quarta-feira, 25 de junho de 2008

Patriarca e Grão-Mestre da Maçonaria querem história comparada das religiões


25.06.2008, António Marujo (Público)
Há um longo caminho a fazer no sentido do conhecimento mútuo entre religiões, disse o cardeal-patriarca. Há um fenómeno crescente de incultura e analfabetismo religioso, acrescentou o grão-mestre do Grande Oriente Lusitano (GOL). Por isso, justificou António Reis, a história comparada das religiões deveria ser "ensinada na escola pública". A ideia, retomada por Mário Soares, foi proposta por ambos no colóquio internacional sobre O contributo das religiões para a paz. Durante dois dias, destacados líderes e investigadores das religiões estiveram reunidos em Lisboa.Soares, que preside à Comissão da Liberdade Religiosa (CLR), mostrou-se atento ao acolhimento positivo da sugestão de D. José Policarpo na abertura do colóquio, anteontem de manhã. "Apesar de Portugal ser um país de maioria católica, há uma enorme ignorância dos portugueses em relação às questões religiosas, incluindo da própria religião católica", afirmou o presidente da CLR. E uma tal disciplina seria "um contributo importante para o multiculturalismo". Por isso, a comissão irá estudar o assunto e propor alguma decisão ao Governo, se os seus membros o entenderem. Antes, o grão-mestre do GOL, António Reis, considerou "escandalosa" a ignorância em matéria de religião. Já no debate, esclareceu que falava de uma disciplina complementar da já existente. Há alguns anos, o actual director da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, Peter Stilwell, fizera a mesma proposta. Ontem, Reis considerou que o analfabetismo religioso "é tanto mais preocupante quanto é certo que a nossa sociedade é cada vez mais multicultural e que conhecer o outro é essencial para conviver" em tolerância. Sobre a laicidade, tema do debate da manhã, António Reis defendeu que ela é um "princípio fundamental da liberdade religiosa", mas não deve ser tomada "como bandeira ideológica de grupos de cidadãos". "Pode haver não-crentes e ateus muito mais anti-laicos do que alguns crentes. São os que pretendem fazer do seu ateísmo uma ideologia do Estado", afirmou. A ideia de laicidade, sublinhou, não é património apenas de ateus, agnósticos ou não-crentes. Nem a pertença a uma confissão religiosa tem que ser anti-laica. Na mesma linha, o Estado laico "não é crente, não é descrente, não é anti-crente, mas acrente". O grão-mestre disse que se opõe a "certas práticas radicais do Estado laico". Citou a proibição do véu islâmico nas escolas decretada em França ou o uso de símbolos religiosos ou não-religiosos. "Proibir é tão grave como obrigar", disse. Mas advogou o direito a criticar as religiões, como no caso das caricaturas de Maomé. António Reis afirmou ainda que "seria uma discriminação inaceitável" o Estado proibir qualquer manifestação pública das religiões, confinando-as ao seu espaço interno. Com isso, o Estado "estaria a limitar a liberdade de expressão". Reis fez uma espécie de mea culpa em relação à I República: "Houve evidentes exageros" na aplicação e nalguns dispositivos da Lei de Separação de 1910. "Uma confissão religiosa livre num Estado neutro deve ser o princípio a respeitar. O que se passou na I República foi mais uma Igreja suspeita num Estado vigilante. "No mesmo debate, participou o historiador italiano Agostino Giovagnoli, membro da Comunidade de Santo Egídio, grupo católico que mediou o processo de paz de Moçambique. Giovagnoli defendeu a colaboração entre crentes e não-crentes para decidir sobre as várias questões alvo de contestação religiosa: "Há a necessidade de mais religião e mais laicidade e da contribuição do maior número possível de crentes e não-crentes."

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