sábado, 5 de setembro de 2009

A TVI divulgou ontem novos dados que envolvem um outro primo do primeiro-ministro, Bernardo Pinto de Sousa, e recuperou o DVD onde Smith envolve Sócrates

(CM) 5.9.09
Uma nova cara, a mesma notícia. O caso Freeport abriu o ‘Jornal Nacional’ da TVI de ontem. Sem Manuela Moura Guedes, foi a Patrícia Matos, uma estagiária, quem coube dar a novidade: há mais um primo de José Sócrates alegadamente envolvido no caso do outlet de Alcochete. Chama-se José Paulo Bernardo Pinto de Sousa, mais conhecido por ‘Bernardo’ ou ‘Gordo’.
A notícia da TVI nasceu com base em depoimentos de dois arguidos do caso Freeport que pediram o anonimato. Os denunciantes falaram à estação de Queluz de um homem mencionado em e-mails apreendidos pela Polícia Judiciária e cujo nome de código terá sido utilizado por Charles Smith e outros intervenientes no negócio.
Já no famoso DVD divulgado há meses pela TVI Charles Smith afirmava ter entregue durante dois anos envelopes com subornos a um primo de José Sócrates que alegadamente os faria chegar ao então ministro do Ambiente.
Num dos e-mails, agora na posse da PJ, datado de 18 de Maio de 2002, e enviado por Charles Smith para o seu sócio na Smith & Pedro, Manuel Pedro, lê-se: "Temos que pedir ao Freeport para enviar 80 mil libras ainda esta semana para podermos pagar ao pinochio algo no dia 31 de Maio, conforme eu combinei com o Bernardo, para não arriscar nada."
Mais tarde, a 15 de Junho de 2002, Smith enviou para Gary Russel, administrador do Freeport, o seguinte e-mail: "Estou preocupado que o protocolo não seja assinado até poder dizer ao gordo que foi feita uma transferência."
As tentativas que a TVI fez para chegar até José Paulo Bernardo Pinto de Sousa saíram falhadas. O primo de Sócrates tem vários negócios em Angola, até onde se desloca com frequência.
Segundo apurou o CM, a peça da TVI só foi montada ontem à tarde, como aliás é hábito na estação quando se trata de reportagens exclusivas, para evitar fugas de informação. Depois do afastamento de Moura Guedes do ecrã, permanecia a dúvida sobre o alinhamento do jornal de ontem, mas foi mesmo a investigação de Ana Leal sobre o caso Freeport a abrir o espaço informativo de sexta-feira.
DESMENTIDO DE MADRID MAL RECEBIDO EM LISBOA
O desmentido da Prisa sobre o papel de Cébrian no cancelamento do ‘Jornal de Sexta’ de Manuela Moura Guedes foi muito mal recebido na administração da Media Capital. Uma fonte do grupo espanhol fez saber à Lusa que o conselheiro-geral da Prisa nada tinha a ver com assunto e que a decisão tinha sido tomada pela administração da Media Capital, isto é, por Bernardo Bairrão. Acontece que, como o CM noticiou ontem, a ordem irreversível de cancelamento foi dada na terça-feira por Cébrian a Bernardo Bairrão, e este ainda tentou, face à ameaça de demissão da direcção de direcção da TVI e ao terramoto político que a decisão iria provocar em plena campanha eleitoral, adiar para depois das eleições o fim do ‘Jornal de Sexta’. Apenas depois de Cébrian se ter mostrado inflexível o processo seguiu os seus termos, com a direcção de Informação a dizer na quarta-feira Manuela Moura Guedes que ia ser afastada dos ecrãs. O CM contactou a Prisa em Madrid, e o gabinete de comunicação do grupo espanhol referiu apenas que não havia nadaa dizer sobre a matéria.
CAVACO ESPERA QUE NÃO TENHA HAVIDO CENSURA
O Presidente da República recordou ontem que "a liberdade de informação é um bem precioso que conquistámos no 25 de Abril e todos os portugueses desejam que seja preservada. Penso que no tempo pré-eleitoral que vivemos não devo acrescentar mais nada., revelou, quando questionado sobre a suspensão do ‘Jornal Nacional’. Questionado sobre se estará a ser violada a liberdade de imprensa, Cavaco Silva afirmou: "Espero que não."
O Presidente escusou-se a responder se admite receber a direcção de Informação demissionária da TVI caso esta solicite uma audiência. "Não ia agora aqui anunciar aos senhores o que é que iria fazer ou não fazer", declarou Cavaco Silva. Quando Marcelo Rebelo de Sousa saiu da TVI, debaixo de alegadas pressões do Governo, Jorge Sampaio, então Presidente, recebeu em audiência o comentador político. .
INGLESES ATRASAM INVESTIGAÇÃO
Mais de quatro meses depois de uma comitiva de magistrados e elementos da Polícia Judiciária ter ido a Londres tentar obter elementos sobre o caso Freeport, o impasse continua.
As autoridades encontraram dados que permitiam aos investigadores avançar para a constituição de novos arguidos, tendo inclusive detectado o rasto de algumas contas bancárias em que poderão ter sido depositadas as luvas pelo licenciamento do outlet de Alcochete. Quatro meses passados, a informação ainda não chegou a Portugal.
O problema está na burocratização do sistema. As autoridades têm de aguardar o envio dos documentos pela via judicial, mas nem sequer é para já líquido que os mesmos cheguem ao nosso país. A demora está a irritar os responsáveis pela investigação. Quando se deslocaram à sede do Serious Fraud Office, tudo parecia fácil. Os investigadores puderam aceder à informação já recolhida pelos ingleses, designadamente a passagem de elevadas verbas consideradas suspeitas entre contas bancárias de alguns dos protagonistas. Um perito das Finanças esteve uma semana antes em Londres e reuniu também informação relevante.
Outro dos objectivos das autoridades portuguesas na deslocação a Inglaterra era confirmar se os dados recolhidos pelo ingleses validavam as declarações do arguido Charles Smith, que falava nos pagamentos a José Sócrates num vídeo gravado por um antigo administrador da Freeport, Alan Perkins. Todos os dados então recolhidos continuam sem chegar a Portugal.
PINTO DE SOUSA É FIGURA CENTRAL NO PROCESSO
Bernardo Pinto de Sousa, primo de José Sócrates, é uma das figuras centrais do processo Freeport, de acordo com o semanário ‘Sol’. O jornal escreve que Bernardo Pinto de Sousa poderá esclarecer os indícios de pagamentos de luvas no processo de licenciamento do outlet e qual o envolvimento do primeiro-ministro, sendo o seu nome mencionado no DVD do processo.

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