quinta-feira, 26 de novembro de 2009

UMA CRISE SEM PRECEDENTES
Por Pedro Baptista
A verdade é que é o núcleo duro de amigos e confidentes políticos do Presidente da República, mais o núcleo duro de amigos e confidentes políticos do Primeiro-Ministro, que estão em causa na indiciação e acusação de crimes gravíssimos de assalto ao interesse e ao erário públicos. Além das suspeições que ficam na opinião pública sobre as próprias pessoas das entidades políticas referidas. A agravar e complicar a situação, estes dois pilares institucionais correspondem aos dois maiores partidos portugueses, componentes de um Bloco Central apto para funcionar e compensar-se nas diversas vertentes dos seus interesses nomeadamente para o silenciamento dos factos incómodos ou para o desvio das atenções.
Podemos iludir-nos clamando no pasa nada, mas a verdade é que estamos numa gravíssima crise institucional moral e política da República, de longe a pior, desde 1976. Bem pior do que a que se expressa nos media.
Para ajudar, passa a ideia que, no topo da Justiça, as coisas não se passam no sentido de serem exercidas as respectivas competências com a clareza e determinação que uma situação destas imporia, o que gera um sentimento de impotência nos cidadãos, altamente desmotivador e corruptor, que terá, necessariamente, consequências desastrosas a prazo.
Sentimento de impotência que se agrava quando todos percebem que é necessária uma profunda reforma da República, mas que não será quem detém os poderes que a fará, porque não a fez, porque já mostrou que o seu objectivo principal é aguentar-se nos poderes e, quando muito, mudar alguma coisa para tudo ficar na mesma.
E quando a indignação não tem consequências nos canais próprios tende a explodir pelos mais impróprios e imprevisíveis.
Ainda por cima, nem a situação económica ajuda um bocadinho, antes pelo contrário. Estamos a chegar à pior dívida pública de sempre o que terá consequências terríveis a nível de um (ainda) maior estrangulamento da nossa economia, porque mais mês menos mês, aberta ou veladamente, sobrecarregarão ainda mais as empresas e os cidadãos com impostos, quando se desejaria precisamente o contrário.
Crise económico-financeira em cima do terreno de degradação moral e de suspeição em relação aos poderes insitucionais é a pior mistura que poderiam arranjar, para entrar no Centenário da República.
Ainda assim, esperemos que o Centenário sirva para discutir isto e tentar agir em conformidade no sentido de uma reforma moralizadora do sistema político. Mas é difícil aos eurodeputados atolados em euros perceberem estas crises. Muito menos aos do Parlamento que, na maioria, foram lá parar pelos caminhos espúrios da própria degradação da vida partidária, como prémio da subserviência aos directórios partidários, ou seja, da sua inutilidade. Muito menos de todos os outros.

3 comentários:

Anónimo disse...

Gosto de ler estes teus textos.
Curtos
Críticos
Concisos

Podias publicar disto mais vezes, em vez daquelas frases breves mas só para bons entendedores.

RENATOGOMESPEREIRA disse...

Pedro Baptista

A República não tem culpa de "pequenos" Reizinhos se quererem intalar nos "pequeninos" Tronos deste Portugal dos "pequeninos"...

Pedro Baptista disse...

Pois não. Mas é posta em causa, como é normal que seja com uma república de reis.