgamentos sumários, insultos e injuriosas alegações de desonestidade e manipulação. Deixar parecer que este discurso absolutamente inane influenciou uma decisão sobre a condução ou não de sondagens pré-eleitorais é, pura e simplesmente, entregar o ouro aos bandidos. Desculpem meter-me na vida dos outros e, como mencionei, retiro o que escrevi se me explicarem que as razões foram outras. Mas decisões como estas influenciam a qualidade do debate público sobre as sondagens e a qualidade da informação que é transmitida ao público.
1 comentário:
Foi feita uma sondagem. Conheço os resultados.Estão publicados num comentário neste blogue. Foi-nos dito que iam fazer outra mais em cima. O que aconteceu? Não sei! Provavelmente, com tanta sondagem, o Expresso achou que perderia peso. Ou já não acredita na eficiência da Eurosondagem. Mas que fez uma, esta semana, fez, que não dá novidade nenhuma.
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