terça-feira, 24 de junho de 2008

"Soares dos Reis" deixa Firmeza 80 anos depois

24 Junho 2008 (JN) Carla Sofia Luz
Os 124 anos de história da Escola Artística de Soares dos Reis, no Porto, são percorridos por um desejo: ter instalações adequadas. A ambição cumprir-se-á no próximo ano lectivo com a mudança da velha fábrica da Firmeza para Fernão Magalhães.
A poucas semanas do final do ano, num momento em que as salas de aulas são tomadas por estudantes em exames, prepara-se a despedida 80 anos depois da ocupação do edifício da "Real e Imperial Chapelaria a Vapor", na Rua da Firmeza. Há materiais já encaixotados a aguardar pela mudança para as instalações da extinta Escola Secundária de Oliveira Martins, localizada na Rua do Major David Magno, paralela a Fernão Magalhães. O imóvel existente foi reconvertido, tendo sido construído ainda um novo edifício. No próximo dia 28 (às 14.30 horas), há um encontro de antigos professores, alunos e funcionários.
Pessimista confesso, o presidente do Conselho Executivo da escola, Alberto Teixeira, encara a partida com uma "centelha de optimismo". "É a primeira vez que a escola tem um edifício pensado para ela. Penso que corresponde às expectativas actuais e pode dar resposta ao desenvolvimento futuro do Ensino Artístico", sublinha o professor. O espaço na Firmeza, ampliado ao limite, obriga à recusa anual de mais de 100 jovens que pretendem ingressar na 'Soares dos Reis'. As novas instalações terão lugar para eles.
O imóvel, que de fábrica de chapéus passou a escola artística, conquistará nova vocação: albergará o hotel e a Escola de Hotelaria do Porto. Até Agosto, parte do edifício será encerrada para iniciarem-se as obras de reconversão. "É um digno aproveitamento do edifício. No fundo, permanecerá uma escola", continua.
Nascida em 1884 por pressão dos industriais do Porto e apesar das diferentes designações (Escola Industrial de Faria de Guimarães, Escola de Artes Decorativas e, finalmente, Escola Artística de Soares dos Reis), a 'Soares dos Reis' não perdeu a aptidão de formar alunos para a actividade profissional. No entanto, com o passar dos anos e com o surgimento de novas formações superiores, são poucos os jovens que, concluído o 12º ano, optam entrar no mercado de trabalho.
Com 600 alunos a estudar de dia e 200 à noite que vêm dos distritos do Porto e de Aveiro, Bragança e Alto Minho, a maioria segue estudos. Muitos ingressam nas Belas Artes. Outros, sobretudo os da área multimédia, procuram formações complementares no Reino Unido. "No tempo da Escola Faria Guimarães, formavam-se jovens ao nível do bacharelato. Hoje, se uma fábrica precisar de alguém na área de design, vai buscá-lo ao instituto superior. Somos mais do que Ensino Secundário, mas não somos Ensino Superior", adianta. Com o dobro do espaço para crescer, o Conselho Executivo da única escola artística do Norte quer reforçar a proximidade ao tecido empresarial.
A partir de Setembro, aumentarão o número de turmas de 10º ano (de oito para 12) e será reformulado o ensino nocturno com uma oferta mais adequada a adultos. Nas novas instalações, será possível abrir cursos profissionais vocacionados para o mercado de trabalho na área artística, nomeadamente de Restauro, de Design Têxtil e de Joalharia. "São três turmas que queremos abrir", especifica ainda. E já haverá espaço físico para que o curso de multimédia tenha, também, a vertente de som, até agora inexistente. Para um futuro próximo, soma-se a vontade de criar cursos livres abertos à comunidade e cursos de especialização tecnológica.
Trata-se de uma "formação muito específica numa determinada área" pós 12º ano que pressupõe umaligação a instituições do Ensino Superior. "É uma espécie de estágio. Queremos investir para os alunos que chegam ao 12º ano e sentem que não estão preparados para o mundo de trabalho", concretiza. Quando toda as valências existirem, a 'Soares dos Reis" terá mais de mil alunos.

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