quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Louçã procurou encostar Sócrates à direita e à corrupção. Sócrates procurou mostrar o radicalismo de Louçã
(Público) 08.09.2009 - 23h34 São José Almeida
Foi o verdadeiro debate da esquerda. Conscientes de que há um eleitorado volátil à esquerda que pode estar em deslocação do PS para o BE, José Sócrates e Francisco Louçã empenharam-se em disputá-lo ao milímetro, usando todos os recursos para ganhar terreno ao adversário. Uma disputa tão acesa que impediu ambos os líderes no final do debate de ontem – que passou na RTP1 e foi moderado por Judite de Sousa – de esclarecer se estão disponíveis para negociar uma eventual solução governativa.
Nem Sócrates nem Louçã disseram que o farão, mas também não o negaram. O líder do PS procurando salientar o que classificou como radicalismo de Louçã; o líder do BE procurando encostar Sócrates e o seu Governo à direita e aos negócios de Estado que vê como menos claros. E se Louçã manteve o mesmo tom acusador e inquiridor que o caracterizam nestes debates, foi manifesto que Sócrates se preparou de modo que não fez para debater com o líder do PCP, Jerónimo de Sousa, ao ponto de ter ido para o estúdio com o programa do BE sublinhado a amarelo, em vez de apresentar apenas as suas propostas.
O debate começou com Louçã ao ataque. Clarificando que não considera o PS e o PSD iguais, Louçã partiu para o ataque ao Governo e, depois de uma referência à “perseguição aos professores”, partiu para a enunciação de negócios de Estado que o BE considera “erros” e que apresentou como se o Governo tivesse querido favorecer o antigo dirigente do PS, Jorge Coelho. Citou então a entrega do Terminal de Alcântara à Mota-Engil, “sem concurso”. E o concurso para construção da auto-estrada entre Oliveira de Azeméis e Coimbra, ganho pela mesma MotaEngil, cujo conselho de administração é presidido por Jorge Coelho, empresa que duplicou o orçamento da obra, depois do concurso ganho.
Ao responder, Sócrates começou por vitimizar-se e por afirmar como “extraordinário” que o BE o eleja como alvo, quando a direita quer privatizar o Estado Social. E mais à frente é que recusou que a economia possa ser reduzida a “pequenos casos”. Isto intercalado com elogios ao fim da recessão técnica e com a defesa do investimento público e do apoio às pequenas e médias empresas como saída da crise. E perante a insistência de Louçã na defesa de uma “economia transparente”, que faça concursos, bem como desvalorização feita pelo líder do BE do fim da recessão técnica, Sócrates saca do programa do BE para criticar a defesa de nacionalizações, que classificou logo de “estratégia clássica da esquerda radical”. Para afirmar que o investimento fugiria e que tais medidas não provocariam nem desenvolvimento nem combate ao desemprego. Mas Sócrates não desarma e, de programa do BE na mão, volta a questionar Louçã, agora sobre a política fiscal do Bloco e a proposta de fim dos benefícios fiscais, nos PPR, na Educação e na Saúde, medidas que atacam a classe média e que lesariam esta em mais de mil milhões de euros, garantiu. Pelo caminho lá garantiu que não aumentará impostos.
Louçã levou demasiado tempo a conseguir reagir. Ainda insistiu na crítica à privatização da GALP beneficiando Américo Amorim e José Eduardo dos Santos, mas lá acabou por tentar explicar que o fim dos benefícios fiscais fazem parte de um modelo diferente da organização económico-social que asseguraria a gratuitidade da Saúde e do Ensino.
Já sobre o desemprego, Sócrates repetiu que esta é a sua principal preocupação e lembrou a política de investimento público e de apoio às empresas para a criação de emprego, bem como que o emprego cresceu até 2008, ou seja, até à crise internacional. Salientando as políticas de apoio ao desemprego, afirmou que 90 mil desempregados são apoiados pelo Estado. Na resposta Louçã acusou-o de “até ao ano passado” ter reduzido o investimento público. E rematou afirmando que “os números não mostram a realidade”.

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