sexta-feira, 27 de novembro de 2009

(CM) 22.11.09 Entrevista a José António Saraiva
"Não falimos por um milagre”
José António Saraiva, director do semanário ‘Sol’, revela ao CM que o Governo o pressionou para não publicar notícias do Freeport e que depois passou aos investidores.


Correio da Manhã – O ‘Sol’ foi coagido pelo Governo para não publicar notícias do Freeport?

José António Saraiva – Recebemos dois telefonemas, por parte de pessoas próximas do primeiro-ministro, dizendo que se não publicássemos notícias sobre o Freeport os nossos problemas se resolviam.

– Que problemas?

– Estávamos em ruptura de tesouraria, e o BCP, que era nosso sócio, já tinha dito que não metia lá mais um tostão. Estávamos em risco de não pagar ordenados. Mas dissemos que não, e publicámos as notícias do Freeport. Efectivamente uma linha de crédito que tínhamos no BCP foi interrompida.

– Depois houve mais alguma pressão política?

– Sim. Entretanto tivemos propostas de investimentos angolanos, e quando tentámos que tudo se resolvesse, o BCP levantou problemas.

– Travou o negócio?

– Quando os angolanos fizeram uma proposta, dificultaram. Inclusive perguntaram o que é que nós quatro – eu, José António Lima, Mário Ramirez e Vítor Rainho – queríamos pa-ra deixar a direcção. E é quando a nossa advogada, Paula Teixeira da Cruz, ameaça fazer uma queixa à CMVM, porque achava que já havia uma pressão por parte do banco que era totalmente ilegítima.

– E as pressões acabaram?

– Não. Aí eles passaram a fazer pressão ao outro sócio, que era o José Paulo Fernandes. E ainda ao Joaquim Coimbra. Não falimos por um milagre. E, finalmente, quando os angolanos fizeram uma proposta irrecusável e encostaram o BCP à parede, eles desistiram.

– Foi um processo longo...

– Foi um processo que se prolongou por três ou quatro meses. O BCP, quase ironicamente, perguntava: "Então como é que tiveram dinheiro para pagar os salários?" Eles quase que tinham vontade que entrássemos em ruptura financeira. Na altura quem tinha o dossiê do ‘Sol’ era o Armando Vara, e nós tínhamos a noção de que ele estava em contacto com o primeiro-ministro. Portanto, eram ordens directas.

– Do primeiro-ministro?

– Não temos dúvida. Aliás, neste processo ‘Face Oculta’ deve haver conversas entre alguns dos nossos sócios, designadamente entre Joaquim Coimbra e Armando Vara.

– Houve então uma tentativa de ataque à liberdade de imprensa?

– Houve uma tentativa óbvia de estrangulamento financeiro. Repare--se que a Controlinveste tem uma grande dívida do BCP, e portanto aí o controlo é fácil. À TVI sabemos o que aconteceu e ao ‘Diário Económico’ quando foi comprado pela Ongoing – houve uma mudança de orientação. Há de facto uma estratégia do Governo no sentido de condicionar a informação. Já não é especulação, é puramente objectiva. E no processo ‘Face Oculta’, tanto quanto sabemos, as conversas entre o engº Sócrates e Vara são bastante elucidativas sobre disso.

– Os partidos já reagiram e a ERC vai ter de se pronunciar. Qual é a sua posição?

– Estou disponível para colaborar.

5 comentários:

Miguel Castro disse...

O conteúdo desta entrevista não é grave, é gravissimo!!! A ser verdade, trata-se de um dos maiores ataques à democracia, à liberdade de imprensa e ao Estado de Direito, desde o 25 de Abril. O País começa a tornar-se um verdadeiro pántano e poucos parecem realmente preocupados com esse facto...

Anónimo disse...

O Teixeira conhece-te bem
Tens a protecção que pensam mereceres.
O PS está como está porque há muitos infiltrados e oportunistas.

Anónimo disse...

O que é que este último comentário tem que ver com a entrevista? É mesmo de quem já não sabe o que dizer.

Anónimo disse...

Porque a pedido do Castro o anterior comentário foi retirado.
Só quem serve o chefe é que pode comentar.

Miguel Castro disse...

Enfim... há pessoas que não têm a mais pequena noção do quão ridículas conseguem ser! Desta vez vou responder, sem que sirva de exemplo, a este “cobardezito” que aqui vem insultar e fazer insinuações sem ter sequer a dignidade de se identificar.

Para começar, não sei que confiança dei a um “paspalho” qualquer como você para me tratar por “Castro”, mas se isso o deixa feliz…

Depois, nem sequer vi o comentário anterior, pelo que dizer que foi retirado a meu pedido é risível. Além do mais, quem conhece o percurso do Doutor Pedro Baptista, bem sabe que não é propriamente homem de ceder a pressões. Acresce que, palavras de ignorantes têm apenas o dom de me divertir e pouco mais, tome consciência disso.

Bem sei que deve estar habituado à terminologia de subserviência com que nos brindou nesta última intervenção, típica, aliás, dos incapazes de pensar pela sua cabeça, mas as pessoas decentes não se servem umas às outras, nem umas das outras. Apoiei o Pedro Baptista nas eleições para a Distrital do PS/Porto por ser, de longe, o melhor candidato e fá-lo-ia hoje com mais convicção ainda. O tempo deu-me razão nessa matéria! Quem tiver dificuldade em engolir isso, que coma um bocadinho de pão e beba um “caneco”. Quanto ao blogue, não o leio nem nele participo para agradar a quem quer que seja, mas porque é realmente interessante e sintetiza com grande eficácia todas as notícias com relevância (em especial na área politica).

Quem me conhece bem, sabe que não estou à venda por um emprego ou um cargo, nem compactuo com criminosos, portanto, a pessoa de quem fala está longe de me conhecer bem.

Para terminar, numa coisa concordo consigo, “o PS está como está porque há muitos infiltrados e oportunistas”, pessoas muito limitadas que dependem profissionalmente da actividade, sem a qual seriam incapazes de se governar e ajudar os amigos a governar-se.

Já agora, pode escrever o que quiser daqui por diante, que não lhe darei mais “trela”. Bem sei que a fase não é boa, chove muito, a vontade de sair de casa é pouca e está prestes a cair um raio para esses lados, mas sabe, ainda nem entramos em Dezembro e convém guardar energia para o resto do Inverno, porque lhe garanto, o mau tempo ainda só agora começou.

“A verdade sempre prevalecerá!”