domingo, 25 de outubro de 2009

Socialistas católicos mobilizam-se contra casamentos gay e querem referendo
(Público) 24.20.09 Filomena Fontes
Cláudio Anaia, porta-voz do grupo, diz que o PS de Sócrates anda a reboque do BE e "ideologicamente baralhado"
A pobreza e o combate à crise devem estar no topo da agenda do Governo do PS e não o casamento entre homossexuais. É com base neste premissa que um grupo de católicos, que militam no PS, se estão a mobilizar para uma verdadeira campanha contra a legalização dos casamentosgay, uma das promessas eleitorais que José Sócrates, já depois das eleições, reiterou publicamente que fará avançar nesta legislatura.
Para já, deverá ser criado, esta semana, umsite na Internet, em articulação com outras organizações partidárias e movimentos de cidadãos, para funcionar como um fórum de debate sobre o tema. Mas que poderá constituir-se como uma plataforma de angariação de contactos para o objectivo que estes socialistas católicos têm na forja: a recolha de 75 mil assinaturas com vista à realização de um referendo.
"Defendemos que a realização de um referendo é essencial por uma questão de justiça, porque estamos convencidos que a Assembleia da República corre o risco de aprovar uma lei com a qual a maioria dos portugueses não concorda", explica o porta-voz do grupo de socialistas católicos, acrescentando que aguardam apenas "por sinais concretos" dos partidos com representação parlamentar quanto ao sentido de voto para desencadear o processo de recolha de assinaturas. Em dúvida, diz, está a posição que o PCP poderá eventualmente adoptar e que, em conjugação com votos do PSD e do CDS-PP, poderá travar o diploma no Parlamento. "O PS está a ir a reboque do BE, está ideologicamente baralhado. Ser de esquerda é trabalhar contra a fome e a pobreza, é combater a crise", argumenta.
Consciente de que a proposta de legalização dos casamentogay constava do programa eleitoral do PS - foi sufragado pela maioria dos portugueses nas legislativas de Outubro -, Cláudio Anaia sustenta que a questão divide os socialistas e que o voto de grande parte dos eleitores não é determinado pela concordância com os programas dos partidos, "que, muitas das vezes, ninguém lê". "Há muita gente que se opõe à legalização do casamento entre homossexuais, mas o mais importante é que os que o defendem estão a mentir quando dizem que será vedada a adopção de crianças. Hoje em dia basta o casamento ser reconhecido por lei para haver direito à adopção", adverte este dirigente socialista e membro honorário da JS, que jura nada ter a opor ao regime de uniões de facto entre pessoas do mesmo sexo. "Coisa diferente é o casamento", insiste. Dito isto, Anaia conclui que não se trata de "uma causa fracturante, mas aberrante".
A ofensiva deste sector católico dos socialistas não é inédita (já se tinham destacado no combate à legalização da interrupção voluntária da gravidez), mas torna-se pública num momento em que a Igreja se prepara, também, para tomar uma posição sobre o assunto. Ontem, oDiário de Notícias avançava que o tema poderá ser discutido pelos bispos portugueses, na reunião que decorrerá entre os dias 9 e 12 de Novembro em Fátima. Isso mesmo foi admitido pelo porta-voz da CEP (Conferência Episcopal Portuguesa), Manuel Morujão. Ressalvando embora que a questão não está agendada, foi dizendo que o tema poderá ser discutido "no contexto da realidade social em que vivemos".
Ao PÚBLICO, Claúdio Anaia afasta qualquer concertação de esforços com a hierarquia católica, ainda que deixe claro que "a Igreja deve tomar posição". Algo que já aconteceu e que motivou o desencontro público com dirigentes do PS quando, em Fevereiro deste ano, em vésperas do congresso socialista, o porta-voz da CEP advertia os católicos para a proposta de casamento entre homossexuais contida na moção de José Sócrates.

5 comentários:

AM disse...

Mais um assunto que o Pedro coloca assim, sem comentários...

Será que não tem opinião? Não acredito

Será que não pretende tomar posição?

Será que entende manter reservadas a sua opinião e a sua posição?

Mas então...

Qual o objcetivo do blogue?

Abraço curioso

António Moreira

Pedro Baptista disse...

O objectivo é oubvir a sua opinião, caro AM. A minha, toda a gente que me conhece minimamente sabe ou suspeita de qual é.Além de que não pretendo, num caso destes, condicionar os outros comentadores, tornando a minha opinião e não o assunto tema de debate. Um Abraço, Caríssimo António Moreira.

AM disse...

Boa Tarde Pedro Baptista.

Calculei que parte da justificação tivesse a ver com a sua preocupação de não condicionar outros comentadores, o que, sendo compreensível, é também algo revelador (por aí me quedo) :)

Quanto a ouvir a minha opinião, caro PB, nada mais simples e desconfio que não tem qualquer dúvida de qual ela é, por isso resumo-a apenas a uma questão (como se eu não soubesse a resposta...):

Que é que essa gente (...um grupo de católicos, que militam no PS) está a fazer no PS?

Ironizando é quase como falar de: ... um grupo de intelectuais, que militam no PSD, ou ... um grupo de gente séria, que milita no CDS, etc. etc.

Nota: Para os descrentes (em mim claro) faço questão de reafirmar que considero ter sido Guterres o melhor PM que Portugal teve, e, em circunstâncias iguais, voltaria sem dúvida a votar Pintassilgo para a presidência da república (isto apesar da sua fé, e de, se calhar, serem benfiquistas o que é igualmente grave).

saia de lá a porreta

Um abraço
António Moreira

Pedro Baptista disse...

Estamos de acordo, caro António Moreira. A minha posição é similar. Tendo todo o sentido que haja muitos católicos no PS, não faz nenhum sentido que se organizem como grupo, porque a convicção religiosa, pelo menos no PS, é do foro íntimo, pessoal e individual de cada um.
Penso ainda que havendo todo o espaço para católicos no PS - penso mesmo que a maioria dos socialistas como dos portugueses se declaram "católicos" - não tem sentido virem para o PS assumirem as posições mais conservadoras, a roçarem o reaccionárias, como neste caso.
Tendo sempre sido muito crítico do ex-governo liderado por Sócrates, estou inteiramente com ele nesta matéria. No PS a questão não divide católicos de agnósticos, ateus, protestantes ou budistas, mas sim conservadores de progressistas, para não aprofundarmos mais.
Que a sociedade consagre e institucionalize a liberdade de cada um ser feliz da maneira que escolher sê-lo, ou seja, da maneira que o for!
E descansem: em princípio nenhuma pessoa do mesmo sexo vai pedir um destes católicos socialistas em casamento. De forma que deixem... não pizem o pé dos outros!

AM disse...

Caro Pedro Baptista

Ainda bem que estamos de acordo (desta vez) :)

Parece é que afugentei(amos) quem, eventualmente, sendo católico e socialista, tivesse vontade de aqui defender outra posição...

A não ser que por aí ainda apareça o amigo Pedro Aroso, que julgo ser uma e outra coisa...

Boa Noite
António Moreira